Anunciada em fevereiro, a compra da SulAmérica para Rede D’Or representou o ponto alto do processo intenso de consolidação no mercado de saúde nos últimos anos. O acordo, avaliado em R$ 15 bilhões, uniu a maior operadora de hospitais do País com a quarta maior operadora de planos de saúde e deve ser transformacional para o setor.
O negócio ainda precisa passar pelo crivo das autoridades regulatórias, mas os analistas do Itaú BBA buscaram entender o impacto dessa operação, que manterá as duas empresas apartadas. Apesar de ainda terem algumas dúvidas em relação a sinergias, eles acreditam que a nova estrutura vai permitir a ambas avançarem em pontos importantes de suas estratégias.
Para eles, com a SulAmérica, a Rede D’Or vai conseguir expandir seus serviços ambulatoriais e diagnósticos, aumentando “consideravelmente” seu mercado endereçável. No primeiro trimestre, a operadora de planos de saúde registrou um total de 4,5 milhões de pacientes.
“Embora haja uma sobreposição significativa entre as duas partes - ambas têm altas concentrações nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro – acreditamos que a demanda herdada da SulAmérica de sua base de beneficiários garantirá um aumento mais rápido e redução do risco da capacidade substancial de leitos”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Vinicius Figueiredo, Lucca Generali Marquezini e Felipe Amancio.
Ao mesmo tempo, para o Itaú BBA, a Rede D’Or vai reforçar o foco da SulAmérica em aumentar sua participação no segmento de tíquetes mais baixos do que os planos tradicionais da companhia, estratégia para fazer frente à concorrência gerada por Hapvida e Notre Dame Intermédica. Em 2019, a empresa lançou o SulAmérica Direto, linha de planos mais baratos e com atuação regionalizada.
Um ponto positivo para a Rede D’Or envolve o caixa da SulAmérica. Segundo os analistas, a operadora trabalha com um montante necessário para cobrir e garantir seus cuidados de saúde e disposições previdenciárias. Com a fusão, a expectativa é de que a operadora de hospitais possa ter acesso a mais de R$ 1 bilhão desse caixa para alimentar seu crescimento inorgânico.
Já em relação a sinergias, os analistas destacaram que ambas atuam em setores diferentes na área de saúde. Com isso, a redução da sinistralidade da SulAmérica dentro da base da Rede D’Or deve resultar em receitas mais baixas para a Rede D'Or. “Assim, não prevemos sinergias de custos tanto quanto sinergias [de despesas] gerais e administrativas”, diz.
Em uma simulação, os analistas assumiram uma redução de 20% nas despesas gerais e administrativas. Nesse caso, eles calculam um aumento de 6,8% em relação à estimativa de lucro líquido consolidado para 2023.
Revisões
Junto com uma análise a respeito da fusão, os analistas do Itaú BBA apresentaram um novo preço-alvo para as ações da Rede D’Or.
Ele foi rebaixado de R$ 65,00 para R$ 45,00, depois de incorporar a união com a SulAmérica e estimar que a margem Ebitda só vai se normalizar depois do fim da pressão de custos vindos de materiais e medicamentos, em meio ao cenário inflacionário. A recomendação, porém, permaneceu em compra.
No mesmo relatório, os analistas anunciaram o rebaixamento da recomendação das ações da Qualicorp de compra para neutro e do preço-alvo de R$ 23,00 para R$ 12,00.
Para o Itaú BBA, em meio a um cenário mais desafiador para a contratação de planos coletivos por adesão e o fraco desempenho no primeiro trimestre, a projeção para o lucro líquido em 2022 sofreu um corte de 21,6%, para R$ 302 milhões. A expectativa para adições líquidas de vida recuou em 46,2%, para 42 mil.
Por volta das 13h51, as ações da Rede D’Or subiam 2,97%, para R$ 34,29. No ano, elas acumulam queda de 22%, levando o valor de mercado a R$ 67,7 bilhões.
As units da SulAmérica subiam 2,61%, para R$ 25,55, registrando queda acumulada de 1,3% em 2022 e valor de mercado de R$ 10,9 bilhões.
Apesar da revisão, as ações da Qualicorp avançavam 4,20%, para R$ 11,41. Em 2022, elas recuam 29,4%, levando o valor de mercado a R$ 3,1 bilhões.