Um dos nomes do mercado ainda nascente do uso de drones na logística, a Speedbird Aero vai fechar 2022 com boas entregas. Esse pacote foi aberto em janeiro, quando a empresa foi a primeira a obter o aval da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para fazer operações de delivery em caráter comercial.

A certificação permitiu que a startup migrasse das parcerias de P&D para a assinatura de contratos comerciais. Já em maio, um aporte de R$ 35 milhões, liderado pelo fundo americano Bela Juju Ventures, deu mais tração à novata fundada em Franca (SP), em 2018.

Depois de acumular horas de voo no Brasil, a Speedbird está arrumando as malas para decolar rumo ao exterior. O plano, antecipado ao NeoFeed, passa ainda por novas captações, sem deixar para trás o desenvolvimento de projetos locais.

“O negócio da aviação é internacional e, como uma companhia aérea, não podemos ficar apenas no Brasil”, diz Manoel Coelho, cofundador e CEO da Speedbird Aero. “E, nesse segmento em particular, todo mundo está começando. Então, é preciso estar onde as cartas estão sendo dadas.”

O principal destino é o mercado americano, com negociações em curso que, somadas, totalizam 100 aeronaves. Nesse radar, há acordos, por exemplo, com uma grande empresa de saúde e uma de aviação.

Outro passaporte é o convite do Departamento de Transportes do estado da Carolina do Norte para que a startup integre, a partir de 2023, o Beyond, programa de drones da Federal Aviation Administration (FAA), a agência de aviação americana.

Na preparação para ganhar o espaço aéreo americano, a Speedbird está em processo de certificação de suas aeronaves junto à FAA. Em paralelo, a cidade de Asheville, na Carolina do Norte, deve abrigar um escritório, um centro de manutenção e a montagem de drones da empresa.

A startup também está fechando uma parceria com uma companhia de tecnologia para substituir itens chineses que compõem seus drones, produzidos em Franca, por materiais fabricados nos Estados Unidos.

“Isso deve facilitar a entrada no mercado americano”, diz Coelho. “E já estamos voando no Brasil, onde as regras são muito parecidas. Então, estamos usando essa experiência para largar na frente por lá.”

Em Israel, a SpeedBird já levantou voo. A empresa é a única companhia estrangeira do National Drone Delivery Network Programa, projeto para a integração de drones no espaço aéreo do país.

O programa abriu as portas para projetos com a Unilever e a Rami Levy, uma das principais redes de supermercados do país. Agora, essas parcerias estão migrando para o formato de acordos comerciais.

A Speedbird Aero tem negociações em curso para uma carteira total de pedidos de 100 aeronaves nos Estados Unidos

Outro destino é a América Latina, por meio de um contrato com uma empresa de aviação que vai operar entregas via drones na região. Em janeiro, a startup começa a treinar os times do parceiro na Argentina e no Peru. O acordo prevê a extensão a países como México, Colômbia, Chile, Costa Rica e Panamá.

Esse formato ilustra o modelo que será adotado pela startup lá fora. Diferentemente do Brasil, onde fabrica e opera as aeronaves, a empresa vai priorizar a venda de drones e de treinamentos para que os próprios parceiros respondam pelo serviço.

A oferta inclui serviços de manutenção e softwares de controle das operações. Com essa última ponta, além de receitas recorrentes, a Speedbird pode atender, inclusive, seus concorrentes. A empresa já tem negociações nesses moldes em mercados como a África e o Oriente Médio.

Novos recursos

Para viabilizar esses planos, a empresa mira outras duas escalas. A primeira, em vias de ser concluída, é uma extensão de US$ 2 milhões da rodada levantada em maio. Prevista para meados de 2023, a segunda é a captação de um novo aporte em torno de US$ 15 milhões a US$ 20 milhões.

“Em quatro anos, nós levantamos US$ 5 milhões. Ainda estamos aquém do que outras empresas lá fora captaram”, diz Coelho. “E, mesmo com menos recursos, já estamos entre os nomes mais reconhecidos nesse mercado.”

A Speedbird está, de fato, atrás de seus pares no exterior em termos de recursos. As americanas Zipline e Matternet, por exemplo, já levantaram, respectivamente, US$ 491 milhões e US$ 31,1 milhões.

Com a projeção de movimentar US$ 63,6 bilhões em 2025, segundo a consultoria Insider Intelligence, o mercado de drones também inclui nomes como a Wing, empresa da Alphabet, holding do Google.

Outras gigantes estão se posicionando. São os casos da Amazon, com o serviço Amazon Prime Air; do Walmart, que investiu na DroneUp; e da Embraer que, em setembro, comprou uma fatia minoritária na também brasileira XMobots, em um deal antecipado pelo NeoFeed.

Essa distância não impediu que a Speedbird acumulasse uma boa bagagem, com um volume mensal de mil voos e 15 projetos, boa parte deles com status comercial. Essa base tem nomes como iFood, Natura, BRF, Claro, Hermes Pardini e Neodent, e entregas em praças como Aracaju, Florianópolis, Belo Horizonte e Salvador.

Com o apoio da prefeitura e 12 pontos de pouso e decolagem, o projeto de Salvador dá a medida de como a startup planeja avançar no País. Essa rota já está sendo compartilhada pelo iFood, a Natura e o Hermes Pardini.

O drone da Speedbird Aero durante voo em Salvador (BA)

Em 2023, o Rio de Janeiro será incluído nesse mapa, em uma parceria com a Ambev. Com o voo inaugural em 9 de janeiro, o projeto envolve uma primeira rota de 7 quilômetros, entre o CD da Ambev, em Jacarepaguá, e a Barra da Tijuca. Na última milha, os produtos serão entregues por outros modais.

O drone usado será o DLV2, com capacidade de transportar até 8 kg e um tempo médio para cumprir esse percurso de 8 minutos. “Hoje, esse trajeto leva, em média, 50 minutos de moto e 1h15 de carro”, diz Juliana Saad, diretora de customer success da Speedbird Aero.

O projeto integra o Sandbox.Rio, iniciativa da prefeitura carioca para testar produtos e serviços inovadores, e prevê a inclusão de outras duas rotas na capital fluminense.

“Os exemplos do Rio e de Salvador ilustram o que a iniciativa pública e a iniciativa privada podem fazer juntas nesse espaço”, diz Saad. “O que a gente espera é que esses projetos instiguem outras cidades a seguirem o mesmo roteiro.”