Na próxima quinta-feira, 23 de junho, o ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e o secretário especial de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Colnago, se reúnem para decidir qual será a taxa de inflação que o BC deverá perseguir – e de preferência cumprir – com sua política monetária.

Trata-se da única reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) do ano que tem pauta pré-definida. E por lei. Junho é o mês de definição da meta de inflação do Brasil pelo Conselho e com três anos de antecedência. As metas já estipuladas são de variação do IPCA em 3,50% para este 2022, 3,25% para 2023 e 3,0% para 2024.

Mantida a cadência, em 2025, a meta de inflação será de 2,75%. Esses valores correspondem à meta central e o regime em vigor no país autoriza 1,5 ponto percentual a mais ou menos. Discutir meta de inflação num momento em que os preços estão nas nuvens – aqui e mundo afora – parece um despropósito, um desperdício de energia. Mas não é bem assim.

Não fosse a determinação do BC de combater a inflação e manter expectativas sob controle, a Selic talvez não acumulasse 12 aumentos consecutivos até 13,25% ao ano, poderia estar acima dessa marca; e o IPCA poderia rondar mais de 12% em 12 meses. Até maio, a inflação anualizada é de 11,73%.

O regime de metas, adotado no Brasil em 1999, deve dar previsibilidade para aumentos de preços em geral. A ideia, desde seu lançamento, é ancorar expectativas e conter remarcações tresloucadas de preços em qualquer setor da economia. Uma prática recorrente no país sobretudo nas décadas de 1980 e 1990.

De 1999 até 2021, a meta central de inflação foi cumprida 6 vezes. Nas demais, a inflação aproximou-se do teto, estipulado ano a ano pelo CMN, ou pairou acima dele. No ano passado, o teto a ser respeitado era de 5,25%. A inflação foi praticamente o dobro, cravou 10,06%. Em 2022, ainda na metade, o teto vigente é de 5%. E, por ora, a inflação esperada por economistas de grandes bancos é de 9% ou 10%, o dobro novamente.

Para 2023, o teto é de 4,75%. Por enquanto, a inflação do primeiro do ano do próximo governo está mais para chute do que para estimativa. Isso porque há areia na engrenagem dos preços. E que areia é essa?

O impacto efetivo do pacote de desoneração tributária sobre os preços dos combustíveis, gás de cozinha, gás veicular, energia elétrica, telecomunicações e transporte urbano, além da política de preços da Petrobras que o presidente Jair Bolsonaro leva ao centro do debate ao afirmar, como fez na última quinta-feira, 16 de junho, no Twitter, que a Petrobras pode “mergulhar o Brasil num caos” caso promova um reajuste dos combustíveis.

Na sexta-feira, 17 de junho, a Petrobras anunciou aumento de 5,18% no preço da gasolina e de 14,26% no valor do diesel vendido em suas refinarias. A ver, se esses reajustes chegarão ou não às bombas. Se o governo conseguir impor algum controle, economistas avaliam que a inflação cairá neste ano, mas sofrerá recomposição em 2023.

Há, portanto, uma zona para lá de cinzenta que o BC e os mercados têm a atravessar nos próximos meses. Se a inflação for menor, o BC até poderia aliviar a mão na taxa de juro. Mas, com o risco de repique da inflação em 2023, poderá ser forçado a manter, de fato, a Selic em patamares elevados por muito mais tempo.

O BC demonstra estar efetivamente focado no combate à inflação e outro evento, também marcado para quinta-feira, 23 de junho, poderá esclarecer um pouco mais o incerto cenário. Campos Neto e o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, recém-chegado à instituição, farão uma breve apresentação de dados macroeconômicos.

Não fosse a greve dos servidores do BC por reajuste salarial e reestruturação de carreira e que já dura dois meses, o Relatório de Inflação do 2º trimestre seria publicado na mesma data. Não será. O BC já informou que o documento – um dos mais relevantes elaborados pela instituição – sairá às 8h do dia 30 de junho. Portanto, apertem os cintos, porque inflação será condimento a apimentar intensamente a rotina do mercado na virada do semestre.