O executivo de finanças Fábio Freitas não faz parte da turma do pão. Nunca se aventurou a criar um levin ou lutou com o ponto certo de hidratação da farinha para chegar a alvéolos perfeitos.

Ainda assim, decidiu, em 2015, abrir com a esposa Thais Cerdeira, a primeira padaria móvel do Brasil, a Sagrado Boulangerie. Um food truck de 20 metros quadrados que rodava todos os dias por Alphaville e arredores vendendo pão fresco praticamente na porta das pessoas.

A ideia inovadora deu tão certo que, em apenas quatro meses, cinco unidades móveis já se revezavam pelas ruas e condomínios da região para atender toda a demanda. “A expectativa era que o R$ 1,5 milhão investido nesse início se pagasse em 18 meses, mas acabou sendo em seis”, diz Freitas ao NeoFeed.

O resultado validava a aposta com risco calculado de entrar em um mercado voltado à comercialização de um alimento básico, com fluxo de venda diário e que, mesmo com a pandemia, apresentou faturamento de R$ 91,9 bilhões em 2020, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip).

Em 2017, com uma nova central de produção inaugurada era hora de avançar nos planos e criar um modelo de franquia para expandir a Sagrado. Foi aí que surgiu a oportunidade de estar frente a frente com o empresário João Appolinário, fundador da rede varejista Polishop, no programa Shark Tank Brasil (Sonny Channel).

“Era a chance de conseguir capital para a expansão da marca e de quebra dar maior visibilidade ao negócio”, conta o empresário, que saiu da edição com a promessa de investimento de R$ 2,75 milhões, por 30% da empresa. Acabou levando, até o início de 2020, R$ 1,87 milhão, por 34% da marca.

A rede conta com cinco food trucks

“Ele fez os aportes necessários de acordo com as necessidades do momento, mas como o negócio já estava decolando bem, optamos por estancar a entrada de capital e reduzir a participação dele”, explica Freitas, sem dar muito detalhes da relação atual com o sócio famoso.

Indagado pelo NeoFeed sobre a sociedade, Appolinário, hoje um investidor em série, diz que seu principal objetivo, quando entra em uma startup, é fazer com que ela cresça e que permaneça sempre na mão do fundador. "Estou muito feliz com o crescimento da Sagrado, a empresa hoje anda sozinha e o meu interesse não é diluir o fundador. Por isso, não injetamos mais capital", afirma Appolinário.

Fato é que, pouco mais de um ano após o encontro e um período de consultoria com Marcelo Cherto, um dos fundadores da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o projeto de franquias finalmente saiu do papel com a inauguração da primeira loja móvel em Sorocaba, onde em janeiro deste ano também foi inaugurada a primeira unidade no modelo de contêiner.

“Ao longo desses anos entendemos que o modelo de conveniência é secundário, por isso estamos apostando muito nessa nova opção. Ele é um mix entre as duas propostas que tínhamos, com custos mais leves e maior potencial de rentabilização fácil”, diz o empresário.

Para se ter uma ideia, a franquia de uma loja física da Sagrado, com no mínimo 70 metros quadrados e capacidade para receber os mais de 70 produtos da linha de panificação e confeitaria, além outros itens de fabricação própria, como geleias e antepastos, demanda atualmente investimento de R$ 380 mil de Capex. A promessa de faturamento nesse modelo é de R$ 100 mil por mês.

Já os food trucks custam R$ 170 mil, com receita média de R$ 35 mil por mês, mas não têm espaço para abrigar os itens de confeitaria ou oferecer serviços como o preparo de lanches. Intermediário, o modelo de contêiner sai por R$ 240 mil, com perspectiva de faturar R$ 75 mil por mês com a linha de viennoiserie e pães – que respondem por 60% do faturamento da rede –, itens de confeitaria (responsáveis por 25% do faturamento global) e a necessidade de equipe reduzida.

São 13 lojas físicas espalhadas pelos bairros de São Paulo

Hoje, a rede conta com 19 unidades, sendo 13 lojas físicas espalhadas por diferentes bairros de São Paulo, Guarulhos, Barueri, Avaré, São Bernardo do Campo e Rio de Janeiro, cinco food trucks e um contêiner, que juntos consomem 15 toneladas de farinha por mês na fábrica de 450 metros quadrados, em Alphaville.

“Ser um serviço classificado como essencial nos ajudou a crescer durante a pandemia. 2021 foi o ano que mais abrimos lojas”, diz Freitas, que já tem agendado para março a inauguração de duas novas lojas, uma em São Joé do Rio Preto e outra em Dourados (MS).

“Já tenho mais três contêineres encomendados e outras cinco lojas em negociação. A perspectiva é fechar 2022 com mais 12 contratos, incluindo Minas Gerais, Campo Grande e Curitiba no nosso perímetro de alcance”, completa ele, que desta forma deverá atingir a capacidade limite da unidade de produção até o fim do ano. Mas os planos de futuro são ainda mais ambiciosos. Até 2024 a rede quer contar com 140 lojas, e, chegar a mil unidades nos próximos dez anos.