Cada vez mais a tese de que os Estados Unidos vai enfrentar uma recessão ganha força entre economistas e gestores, embora alguns grandes bancos acreditem que, se isso de fato ocorrer, será uma contração moderada. 

Quem acabou de se juntar ao grupo dos pessimistas com as perspectivas foi a Invesco, gestora de fundos com mais de US$ 1,4 trilhão em ativos sob administração. Isso porque, pela primeira vez desde fevereiro de 2020, indicadores criados pela Invesco para medir a temperatura da economia americana entraram no que a gestora chama “regime de contração”, segundo informações do site Marketwatch

No caso, eles mostram que o país está crescendo abaixo da tendência de longo prazo e a previsão é de que este ritmo desacelere ainda mais. 

Segundo a Invesco, em situações em que a economia entra em "regime de contração", os efeitos acabam sendo sentidos ao longo de sete meses, em média. Nesses períodos, o mercado acionário dos Estados Unidos apresenta uma queda média de 12% em relação aos títulos de dez anos do Tesouro americano. 

Ainda assim, mesmo diante do risco de recessão, a Invesco informou que os ativos financeiros não estão precificando este cenário, destacando que o baixo desempenho das ações em 2022 está praticamente em linha com a queda apurada nos títulos americanos de 30 anos. 

“De maneira geral, os mercados de ações e crédito não estão considerando a pressão adicional vinda do menor crescimento dos lucros esperado para um cenário recessivo”, disse Alessio de Longis, gestor sênior de portfólios e responsável por alocação tática de ativos da Invesco Investment Solutions. 

Diante das circunstâncias, a Invesco está adotando uma postura mais cautelosa em suas recomendações para alocação de recursos, preferindo títulos de dívida ao invés de ações. No caso da renda fixa, ela está indicando setores com perfil mais defensivo em relação ao ciclo econômico. 

O alerta soado pela Invesco se soma a outros feitos por economistas a respeito dos Estados Unidos. Durante sua passagem pelo Brasil em agosto, o ex-secretário do Tesouro americano, Larry Summers, afirmou que o combate à inflação deve levar o país a uma recessão nos próximos 18 meses. 

Nouriel Roubini é ainda mais pessimista. Conhecido por ser um dos poucos que conseguiu antever a crise financeira de 2008, ele afirmou em julho que os Estados Unidos enfrentarão uma recessão severa, com risco de também ter que lidar com uma profunda crise financeira e de dívida. 

Tecnicamente, os Estados Unidos já estão em recessão, depois de o PIB ter contraído 0,2% no segundo trimestre e 1,6% no primeiro. Mas alguns economistas, e o próprio governo americano, discordam, alegando que uma série de dados apontam para uma economia robusta. 

O principal argumento vem do mercado de trabalho. Em junho, dados oficiais mostraram que os Estados Unidos criaram 372 mil postos de trabalho, mais do que apontava a média das estimativas de economistas consultados pelo jornal The Wall Street Journal, de 250 mil vagas. A taxa de desemprego permaneceu em 3,6% pelo quarto mês consecutivo.