Depois da venda de imóveis no metaverso, uma das próximas fronteiras a serem exploradas no mercado imobiliário promete ser a dos programas de pontos. Muito em breve, os tokens acumulados em cashback de compras ou em clubes de assinatura poderão ser usados, inclusive, no pagamento de um imóvel.

Essa é a ideia por trás de um novo projeto da HM Engenharia. Com operação na capital e no interior de São Paulo, a companhia está avançando em sua estratégia de digitalização ao firmar uma parceria com a Dotz, empresa de fidelidade, para levar essa abordagem ao mercado de construção e incorporação.

O plano é permitir que os pontos acumulados com compras online e a indicação de clientes para a HM possam ser usados na contratação de serviços como reparos e reformas em apartamentos, no abatimento de parcelas ou até mesmo na quitação total de um imóvel.

“Talvez, comprar um imóvel do zero demore um pouco mais”, diz André Leitão, CEO da HM Engenharia, parte do Grupo Mover (antiga Camargo Corrêa), ao NeoFeed. “Mas esse usuário poderá trocar de apartamento pagando a diferença com os pontos”.

De acordo com a HM, com os comportamentos de compra usuais no comércio eletrônico, um cliente padrão poderia acumular moedas digitais suficientes para abater até duas parcelas por ano de um apartamento, o que poderia gerar uma economia, em média, de R$ 700 por parcela.

Para que a parceria saia do papel, as movimentações dos pontos Dotz para a contratação de serviços e descontos em imóveis da HM vão ocorrer dentro da plataforma digital HM Estelar, que está sendo lançada nesta quarta-feira, 23 de fevereiro, para facilitar o relacionamento da empresa com os clientes.

Com um investimento de R$ 4 milhões, a plataforma conta com novos canais de comunicação e permite acompanhar o andamento das obras de um empreendimento, além de dar acesso a recursos como a segunda via de boletos.

“O relacionamento do cliente com a construtora é de longo prazo, quase um casamento”, diz Leitão. “Ele paga suas parcelas do período da construção até a entrega das chaves e depois ainda tem um contato com a empresa durante os anos de garantia. Essa relação precisa ser saudável.”

André Leitão, CEO da HM Engenharia

A plataforma irá abrigar ainda um marketplace, com a oferta de serviços de profissionais como pintores, eletricistas e gesseiros. Também será possível usar o sistema para comprar imóveis, eletrodomésticos e outros produtos de uso residencial.

A empresa está em fase de cadastramento dos fornecedores e não revela o número e os nomes de parceiros envolvidos nessa largada. Assim como a HM, outros nomes do setor, entre eles MRV e Cyrela, têm investido no desenvolvimento da oferta de serviços no entorno do seu negócio principal.

No caso da HM, todas as transações e contrações de serviços na plataforma poderão ser pagas, caso o cliente deseje, com o uso de pontos Dotz acumulados. “O plano é ajudar o cliente na construção do lar”, diz Elaine Belém, diretora comercial da HM.

Em quatro anos, a meta é ter 100 mil usuários cadastrados. A partir da plataforma e de outras iniciativas de digitalização, a HM, fundada em 1976, planeja acelerar seu plano de triplicar de tamanho nos próximos anos.

Focada em imóveis com preços mais acessíveis, a HM chegou a um volume de vendas de R$ 530 milhões no ano passado. O público-alvo são consumidores que buscam unidades de até R$ 500 mil na capital paulista e em cidades próximas como Campinas, Jundiaí e Valinhos.

Com a previsão de lançar 17 empreendimentos neste ano, que se traduzem em um valor geral de vendas (VGV) de R$ 1,2 bilhão, a construtora e incorporadora projeta que as vendas dentro do seu portfólio cheguem a R$ 1,5 bilhão até 2023.

Composto por sete condomínios, com 320 unidades cada, um desses projetos começou a ser construído no início deste mês, em Praia Grande, no litoral paulista. O empreendimento integra os programas habitacionais Chave dos Sonhos e Casa Verde Amarela. A previsão de entrega é dezembro de 2023.

E a Dotz?

Do lado da Dotz, a companhia firma a parceria na expectativa de consolidar mais um canal para ampliar sua base de usuários e, por consequência, suas receitas. “A Dotz vira um elo que potencializa a relação dos clientes com a própria HM, assim como já faz com outras empresas de outras categorias”, diz Ricardo Magalhães, vice-presidente de Loyalty da Dotz.

No último balanço divulgado, referente ao terceiro trimestre do ano passado, a empresa reportou alta de 4% na receita, para R$ 28,6 milhões e um prejuízo líquido de R$ 24 milhões. São cerca de 50 milhões de pessoas cadastradas na plataforma, mas nem todas possuem saldo e utilizam efetivamente o serviço.

Depois de captar R$ 390,1 milhões em sua abertura de capital, em maio de 2021, as ações da Dotz acumulam uma desvalorização de mais de 80% desde o IPO, o que fez seu valor de mercado recuar de R$ 1,7 bilhão para o patamar atual de R$ 340 milhões.