Na Teoria da Evolução e no Vale do Silício, a seleção natural tem a ver com os organismos mais bem adaptados: vence aquele que se molda melhor e mais rápido ao meio. Diante de IPOs frustrantes, como os da Uber, Lyft e Peloton, e de outros frustrados, como o da WeWork, fundos de investimento estão tendo que (re)avaliar suas estratégias.
O Founders Fund, de Peter Thiel, foi o mais recente fundo de venture capital a assumir que está "recalculando a rota". De acordo com uma reportagem do The Wall Street Journal, a companhia está captando cerca de US$ 3 bilhões para o seu sétimo fundo de investimento, dos quais US$ 1,5 bilhão serão destinados a startups mais maduras, num movimento conhecido como growth investment.
A empresa de Thiel é famosa por apostar em startups em estágios iniciais, como parte dos recentes US$ 2,6 milhões que a PayMongo, uma solução de pagamento para empresas, levantou em setembro deste ano como seed money.
Outro exemplo são os US$ 15 milhões que o fundo de Thiel colocou, também em setembro, em uma rodada série A na ZenBusiness, uma iniciativa que promete facilitar a vida dos empreendedores junto a burocracias contratuais e tributárias.
Deixar "de lado" o interesse por empresas jovens foi mais uma imposição do que uma decisão. Thiel está seguindo os passos de outros grandes fundos de venture capital, como o Bessemer Venture Partners, que levantou US$ 1,8 bilhão em dezembro do ano passado para entrar no jogo do "growth investment", e o Andreessen Horowitz, que, em maio deste ano, captou US$ 2 bilhões para a sua estreia em late-stage fund – investimentos feitos em startups mais sólidas e maduras, como o Airbnb.
Alinhado aos demais players do mercado, o Founders Fund pode agora diversificar e empoderar seu portfólio, que já contempla investimentos bem-sucedidos, como SpaceX, Spotify, Facebook, o unicórnio brasileiro Nubank, entre outros exemplos.
Segundo o Crunchbase, o Founders Fund concluiu 485 investimentos, dos quais liderou 130 rodadas. Desses, 77 resultaram em saídas, seja por IPO ou por venda de ações.
O portfólio do Founders Fund contempla investimentos bem-sucedidos em empresas como SpaceX, Spotify, Facebook e Nubank
Fortuna e polêmica
Criado em 2005, o Founders Fund tem como gestor e sócio o polêmico Peter Thiel, cofundador do PayPal e um dos primeiros investidores do Facebook.
Com uma fortuna avaliada em US$ 2,5 bilhões pela Forbes, o empresário de 51 anos é um dos maiores apoiadores do governo de Donald Trump, tendo chegado, inclusive, a discursar na Convenção Republicana Nacional de 2016.
As críticas contra suas visões políticas no Vale do Silício foram tantas que o magnata trocou a área pela cidade de Los Angeles, onde fixou nova residência e escritório.
Nascido na Alemanha, Thiel mudou-se para os Estados Unidos com a família quando tinha apenas um ano de idade. Na Universidade de Stanford, o empresário cursou filosofia antes de conquistar seu diploma de direito.
Ainda na faculdade, tornou-se um exímio e premiado jogador de xadrez – esporte que lhe é útil ainda hoje, na parte estratégica.
E foi assim, calculando cada movimento, antecipando uma série de jogadas, que ele se tornou parte da equipe do Credit Suisse para levantar fundos e lançar a empresa que viria a mudar a sua vida e, de certa forma, a vida de muita gente também: o PayPal.
Vendido para o eBay em 2002 por US$ 1,5 bilhão, o negócio fomentou, direta ou indiretamente, outras grandes ideias de seus fundadores, como a Tesla, de Elon Musk; a fintech Affirm, de Max Levchin; e a própria Founders Fund, que tem Luke Nosek e Ken Howery como sócios e Peter Thiel como managing partner.
Mas o alemão não parou por aí. Hoje, por trás da Palantir, empresa "secreta" de análise e coleta de dados, e de outras startups tecnológicas disruptivas, Thiel não se esquiva das polêmicas e dispara contra o próprio setor, se preciso for.
Meses atrás, o empresário escreveu um artigo para o jornal The New York Times, acusando o Google de ser "anti-patriota" por trabalhar com os militares chineses. Chegou, inclusive, a sugerir que a empresa fosse investigada pela CIA, o órgão de inteligência dos Estados Unidos.
Apesar das reações contrárias e favoráveis, Thiel parece não se desfazer de seus argumentos em relação a este caso. Já no que diz respeito aos investimentos, mudar de opinião – e de direção – parece não ser difícil para o empresário e sua equipe de 17 pessoas. Procurados pelo NeoFeed, os executivos da Founders Fund não comentaram o assunto.
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