Em março de 2005, o Flickr foi vendido ao Yahoo, que assinou um cheque de US$ 25 milhões pelo site de compartilhamento de fotos, criado um ano antes. Na quarta-feira, 2 de dezembro, a plataforma de comunicação Slack, fundada em 2013, foi arrebatada pela Salesforce, por US$ 27,7 bilhões.

Pouco mais de 15 anos e muitos bilhões de dólares separam esses acordos. Um nome, porém, une as aquisições: Stewart Butterfield, o empreendedor de 47 anos, responsável pela fundação das duas startups.

O apetite da Salesforce para incorporar a Slack e fazer frente a Microsoft na área de aplicações corporativas em computação em nuvem dominou as notícias sobre a transação, uma das maiores da história do mercado mundial de software.

Com todos os holofotes apontados para o acordo, pouco se falou sobre Butterfield, que seguirá no comando da Slack. Mas o fato é que o empreendedor, que começou sua trajetória no início dos anos 2000, no auge das empresas pontocom, merece um capítulo à parte.

Até aqui, a Slack é o ponto alto dessa carreira. A startup alcançou uma avaliação de US$ 1 bilhão menos de um ano depois de ser fundada e captou US$ 1,4 bilhão de fundos como o Accel Partners. Em 2019, a novata protagonizou um dos principais IPOs do setor, quando foi avaliada em US$ 15,7 bilhões.

Mas, antes de chegar à Bolsa de Nova York e atrair a atenção de Marc Benioff, CEO e cofundador da Salesforce, Butterfield percorreu um longo caminho. Filho de um americano que saiu do país após ser convocado para o exército, na época da Guerra do Vietnã, ele nasceu em Lund, uma antiga vila de pescadores na Colúmbia Britânica, uma província canadense.

Sem água corrente e eletricidade, o local abrigava uma comunidade hippie. Esses “luxos” só passaram a fazer parte da vida do menino quando ele tinha cinco anos e a família se transferiu para Victoria, a capital da província. Aos 12 anos, outra mudança. Ele trocou o nome de batismo, Dharma, por Stewart.

Em Victoria, ainda adolescente, ganhou seu primeiro computador, um Apple II, onde aprendeu a programar sozinho. A habilidade lhe rendia um dinheiro extra quando, anos mais tarde, se virava como web designer enquanto cursava filosofia na universidade local.

Depois de se formar, no ano 2000, uma viagem a São Francisco despertou em Butterfield duas paixões. A internet e Caterina Fake, com quem se casou, dois anos depois. Antes, porém, o casal e o amigo Jason Classon fundaram a Ludicorp, uma startup de games online.

A novata, que tinha como carro-chefe um título chamado Game Neverending, teve dificuldade para passar de fase no Vale do Silício. Mas quando a empresa caminhava para o fracasso, um recurso do jogo, de compartilhamento de imagens, deu origem ao Flickr.

O site foi um dos pioneiros em muitos dos recursos hoje comuns em aplicativos e mídias sociais, como o compartilhamento de imagens na nuvem e a possibilidade de marcar pessoas em fotos. Com a aquisição pelo Yahoo, Butterfield, que ainda vivia em Victoria, seguiu na operação e se mudou para São Francisco.

Inquieto, ele não ficou por muito tempo na nova casa. Três anos depois, Butterfield deixou o Yahoo, decepcionado com a falta de perspectivas na empresa. A volta a Victoria marcou também seu retorno ao mundo dos games, com a fundação da Tiny Speck, que passou a se dedicar ao desenvolvimento do jogo Glitch.

Novamente, porém, a startup não decolou. Mas, coincidência ou não, assim como na origem do Flickr, um dos recursos do game, uma ferramenta de comunicação, acabou inspirando a fundação da Slack. Agora, só o tempo dirá se, na Salesforce, Butterfield se sentirá em casa. Ou se, passado algum tempo, estará de volta ao jogo.

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