Durante os anos em que foi presidente dos Estados Unidos (2009 a 2017), Barack Obama presenciou a ascensão das big tech. Não por acaso, já que algumas de suas políticas foram apontadas como favoráveis para as gigantes da tecnologia.

Agora, porém, o ex-presidente americano adota uma postura mais cautelosa para falar sobre essas empresas. Em evento organizado pelo Cyber ​​​​Policy Center de Stanford e pela Fundação Obama, na quinta-feira, 21 de abril, o ex-presidente afirmou que este é um “momento tumultuado e perigoso da história”.

O receio se dá em relação a forma como as redes sociais se tornaram instrumentos que podem enfraquecer as democracias. Durante o discurso, que teve duração de cerca de uma hora, Obama usou como exemplo a interferência da Rússia nas eleições americanas de 2016 – que culminaram na vitória do republicano Donald Trump – e na invasão das tropas russas comandadas por Vladimir Putin à Ucrânia neste ano.

“Como Putin descobriu antes da eleição de 2016, nossas próprias plataformas de mídia social são bem projetadas para apoiar tal missão”, disse Obama. “Na competição entre verdade e falsidade, cooperação e conflito, o próprio design dessas plataformas parece estar nos inclinando na direção errada. E estamos vendo os resultados.”

Obama afirmou que Putin e Steve Bannon, que foi um dos principais conselheiros de Donald Trump em sua campanha presidencial em 2016, “entendem que não é necessário que as pessoas acreditem na desinformação para enfraquecer as instituições democráticas”. Bastaria apenas “levantar questões, espalhar sujeira e planejar teorias conspiratórias suficientes para que os cidadãos não saibam mais em que acreditar.”

Sem citar nenhuma companhia em especial, Obama disse que os problemas “também são o resultado de escolhas muito específicas feitas pelas empresas que passaram a dominar a internet, em geral, e as plataformas de mídia social em particular.”

Neste caso, vale lembrar que na época das eleições de 2016, um estudo realizado pela The National Bureau of Economic Research apontou que nos três meses anteriores às votações, notícias falsas com viés positivo envolvendo Donald Trump foram compartilhadas 30 milhões de vezes no Facebook, contra 8 milhões de compartilhamentos de artigos fraudulentos que favoreciam a democrata Hillary Clinton.

Durante o discurso, Obama enfatizou que algumas políticas que estão sendo adotadas nos últimos anos podem impedir que o cenário piore. Neste sentido, ele fez menção à Lei de Mercados Digitais, uma iniciativa regulatória europeia, e lembrou da Platform Accountability and Transparency Act, um projeto de lei que exigiria que as plataformas sociais abrissem seus dados para pesquisadores externos.