Nesta quarta-feira, era grande a expectativa com dois eventos, nos EUA, que poderiam desorientar os mercados: o pronunciamento de Jerome Powell, presidente do Fed, no Senado americano; e o pedido de Joe Biden para desonerar os combustíveis. Mas, ao contrário do rebuliço esperado, a repercussão foi “suave”.

O pronunciamento do presidente de Powell ao comitê bancário do Senado foi firme, mas não trouxe informações que estão fora do radar de gestores e investidores. Já o pedido de Joe Biden ao Congresso – formalizado pela Casa Branca no início da tarde – por uma suspensão da cobrança de impostos sobre o preço da gasolina até setembro não provocou comoção.

Inclusive porque, entre a intenção de Biden e a decisão dos parlamentares, há um longo caminho a percorrer. Sem contar que a economia com a trégua tributária é considerada insignificante por especialistas. De bate-pronto, portanto, não há muito a comemorar ou para descontar os preços dos ativos.

O pedido de Biden para suspensão de impostos, visto como iniciativa para recompor sua popularidade, exige uma nova legislação do Congresso. Desde o fim de semana, ele e a secretária do Tesouro e ex-presidente do Fed, Janet Yellen, movimentam-se para encontrar saídas que levem à redução dos preços dos combustíveis e da inflação.

No foco está a tentativa de evitar que os EUA caminhem para uma recessão decorrente da política monetária mais restritiva adotada pelo Fed. No fim de semana, Yellen reiterou a posição de Biden de que uma recessão “não era inevitável”, afirmando que o mercado de trabalho e os gastos dos consumidores permanecem fortes.

Powell, porém, não titubeou ao ser questionado por um senador no comitê bancário e afirmou que existe a possibilidade de os EUA entrarem em recessão como consequência da rápida alta dos juros.

Ele esclareceu que esse não é o objetivo do Fed, mas subir os juros de forma rápida e para o terreno restritivo para combater a inflação – a maior em 40 anos. Powell avaliou que a economia norte-americana “está muito forte e bem-posicionada para lidar com a política monetária mais apertada”.

O chefe do Fed afirmou que a instituição tem instrumentos e vontade para restaurar a estabilidade de preços nos EUA, ponderou que o salto nos preços das commodities – em função da guerra Rússia-Ucrânia – é fator de pressão extra sobre a inflação e assegurou que o objetivo do Fed é levar a inflação à meta, 2%, e manter as expectativas “bem ancoradas” no longo prazo.

Em maio, a inflação ao consumidor americano alcançou 8,6% em base anualizada. Powell reiterou que o Fed deve agir rápido e levar o juro ao território neutro – em torno de 2,5% – e depois subir mais a taxa para adentrar em território contracionista. Na semana passada, o Fed elevou sua taxa para o intervalo de 1,50% a 1,75%, uma alta de 0,75 ponto percentual, a maior desde 1994.

Visto como uma prestação de contas semestral feita às duas Casas do Congresso americano, o testemunho de Jerome Powell segue amanhã, quinta-feira, 23 de junho, na Câmara dos Representantes. Historicamente, o pronunciamento inicial na Câmara é semelhante ao do Senado. Novidades podem trazer as respostas do chairman do Fed aos questionamentos dos parlamentares.

Encerrado o depoimento de Powell no Senado, as bolsas americanas avançaram no campo positivo para, no fim da tarde, operarem praticamente estáveis. As commodities seguiam em queda generalizada. O petróleo, com perda ao redor de 3%, declinou aos menores níveis em seis semanas em reação à possibilidade de queda na demanda.

A percepção de que a economia global vai tombar aumenta. O CEO do Deutsche Bank, Christian Sewing, estimou hoje em 50% a chance de recessão global, durante a cúpula Future of Finance, em Frankfurt.

No início da semana, no Fórum Econômico do Qatar, o CEO da Tesla, Elon Musk, e o economista Nouriel Roubini estavam entre os que advertiam sobre uma recessão americana. No início do mês, Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan, alertou investidores para se prepararem para um “furacão” econômico em meio a uma combinação sem precedentes de desafios.