Quando surgiu, fundado pelo ucraniano Jan Koum e pelo americano Brian Acton, o WhatsApp era uma plataforma para facilitar a comunicação entre as pessoas. Um típico aplicativo de mensagem conectado ao celular das pessoas.

Foi por esse motivo que o Facebook pagou US$ 19 bilhões por ele, em 2014, numa das maiores transações da história da companhia fundada por Mark Zuckerberg.

Muitos acharam o valor pago por Zuckerberg exagerado. Em especial por um aplicativo que não tinha fonte de receita. Pior: Koum mantinha em sua mesa uma nota escrita à mão que era considerada uma declaração de princípios: “Sem publicidade! Sem jogos! Sem truques!”

Sem Koum e Acton, que já deixaram a empresa, o WhatsApp vai encontrando uma forma de ganhar dinheiro. E, aos poucos, o aplicativo vai ganhando uma cara para além de um aplicativo de mensagens. E ela é cada vez mais parecida com o superaplicativo chinês WeChat, chamado ironicamente – e de forma equivocada – de o WhatsApp da China.

Nesta segunda-feira, 15 de junho, o WhatsApp lançou seu serviço de pagamentos online no Brasil, em parceria com Banco do Brasil, Nubank e Sicredi. A Cielo será responsável pelo processamento e, por conta disso, suas ações subiam mais de 20% nesta manhã na B3. As bandeiras Visa e Mastercard também participaram do anúncio.

Pelo serviço, no qual o Brasil é o primeiro país a testar, pessoas físicas e empresas vão poder transferir dinheiro pelo WhatsApp. Para isso, é preciso ter um cartão de débito ou crédito. As pessoas podem transferir até R$ 1.000 por vez e receber até 20 transações por dia com um limite de R$ 5.000 por mês. Apenas transações dentro do Brasil e na moeda local são autorizadas.

A plataforma de pagamentos inclui também o Facebook e o Instagram e marca a estreia do Facebook Pay no Brasil, a carteira virtual do Facebook e do Messenger, lançada em novembro do ano passado nos Estados Unidos.

“Estamos fazendo com que enviar e receber dinheiro seja tão fácil quanto compartilhar uma foto”, disse Zuckerberg, num post no Facebook. “Estamos também permitindo que pequenos negócios façam vendas dentro do WhatsApp.”

O movimento do WhatsApp era esperado. Durante a pandemia, de maneira informal, muitos varejistas de grande porte começaram a usar o aplicativo de mensagens para realizar vendas online, numa estratégia desesperada para movimentar as vendas quando as lojas físicas estavam fechadas.

A Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, conseguiu até 20% de seu faturamento online via o WhatsApp. A solução, que era paliativa, veio para ficar, disse, na ocasião ao NeoFeed, Roberto Fulcherberguer, presidente da varejista.

Além da Via Varejo, empresas como Riachuelo, Reserva, Chilli Beans e Polishop também passaram a usar o WhatApp para vendas online, embora a ferramenta não tivesse um meio de pagamento nativo embutido.

Mas isso era questão de tempo. Em abril deste ano, Mark Zuckerberg, fundador da rede social, investiu US$ 5,7 bilhões para assumir uma participação de pouco menos de 10% na unidade digital do grupo indiano Reliance Industries.

O acordo envolvia a Jio Platforms, que leva lojas físicas para o mundo online, e o plano era trabalhar em conjunto com o WhatsApp, que tem 400 milhões de usuários na Índia, para conectar pequenos comerciantes e seus clientes.

“No futuro próximo, a JioMart e o WhatsApp vão conectar 30 milhões de pequenas mercearias por meio de transações digitais com cada cliente que possuem em seus bairros”, disse Mukesh Ambani, presidente da Reliance e homem mais rico da Ásia, com uma fortuna estimada em US$ 54,8 bilhões, quando o acordo foi divulgado.

Os testes já estavam acontecendo em algumas localidades da Índia, mas não estava claro ainda como seria a remuneração do WhatsApp. Esse mistério está encerrado: na solução apresentada ao Brasil, as pessoas físicas não pagam nada. Mas as empresas terão uma taxa de 3,99% sobre a transação.

“É um passo claro para se firmar como superaplicativo do Ocidente, sendo capaz de centralizar cada vez mais soluções sem que os usuários tenham que sair da plataforma. A referência é o WeChat”, afirma Renato Mendes, professor de empreendedorismo e marketing digital no Insper, autor do livro Mude ou Morra e colunista do NeoFeed

Não é o primeiro passo do WhatsApp para copiar o WeChat. Mas, com certeza, é o mais importante. Pois, a partir do meio de pagamento, muito outras atividades poderão orbitar ao redor do aplicativo que tem 120 milhões de usuários no Brasil e mais de 2 bilhões no mundo.

"É uma novidade que deve revolucionar os meios de pagamento online não só no Brasil, mas no mundo, a exemplo do que aconteceu na China", escreveu Romero Rodrigues, sócio do fundo de venture capital Redpoint eventures, no LinkedIn. "Lá, o WeChat modificou totalmente a maneira de fazer pagamentos, além de também funcionar como rede social e plataforma de vendas."

O WeChat, que pertence ao grupo Tencent, conta com mais de 1 bilhão de pessoas e é uma espécie de faz-tudo online na China.

Por ele, o consumidor pode trocar mensagens, mas também pode pedir táxi, comida, pagar contas, fazer compras, realizar consultas médicas, enviar currículo, entre muitas outras coisas. É um Uber, um iFood, um banco online, uma health tech e um marketplace. Tudo concentrado em um único lugar.

Até onde a vista pode enxergar, tudo indica que esse é o caminho do WhatsApp.

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