Em mais um sinal de ajustes à nova realidade do Vale do Silício, em que as startups devem buscar a rentabilidade, a fintech Brex, fundada pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, vai deixar de atender dezenas de milhares de pequenos negócios.

A fintech, avaliada em US$ 12,3 bilhões, vai concentrar seus esforços em startups que sejam financiadas por fundos de venture capital, retornando à sua origem, quando lançou um cartão de crédito para negócios iniciantes nos Estados Unidos.

"É terrível. É o pior resultado para nós também”, disse Dubugras, em uma entrevista ao site da CNBC. “Investimos muito dinheiro para adquirir esses clientes, servi-los, construir a marca, todas essas coisas.”

A Brex começou a informar os seus clientes que eles têm até 15 de agosto para encontrar novas empresas que possam lhes fornecer crédito. Dubugras disse que a decisão de parar de atender pequenos negócios foi tomada em dezembro do ano passado à medida que as startups se tornaram cada vez mais exigentes, pedindo ajuda para controlar despesas.

Ao mesmo tempo, pequenos negócios de tijolo e cimento, como varejistas e restaurantes, que a Brex começou a buscar em 2020, inundaram as linhas de suporte da fintech, resultando em um serviço pior para as startups.

“Chegamos a uma situação em que percebemos que, se não escolhêssemos um, faríamos um trabalho ruim para ambos”, afirmou Dubugras. “Então, decidimos focar em nosso principal cliente, que são as startups que estão crescendo.”

De acordo com o empreendedor, o foco será startups que tenham levantado capital com fundos de venture capital, mas também participem de programas de aceleração, tenham investimentos-anjos ou tokens da Web 3.0. Empresas de médio porte, que têm um histórico financeiro, não vão ser deixadas de lado pela Brex, que seguirá fornecendo crédito e cartões a esse público.

Em um longo fio no Twitter, Franceschi também explicou as razões de a Brex focar em startups, alegando que as pequenas empresas não obtiveram os produtos que precisavam, como soluções de capital de giro.

Simultaneamente, prossegue Franceschi, a Brex teve de degradar o serviço que oferecia às startups para escalar os milhares de pequenos negócios que passaram a ser clientes da fintech.

“Isso nos levou à dolorosa decisão de parar de atender pequenas empresas tradicionais”, escreveu o cofundador da Brex. “Esta foi uma decisão incrivelmente difícil para a equipe e profundamente pessoal para mim.”

A maioria dos comentários feitos no tuíte de Franceschi critica a decisão da Brex de deixar de prestar serviços aos pequenos negócios nos Estados Unidos.

“Mais uma vez, as pequenas empresas ficaram numa situação difícil. Me irrita muito que empresas como a sua assumam pequenas empresas como clientes sem entender seus pontos problemáticos, necessidades e objetivos de longo prazo”, tuitou Anurag Agrawal, fundador da empresa de pesquisa Techaisle e ex-vice-presidente da consultoria americana Gartner.

Fundada em 2017, depois que Dubugras e Franceschi deixaram a Stanford University, a Brex foi uma das empresas mais rápidas a alcançar o status de unicórnio, como são chamadas as companhias avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Ela atingiu esse patamar em menos de dois anos.

Hoje, a Brex faz parte de um clube ainda mais restrito: as decacórnios, que são empresas que ultrapassaram a avaliação de US$ 10 bilhões. Apenas 57 empresas superaram essa avaliação privada, segundo a consultoria CB Insights. O número de unicórnios, por sua vez, ultrapassa 1,1 mil startups.

Dubugras, de 26 anos, e Franceschi, de 25 anos, também se tornaram os mais jovens brasileiros a entrar para a lista dos bilionários da Forbes. Cada um conta com uma fortuna estimada em US$ 1,5 bilhão, segundo o ranking publicado em abril deste ano.