No mês de dezembro, o empresário Rubens Menin teve muito o que comemorar. No dia 2, o Atlético Mineiro, o seu time do coração, venceu o Bahia e se sagrou campeão brasileiro, depois de 50 anos. Treze dias depois, ao bater o Club Athletico Paranaense, o Galo levantou mais uma taça. Dessa vez, a Copa do Brasil.
Mas o dono da construtora MRV, do Banco Inter, da empresa de galpões logísticos Log Commercial Properties e do canal de notícias CNN está levantando também outras taças há pelo menos três anos. Em 2018, Menin uniu-se ao brasileiro Cristiano Gomes, que mora em Portugal, para comprar duas propriedades vizinhas no vale do rio Douro, a Quinta da Costa do Sol e a vizinha Quinta do Caleiro. Foi assim que surgiu a Menin Wine Company (MWC).
"Sempre fui um apreciador apaixonado pelo mundo do vinho. Quando o Cristiano Gomes se mudou para Portugal e conversávamos sobre vinhos e regiões portuguesas, tivemos a ideia de estudar este mercado frente às diversas regiões de referência no Velho Mundo”, diz Menin, ao NeoFeed. “E concluímos que o Douro tem já uma qualidade comparável àquelas e ainda é economicamente promissor pelo preço pedido por ótimos vinhedos.”
Colocar o sobrenome da família na vinícola indica que não se trata de um investimento volátil. Ao contrário. Como seu principal vinho traz no nome, Douro’s New Legacy Reserva 2018, a ideia é criar um legado na região do Douro, que foi a primeira denominação de origem para vinhos, criada em 1756 pelo Marquês de Pombal.
Desde então, Menin não para de investir na região. No Cima Corgo, sub-região considerada a mais nobre do Douro, a MWC arrematou duas quintas vizinhas, a Quinta da Costa do Sol e a Quinta do Caleiro, totalizando 72 hectares às margens do rio Douro. A grande joia da propriedade é uma parcela de 11 hectares com vinhas centenárias, onde mais de 60 variedades distintas estão plantadas de forma aleatória no vinhedo.
Em abril de 2021, a MWC adquiriu também a vinícola Horta Osório, marca com mais de dois séculos na produção de vinhos no Douro e que possui 55 hectares de vinhedos na sub-região do Baixo Corgo, região com boa vocação para tintos e brancos (em especial em altitudes mais elevadas).
Com vinhedos já bem conduzidos e em produção e com instalações de primeira linha na adega para vinificação foi possível manter a presença dos vinhos no mercado sem rupturas. O destaque é o varietal feito com a casta pouco comum Sousão, conhecida por aportar coloração intensa e profunda aos vinhos aliada à marcada acidez.
Até o momento foram investidos cerca de 30 milhões de euros na aquisição e recuperação das vinhas e adega, totalizando 140 hectares. “A região do Douro é magnifica e espero continuar meus investimentos no mundo do vinho aqui no Douro”, diz Menin, que admite concentrar todo seu investimento no setor vitivinícola na região portuguesa, sem perder o foco.
A meta é chegar a 400 hectares até 2025, exclusivamente no Douro. Algumas lacunas devem ser brevemente preenchidas, como a de ter vinhedos no Douro Superior (a única das três sub-regiões do Douro que ainda não está presente) e entrar na produção de vinhos do Porto.
O responsável produzir os vinhos da Menin Wine Company é o enólogo João Rosa Alves. “Quando assumimos as quintas do Cima Corgo havia muito trabalho a ser feito nos vinhedos, principalmente para recuperar as falhas nas vinhas velhas, onde algumas videiras não resistiram ao abandono ou já não se encontravam produtivas”, diz Alves.
Nesta propriedade nascem os vinhos da Menin Wine Estates. A vinícola onde os vinhos serão vinificados ainda está em fase final de construção e por isso a linha de produtos ainda está em desenvolvimento. Por hora apenas brancos e tintos são produzidos.
A grande estrela é o já mencionado Douro’s New Legacy 2018, um vinho irrepetível, segundo o enólogo, pois a ideia inicial era apenas fazer uma vinificação experimental dos microlotes daquela vinha centenária.
Uma vez vinificada fez-se uma seleção das barricas, através de degustação, o que inviabiliza a reprodução de quais partes do vinhedo foram utilizados para compor o blend do vinho, que ainda recebeu 40% de Touriga Franca, de uma parcela com 45 anos de idade.
Todos os vinhos da Menin Wine Estates chegaram ao mercado em 2021. O Douro’s New Legacy 2018 deve custar cerca de R$ 2 mil no Brasil e 600 das 3.625 garrafas produzidas devem chegar ao nosso mercado. A posição de vinho ícone da vinícola deve ser batizado com o nome da esposa de Menin, Beatriz, valendo-se da ótima condição climática para a safra de 2021.
A estratégia de distribuição no Brasil também indica o ambicioso tamanho que se pretende alcançar. “Estudamos diversos modelos de importação para o Brasil e chegamos a negociar com alguns importadores”, diz Pedro Vitorino Melo, gestor da vinícola.
A decisão, no entanto, foi a de montar uma estrutura própria de importação e distribuição no Brasil, inspirados no trabalho feito pela Qualimpor, que pertence à família Roquette (Herdade do Esporão e Quinta dos Murças).
“Apesar de ser custoso montar uma estrutura de importação e vendas do zero, como nossos vinhos não são baratos, esta é a melhor forma para eliminar intermediários na cadeia e chegar a um preço justo ao consumidor final brasileiro”, diz Melo.
Ao ser questionado sobre os paralelos do vinho com sua outra paixão, o Atlético Mineiro, Menin diz que a Menin Wine Company é um negócio desafiador e que dá prazer. “Mas diferente da minha participação no Atlético Mineiro, onde contribuo na gestão do clube como pessoa física. Ali não é um negócio, é uma paixão” afirma Menin. A MRV é patrocinadora do time e vai dar nome à arena que o Atlético Mineiro está construindo.