Em seus movimentos recentes no mercado, a Raia Drogasil (RD) não tem medido esforços no sentido de construir, a partir das lojas físicas, sua atuação em outros mercados relacionados à saúde dos consumidores. A ampliação dos serviços ofertados em suas farmácias e das suas ofertas multicanal são alguns dos ingredientes nesse contexto.

Dentro dessa receita, outro componente, no entanto, começa a ganhar força. Trata-se da RD Ventures, fundo de corporate venture da rede de farmácias, que está se mostrando cada vez mais ativo na busca por startups que ajudem o grupo a expandir suas fronteiras.

“Tudo o que temos feito é para aproximar o cliente da loja, para que ela seja um lugar de cuidado e de saúde para todo tipo de consumidor”, afirmou Marcilio Pousada, CEO da RD, em conferência com analistas nesta quarta-feira, 10 de março. “Com a RD Ventures, estamos tentando trazer negócios que complementam essa estratégia e agreguem competências em nichos específicos”.

O passo mais recente sob essa lógica foi anunciado hoje, com a aquisição de uma fatia de 50,75% da Healthbit, startup fundada em Campinas (SP). Pelos termos do acordo, a RD tem a opção de compra da totalidade das ações remanescentes da empresa a partir de 2026.

A Healthbit é dona de uma plataforma de big data para reduzir os custos e a sinistralidade em saúde em grandes empresas. Os dados capturados pela ferramenta da startup também servem de base para a promoção de ações de bem-estar e de prevenção voltadas aos funcionários dessas companhias.

No mercado desde 2016, a empresa tem um time de 57 profissionais e atende a uma carteira de cerca de 140 clientes e mais de 1 milhão de funcionários. Assim como nas demais aquisições do fundo, os sócios e fundadores da startup seguirão na operação.

“A Healthbit tem uma carteira poderosa e entra no mercado de B2B e de grandes empresas”, disse Pousada. “Vemos muitas sinergias para construir uma série de programas a quatro mãos com a Univers”, acrescentou, referindo-se à plataforma da RD que gerencia programas de benefícios de medicamentos e que atende 57 milhões de funcionários e beneficiários de mais de mil empresas e de 350 operadoras de saúde.

O acordo marca a terceira aquisição da RD Ventures em oito meses. Antes, em fevereiro, o fundo havia comprado 100% da tech.fit, startup que desenvolveu uma plataforma digital para a promoção de hábitos saudáveis e que já conta com mais de 31 milhões de clientes. O acordo ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

“A tech.fit vai ajudar muito no desenvolvimento da nossa plataforma de saúde”, explicou Pousada. “Por meio da criação de aplicativos e programas para colocarmos na jornada dos nossos consumidores e incentivá-los a ter hábitos mais saudáveis.”

Já a primeira investida do RD Ventures foi a Manipulaê, marketplace de farmácias de manipulação e de cotação de preço nesse segmento. Fechado em julho de 2020, o acordo envolveu a compra de uma participação minoritária, não revelada, com a possibilidade da aquisição integral da companhia.

Nesse caso, entre as sinergias potenciais, Pousada destacou a proximidade da operação com o negócio da 4Bio, bandeira de medicamentos especiais comprada pelo grupo em 2015. “Vamos assumir o controle da Manipulaê”, afirmou. “E já estamos começando a integrá-la nas lojas. Até o fim do semestre, esse processo deve estar concluído em todas as unidades de São Paulo.”

Na conversa com analistas, o executivo reafirmou as metas e pilares estratégicos do grupo para os próximos anos. Em termos de expansão, a RD projeta manter o ritmo de aberturas de 240 unidades dos últimos anos em 2021 e 2022.

O racional por trás dessas inaugurações também segue o mesmo. Com presença já consolidada em grandes centros e junto às camadas de renda mais elevada, a RD vai reforçar a abertura de lojas de perfil mais popular e em municípios menores. No caso das grandes cidades, a prioridade será as regiões periféricas.

Com essa abordagem, a rede cada vez mais bate de frente com concorrentes como a Pague Menos, que tem um modelo tradicionalmente voltado às classes de menor renda, especialmente no Norte e Nordeste, regiões que têm sido um dos alvos prioritários da RD em sua expansão.

Já quanto aos pilares estratégicos, Pousada reiterou o foco em três frentes: o conceito de Nova Farmácia, baseado na revitalização do varejo e no diálogo com o digital; o desenvolvimento do marketplace da marca, com a ampliação do sortimento ofertado; e a consolidação do grupo como um hub de saúde.

Balanço saudável

No quarto trimestre, a RD apurou um lucro líquido de R$ 198,4 milhões, um crescimento de 38,5% frente ao resultado reportado um ano antes. Em 2020, o lucro líquido ficou em R$ 579,2 milhões, o que representou um avanço de 6,7% sobre o exercício anterior.

Entre outubro e dezembro, a receita líquida cresceu 16%, para R$ 5,55 bilhões, enquanto, no ano, o salto observado foi de 14,6%, para R$ 20 bilhões. A receita dos canais digitais foi de R$ 1,2 bilhão em 2020 e representou 5,9% do faturamento da companhia e 6,3% no quarto trimestre.

Em 2021, os papéis da RD acumulam uma queda de 8,14%, levando-se em conta a cotação do encerramento do pregão da terça-feira. Nesta quarta-feira, as ações da empresa, avaliada em R$ 40 bilhões, estavam sendo negociadas com alta de 4,26% por volta das 12h30.