Às vésperas de completar meio ano na Casa Rosada, o presidente da Argentina, Javier Milei, começa a ver os primeiros resultados de sua estratégia de governo, marcada por um choque econômico duríssimo para controlar a inflação e busca de apoio internacional para atrair investimentos para o país.

Na última semana de maio, o presidente argentino avançou ainda mais na segunda perna de sua estratégia, partindo para os Estados Unidos, em sua sétima viagem ao exterior em cinco meses no cargo.

Depois de obter um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em meados do mês para desbloquear o desembolso de US$ 800 milhões de um empréstimo-ponte, Milei desembarcou em São Francisco na segunda-feira, 27 de maio, para uma série de reuniões privadas, entre elas com três dos maiores nomes do Vale do Silício: o CEO do Google, Sundar Pichai, o chefe da Apple, Tim Cook, e o fundador da Meta, Mark Zuckerberg.

Conforme adiantou em entrevista recente ao jornal La Nación, Milei planeja transformar a Argentina no quarto maior polo do mundo de inteligência artificial (IA). Para isso, pretende oferecer aos líderes da indústria tech as reservas abundantes e em grande parte inexploradas de lítio do país – metal usado para alimentar baterias de celulares, laptops e veículos elétricos, entre outras aplicações.

Com uma série de projetos de desenvolvimento em andamento, a produção de lítio da Argentina poderá triplicar este ano, segundo a S&P Global.

O lítio já havia sido tema de uma visita em separado de Milei aos EUA no mês passado, quando se reuniu com o bilionário Elon Musk na fábrica de carros elétricos da Tesla em Austin, Texas. Segundo Milei, Musk se mostrou “extremamente interessado” no lítio argentino.

O presidente argentino deveria se reunir novamente com o CEO da Tesla na quinta-feira, 30 de maio. Sua agenda do dia previa ainda uma reunião com o CEO da OpenAI, Sam Altman, no Pacific Summit, encontro de líderes do Vale do Silício.

Depois de se reunir nos últimos dias com Pichai e Cook, Milei tem encontro privado com Zuckerberg antes de retornar à Argentina.

Vitória política

A viagem com o presidente argentino coincidiu com uma grande vitória política no cenário interno. Na noite de quarta, 29, o chefe da Casa Civil, Guillermo Francos, conseguiu vencer a resistência da oposição no Congresso ao diálogo para a aprovação dos dois pacotes de lei com os quais pretende reorganizar a economia argentina, a Lei de Bases e a Lei Ônibus.

Os projetos poderão ser discutidos no Congresso – onde Milei tem menos de 15% das cadeiras, tanto na Câmara quanto no Senado – já  na próxima semana, após o governo fazer concessões aos governos provinciais (estaduais) na Lei de Minas e na Lei de Lucros.

A aprovação é fundamental para Milei avançar na agenda interna. Seu governo já enfrentou duas greves gerais e protestos de rua contra as medidas de austeridade propostas para combater a profunda crise econômica do país.

O fato é que Milei vem colecionando vitórias importantes, obtendo no primeiro trimestre o primeiro excedente fiscal da Argentina em 16 anos, além de reduzir a trajetória de alta da inflação.

A inflação de abril teve avanço de 8,8% - foi a primeira vez que o índice fecha o mês em um dígito em seu governo. Quando assumiu o cargo, na metade de dezembro de 2023, a inflação mensal estava em 25,5%. Em janeiro, ela registrou uma forte redução e ficou em 20,6%. Em fevereiro passou para 13,2% e em março, para 11%. A inflação anual, no entanto, segue altíssima, em 289,4%.

Milei vem restringindo drasticamente os gastos do governo e eliminando milhares de empregos no setor público. Também congelou projetos de obras públicas e cortou subsídios.

Na área monetária, desvalorizou o peso, em queda livre, em mais de 50%, ajudando-o a estabilizar – causando inicialmente um salto nos preços, mas que agora contribui para subirem mais lentamente.

Conforme afirmou o economista Nicolás Alonzo, analista-chefe da consultoria Orlando Ferreres e Asociados, de Buenos Aires, em recente entrevista ao NeoFeed, Milei aos poucos consegue vencer a resistência interna.

“Sua popularidade sofreu pouco apesar do ajuste e da queda da atividade”, disse o economista. “Isso é positivo para o governo.”