O ano mal começou e um segmento do mercado de varejo online americano já está prevendo um crescimento exponencial em 2024: o que utiliza drones para entregas de produtos.

Essa expectativa se deve a uma resolução da Federal Aviation Administration (FAA), a agência de aviação civil do governo dos Estados Unidos, que removeu no fim do ano passado o maior obstáculo para que os drones de entregas pudessem percorrer longas distâncias.

A exigência de ter observadores humanos posicionados a cada quilômetro ou mais ao longo da rota de um drone, para garantir que não houvesse interferência no tráfego aéreo, inviabilizou a substituição de caminhões e carros por drones – um sonho das gigantes varejistas desde que Jeff Bezos, CEO da Amazon, apresentou pela primeira vez a ideia da entrega de produtos por esses pequenos veículos aéreos não tripulados, em 2013.

Por causa do custo elevado dessa exigência, as empresas limitavam as entregas a distâncias de até um quilômetro ou a localidades com centros dedicados de atendimento específico para drones - a Amazon mantém esses centros em apenas duas localidades: Lockeford, na Califórnia, e College Station, Texas.

A decisão da FAA de autorizar  operadores de drones a pilotar suas aeronaves “além da linha de visão visual” (BVLOS, na sigla em inglês) destravou uma série de investimentos de grandes redes varejistas e de empresas que oferecem entrega de produtos via drones, como a Zipline e a Wing.

A ampliação exponencial da oferta de serviços se deve a uma característica específica desse mercado de entrega de produtos: a grande maioria dos pacotes pesa dois quilos ou menos, o que torna mais custoso o transporte por meio de caminhões pesados, além de mais demorado.

A Amazon, por exemplo, anunciou que em 2024 adicionará um terceiro site de entrega nos EUA, além de mais dois na Europa, parte de sua estratégia de atingir a meta de 500 milhões de entregas com drones por ano até o final da década.

A gigante varejista também vai incorporar à sua frota um drone menor e mais silencioso, que será totalmente integrado à rede de entrega da Amazon este ano.

Novidades tecnológicas

O mantra “o céu é o limite” também foi incorporado por empresas de entregas especializadas em drones, como a Zipline, que ficou conhecida ao lançar cargas de alimentos e remédios por drones - sendo que o impacto no solo era amortecido por para-quedas -, em postos avançados de Ruanda e Gana, na África.

Para este ano, a Zipline colocará em operação nos EUA seus drones de nova geração, que incluem um androide autônomo que baixa a encomenda por uma corda, com maior grau de precisão.

O novo modelo, drone Platform 2, ou P2 Zip, poderá transportar até 4 kg em um raio de 16 quilômetros, terminar voos em cerca de dez minutos e pousar um pacote num espaço tão pequeno quanto uma mesa ou na frente de uma porta.

Os clientes da Zipline nos EUA incluem, além de redes varejistas, centros médicos e restaurantes. A empresa também vai expandir suas atividades para o Reino Unido este ano.

A Wing, subsidiária da Alphabet (holding que controla o Google), completou mais de 350 mil entregas até agora, a grande maioria na Austrália. Nos EUA, faz entregas para o Walmart em um raio de 10 quilômetros de duas superlojas na área de Dallas e para alguns varejistas em Christiansburg, Virgínia.

A Wing planeja usar IA para tornar as suas operações mais eficientes. Seus drones serão capazes de tomar decisões sobre onde deixar uma encomenda se, por exemplo, um cliente solicitar uma entrega na sua garagem, mas deixar o carro no local indicado.

Outras empresas, incluindo a DroneUp, apoiada pelo Walmart, e a Flytrex de Israel, também planejam expandir este ano sem a limitação de observadores humanos.

Soluções de segurança

A decisão da FAA de remover a exigência de observadores humanos a cada quilômetro é, em grande parte, resultado do desenvolvimento de soluções por empresas de drones para atender a regra que estava vigorando, incluindo a eventual incorporação de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) na atividade.

A programação de drones da Zipline, por exemplo, realiza 500 verificações de segurança pré-voo e possui um sistema de prevenção acústica.

Depois de autorizar voos de drones “além da linha de visão visual”, a FAA está revisando outras recomendações de segurança com um comitê que inclui partes interessadas do setor.

O objetivo, segundo a agência, é desenvolver um conjunto padrão de regras “para tornar esse tipo de entrega rotineiro, escalonável e economicamente viável”.

Apesar das expectativas otimistas, o CEO da Zipline, Keller Renaudo Cliffton, adverte que a empolgação dos clientes de verem um pedido ser entregue em sete dias, independentemente de onde estejam localizados, um sonho de ficção científica prestes a se tornar realidade, vai passar logo.

"Durante sete dias, é pura magia”, diz Cliffton. “Depois, no oitavo dia, eles olham para o relógio e dizem: 'Você está 30 segundos atrasado.'"