O empresário Jorge Paulo Lemann, controlador de grandes empresas como a cervejaria AB InBev, a rede de fast-food Burger King, a varejista Lojas Americanas e a empresa de alimentação Kraft Heinz, gosta de seguir uma receita para enfrentar uma crise.
Mas a principal lição que ele aprendeu é bastante simples. “Todas as crises que eu passei foram duras e sofri. Não sabia como iria chegar ao fim. Mas alguma oportunidade apareceu”, disse ele, durante uma live nesta quinta-feira, 16 de abril.
A live contou ainda com a participação de Roberto Setubal, do Itaú; José Galló, da Renner; e David Vélez, do Nubank, e foi um dos debates do evento Fórum da Liberdade, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais, de Porto Alegre.
A lição de Lemann pode parecer um chavão. Mas ele enumerou todas as oportunidades que apareceram e que o ajudaram a construir o seu atual império, que fez dele um dos homens mais ricos do Brasil, com uma fortuna avaliada em US$ 13,9 bilhões.
A primeira oportunidade foi em 1971, quando ele comprou uma corretora que deu origem ao Banco Garantia. Dez anos depois, foi a vez de o empresário entrar no mercado de varejo, com a aquisição da Lojas Americanas. Era um momento em que o Brasil passava pela hiperinflação.
O mesmo aconteceu em 1989. Naquele ano, em conjunto com os seus sócios Beto Sicupira e Marcel Telles, ele comprou a Brahma. “Pagamos muito barato”, afirmou, dizendo que aquele era um ano de eleição presidencial, a primeira desde 1960, e que havia muita indefinição e ninguém sabia o que iria acontecer.
“Todas as crises que eu passei foram duras e sofri. Não sabia como iria chegar ao fim. Mas alguma oportunidade apareceu"
A Brahma depois se uniu à Antarctica, criando a Ambev, em 1999. Essa, por sua vez, fez uma fusão com a belga InBev nos anos 2000. Em 2008, Lemann deu sua grande tacada. Comprou a tradicional cerveja americana Anheuser-Busch, dona da Budweiser, e criou a AB InBev, a maior cervejaria do mundo, no auge da crise financeira global.
“Eu diria que as oportunidades que nós aproveitamos na crise foram melhores do que as oportunidades que aproveitamos em momentos normais e que pagamos mais caro”, disse Lemann.
Ele também frisou que em uma crise a oportunidade não é apenas de comprar barato. “É que certas coisas que não estão disponíveis passam a estar disponíveis”, afirmou Lemann.
Lemann disse ainda que o principal objetivo de toda empresa, durante uma crise, “é sobreviver”. A partir daí, ele deu uma receita de quatro passos que considera essencial ser seguida.
O primeiro passo é melhorar o caixa e a eficiência. Em seguida, tratar bem os funcionários. “É preciso fazer todo o esforço possível para manter os associados bem saudáveis e com possibilidade de ganhar dinheiro no futuro”, afirmou Lemann.
Outro ponto ressaltado é que as crises são uma oportunidade de melhorar os serviços e adaptar os produtos para as necessidades dos clientes. E, por fim, Lemann também falou que é a hora de ir além dos negócios e pensar na contribuição que pode ser dada para a sociedade.
Questionado sobre se essa crise deve acelerar a digitalização, Lemann fez um mea culpa em relação aos seus negócios.
“Nós chegamos um pouco atrasados nesse mundo digital por causa do nosso tipo de negócio”, disse ele. “Temos certeza de que o mundo digital está vindo e estamos nos atualizando.”
O empresário lembrou que a Lojas Americanas controla a B2W, que é dona do Submarino e da Americanas.com, a maior operação online puro sangue do Brasil. E frisou também a Ame Digital, uma iniciativa de meio de pagamentos da B2W, que deve se tornar independente.
“Nós chegamos um pouco atrasados nesse mundo digital por causa do nosso tipo de negócio”
Lemann também falou que a rede de fast-food Burger King está acompanhando tudo o que se passa na Domino's Pizza, que “nesse ramo de comida rápida é o mais digital de todos.”
No caso da AB InBev, ele disse que a empresa está testando diversas iniciativas de entrega rápida para os clientes e que, em diversos países, criou uma plataforma para ter contato direito com os consumidores.
No Brasil, a Ambev conta com o Zé Delivery, um aplicativo que vende cerveja gelada a preço de supermercado e faz entrega em até 30 minutos na casa do consumidor.
Em 2019, o Zé Delivery recebeu 2 milhões de pedidos. No ano passado, ele já estava em 40 cidades. E o plano da Ambev é levá-lo para todo o país em até três anos. “Estamos expandindo muito rápido”, disse Jean Jereissati Neto, presidente da Ambev, em teleconferência com analistas.
Apesar de todas essas iniciativas, Lemann disse que o mais importante não é só ter o contato direto com o cliente, mas sim “toda a informação que se começa a gerar a partir disso”. “Passamos a ter a informação do que ele gosta, quer e prefere e ficamos na condição de servir melhor”, afirmou o empresário. “Começamos atrasados, mas vamos chegar lá.”