O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) iniciou nesta terça-feira, 7 de maio, sua reunião de dois dias para definir como ficará a taxa de juros.

O encontro da autoridade monetária é considerado o mais importante desde o início do corte de juros, em agosto de 2023, quando teve início o ciclo de redução da Selic, que naquele mês era de 13,75% ao ano.

Desde então, foram anunciados seis cortes consecutivos, de 0,50 ponto percentual (pp), com os juros atingindo o nível atual de 10,75% ao ano.

A expectativa do mercado financeiro é grande porque a deterioração do cenário externo - com o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) adiando seguidas vezes o início do ciclo de cortes de juros – aliada à piora do quadro fiscal brasileiro estão levando vários analistas a preverem que o Copom anuncie desta vez um corte menor, de 0,25 pp.

Além da decisão da equipe econômica do governo Lula de alterar a meta de zerar o déficit fiscal em dezembro de 2024 para o ano seguinte – anunciada um mês depois da última reunião do Copom, ocorrida em 19-20 de março -, o mercado voltou a elevar a projeção de inflação para 2025, segundo o levantamento do Boletim Focus desta segunda-feira, 6 de maio.

Na opinião de analistas, a convergência da inflação para a meta é o foco principal do BC, o que pode levar a uma redução do ritmo do corte de juros na reunião desta quarta-feira, 8 de maio.

Outros fatores poderiam, em tese, influenciar na decisão do Copom. Do provável impacto das enchentes no Rio Grande do Sul no índice de inflação, passando pelo resultado das estatísticas fiscais referentes a março, divulgado pelo BC em 6 de maio, devem ser analisados pelos nove membros do Copom, incluindo o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Como ocorre sempre às vésperas da reunião do órgão do BC, as especulações em relação ao ritmo de corte da Selic aumentaram nos últimos dias. Um relatório do BTG Pactual com gestoras, traders, economistas e estrategistas de instituições financeiras indica que 74% dos analistas apostam num corte de 0,25 pp da Selic pelo Copom.

A mesma pesquisa, porém, mostra que 52% dos especialistas ouvidos esperam uma reunião com dissenso entre seus integrantes, em um indício de como o resultado é imprevisível.

O levantamento foi feito antes da divulgação da Nota de Estatísticas Fiscais do Banco Central, com os dados referentes a março, em 6 de maio. No mês, o setor público consolidado apresentou superávit primário de R$ 1,2 bilhão.

O resultado positivo foi obtido por conta do superávit de R$ 3,4 bilhões dos entes regionais, uma vez que o governo federal e as estatais tiveram déficit, de R$ 1,9 bilhão e R$ 343 milhões, respectivamente – confirmando o governo federal como grande responsável pela deterioração das contas públicas nos últimos 12 meses.

Empate nos palpites

O NeoFeed coletou projeções de economistas-chefes de quatro instituições financeiras sobre o provável corte da Selic de amanhã e as razões que sustentam sua opinião. Como a maioria dos analistas, nenhum prevê interrupção do ciclo de redução de juros.

Dois deles apostam na manutenção de corte de 0,50 pp e outros dois, em 0,25 pp. Todos admitem que os argumentos contrários ao seu palpite são válidos.

Para Luis Otavio Leal, economista-chefe da gestora G5 Partners, a reunião do Copom é importante não apenas porque seus nove integrantes terão de decidir entre um corte de 0,25 pp ou de 0,50 pp.

“Além disso, será preciso analisar se a decisão será unânime, se o placar será 8 a 1 ou 6 a 3, por exemplo, e a indicação que o BC vai dar para frente, porque, desta vez, está tudo em aberto”, afirma Leal.

O economista da G5 Partners aposta numa redução em 0,25 pp da Selic e alinha alguns indicativos. Um deles foi a decisão do governo de adiar por um ano, para 2025, a meta de zerar o déficit fiscal.

O anúncio, diz, tem consequências que vão além do potencial de alterar o ritmo de queda dos juros. “Pode atrapalhar a Selic terminal, a trajetória de dívida fica pior, além disso, os prêmios de risco sobre as taxas no Brasil ficam maiores, o que diminui espaço pra reduzir os juros”, adverte.

O possível impacto das cheias no Rio Grande do Sul na economia também deve ser analisado na reunião do Copom, afirma o gestor da G5 Partners.

Segundo ele, o Copom tem de avaliar não só um possível impacto da tragédia gaúcha na inflação – mercado estima aumento de 0,1% a 0,2% no índice do IPCA, por causa das perdas da colheita de soja e arroz – como os gastos públicos para ajudar na reconstrução do estado.

“Embora as perdas de colheita representem um choque de oferta temporário, esses gastos extras para reconstruir a infraestrutura gaúcha serão relevantes, por isso, mesmo que o tema não seja primordial para o Copom decidir sobre o ritmo de corte dos juros, o órgão certamente vai avaliar o assunto”, afirma.

Opiniões divergentes de outros especialistas para a decisão do Copom em relação aos dois temas mais citados – mudança de meta do governo e impacto das cheias no Rio Grande do Sul – indicam como é subjetiva uma projeção sobre como fica a Selic.

Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, aposta na manutenção do ritmo de 0,50 pp de queda na Selic.

Embora admita que há bons argumentos também pelo corte de apenas 0,25 pp, ele acredita que os comentários do presidente do BC em Washington, após a mudança de meta fiscal do governo, ocorreram no auge do stress nos mercados, quando a taxa de câmbio se aproximou de R$ 5,30, sendo que desde então o real se valorizou 4%, situando-se um pouco acima de R$ 5,05.

“Nosso entendimento é de que houve uma diminuição das incertezas desde a data das declarações do presidente do BC”, acrescenta.

O estrategista da Warren, porém, não acredita que a cheia no Rio Grande do Sul possa impactar na decisão de amanhã do Copom.

“A princípio, um choque de oferta não deveria afetar a política monetária, a não ser que gerasse efeitos secundários relevantes”, assegura Goldenstein.

Selic a 10% em junho

Leonardo Porto, economista-chefe do Citi Brasil, é outro que aposta na manutenção do corte de 0,50 pp na Selic, embora reconheça que o resultado deverá ser provável “por pouco”.

“Esta decisão viria acompanhada de uma comunicação agressiva que reconhece um nível terminal mais elevado do que se pensava anteriormente para a taxa Selic, potencialmente mudando a mensagem de orientação futura para uma abordagem dependente de dados”, assinala Porto, em informe aos clientes assinado com outros economistas do banco, como Paulo Lopes e Thais Ortega.

Porto prevê que o atual ciclo de corte da taxa de juros será interrompido com uma taxa Selic em 10,0% em junho, com o ano fechando num consenso entre 9,5% e 9,75%.

Assim como Leal, da G5 Partners, outro que aposta numa redução do ritmo de corte da Selic para 0,25 pp é Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine.

Ele cita a “mensagem suficientemente forte” de Roberto Campos Neto, em Washington, para alterar a sinalização anterior do Copom. “Em minha opinião, Campos Neto deixou bem claro que o ritmo de corte deve ser ajustado para a nova realidade ou cenário”, diz.

Oliveira acredita que o cenário mais provável é o Copom reduzir o ritmo para 0,25 pp por reunião e realizar pelo menos quatro cortes dessa magnitude, levando a Selic para 9,75% no final do ano.

Sobre o impacto da tragédia gaúcha na inflação, Oliveira diz que o tema não deve influenciar a decisão de amanhã do Copom. “O que ocorre no Sul é um choque de oferta”, assegura.