Conhecido por suas previsões pessimistas em relação à economia, a ponto de ganhar o apelido de "Dr. Doom" (doutor desgraça, em tradução livre), Nouriel Roubini voltou a fazer alertas tenebrosos a respeito da economia dos Estados Unidos, na contramão do que muitos economistas de Wall Street vêm afirmando. 

Para Roubini, que ganhou fama por ter sido um dos poucos economistas que alertou para a crise financeira de 2008, os Estados Unidos estão caminhando para uma recessão severa, com risco de também enfrentarem uma profunda crise financeira e de dívida. 

A esperança de muitos economistas de que a economia americana vai passar por uma leve recessão é “totalmente delirante”, disse Roubini em entrevista à agência de notícias Bloomberg

Roubini baseia sua previsão citando “os índices de dívida historicamente altos” nas nações desenvolvidas, afirmando que a relação entre a dívida e o PIB das economias avançadas está em 420% “e subindo”. 

Outro ponto de seu argumento é que existem agora “muitas corporações zumbis” que utilizaram a avalanche de recursos bombeados por governos e bancos centrais nas economias durante a pandemia para construir negócios incapazes de crescer ou serem lucrativos. 

E, para coroar sua previsão pessimista, Roubini disse que “famílias, governos [locais] e empresas foram resgatadas durante a Covid-19” pelo corte de juros promovido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e que este apoio, junto com os gastos promovidos pelo governo americano, não estará presente na recessão que se avizinha, diante do plano de domar a alta da inflação no país, a maior em quatro décadas. 

O economista, dono da consultoria Roubini Macro Associates, comparou o momento atual dos Estados Unidos, que segundo ele vive uma estagflação (baixo crescimento combinado com inflação em alta), com o que o país viveu na década de 1970 e na crise de 2008.

Em 1970, disse Roubini, a economia americana passava por uma estagflação, mas os índices de endividamento eram baixos. Já na última crise financeira, havia um grave problema de dívida, mas a inflação não era uma questão. Agora, a combinação de estagflação e dívidas em alta é, segundo Roubini, uma “receita para o desastre”. 

Leve chuva

A probabilidade e extensão da recessão que os Estados Unidos podem enfrentar neste ano é tema de debate entre economistas, analistas e gestores do mundo inteiro, diante do aperto monetário sendo promovido pelo Fed, o BC dos EUA. 

Enquanto Roubini está bem pessimista com a recessão que pode vir, os economistas dos maiores bancos e investidores de Wall Street não compram a previsão de "Dr. Doom".

O CEO da BlackRock, Larry Fink, admitiu na quinta-feira passada, dia 21 de julho, a possibilidade de os Estados Unidos estarem em recessão, mas afirmou que ela deve ser moderada e que a inflação é “consertável”. Segundo Fink, o momento não deveria preocupar os investidores, porque se trata mais de questões de oferta e não demanda, que está em bons patamares. 

“O mecanismo do Federal Reserve [para combater inflação] é realizar aperto [monetário] e por meio desse aperto eles limitam a demanda”, disse o responsável pela maior gestora do mundo, com cerca de US$ 10 trilhões em ativos sob gestão. “Então, existe um risco de recessão? É claro que tem, mas mesmo se estivermos em uma, ela será bastante moderada.”

Antes dele, em 16 de julho, Anthony Crescenzi, vice-presidente executivo e estrategista da gestora de crédito Pimco, afirmou que os Estados Unidos vão entrar em recessão, mas que ela se assemelhará a uma “leve chuva”. A Pimco tem sob gestão quase US$ 2 trilhões em ativos. Fazem coro a Fink e Crescenzi a CIO da área de gestão de patrimônio do Morgan Stanley, Lisa Shalett, que também classificou uma recessão americana como leve.