O anúncio dos dados consolidados da economia dos Estados Unidos em 2023, na quinta-feira, 25 de janeiro, trouxe algumas surpresas – como um crescimento acima do esperado –, sinalizando uma dianteira econômica dos EUA em relação a outras nações ricas.

De acordo com os números divulgados pelo governo americano, o Produto Interno Bruto (PIB) do país avançou 3,1% no ano passado, acima da expectativa de analistas, que esperavam um índice de 2,5%.

Os dados indicam que os EUA devem mesmo afastar o risco de uma recessão em 2024, sendo ainda o primeiro país entre as nações ricas a deixar para trás o ciclo de inflação alta e juros elevados que atingiu a economia global na era pós-pandemia.

Os países da União Europeia e o Reino Unido, por exemplo, ainda têm crescimento baixo e sob ameaça de recessão. A China, além de enfrentar redução da produção industrial e de consumo, ainda luta contra uma deflação, que inibe investimentos e a expansão econômica.

Uma análise pormenorizada do crescimento do PIB americano reforça as diferenças em relação ao desempenho de outras nações ricas.

O crescimento dos EUA foi impulsionado fortemente pelo aumento do consumo das famílias, o que foi visto por analistas como um sinal de confiança na recuperação da economia.

O mercado de trabalho forte e o aumento dos salários permitiram que muitas famílias continuassem a gastar dinheiro – especialmente em serviços como entretenimento, viagens e refeições fora de casa – mesmo com a inflação em queda, mas persistente (3,4% ao ano).

A política governamental desempenhou um papel importante no apoio à economia americana no ano passado. Os esforços da administração Biden para financiar obras de infraestrutura e projetos de energia limpa criaram novos empregos e estimularam US$ 640 bilhões em investimentos privados em todo o país.

Esse avanço refletiu no mercado de ações dos EUA, com dois dos principais índices –  S&P 500 e Dow Jones Industrial Average – batendo recordes na última semana. A expectativa agora é pelo início do ciclo de corte das taxas de juros pelo Federal Reserve, o banco central dos EUA, previsto para meados do semestre.

Pessimismo

Em outras nações ricas, porém, o clima é mais de pessimismo do que de perspectivas positivas. Enquanto os EUA comemoravam o crescimento do PIB, o Banco Central Europeu (BCE) anunciava a manutenção da taxa de juros em 4% ao ano, mesmo índice desde setembro.

Embora o índice do desemprego continue baixo, a inflação na zona do euro atingiu 2,9% em dezembro.
O comunicado do BCE esfriou qualquer expectativa, ao ressaltar a manutenção das taxas de juro “neste nível durante um período suficiente” para que a inflação baixe próximo da meta de 2%. O dólar se valorizou frente ao euro após o anúncio.

“Parece altamente improvável que o BCE reduza as taxas antes do Fed, dado que a desaceleração da inflação dos EUA é mais acentuada do que a da Europa”, afirma Morgane Delledonne, diretora de research da Global X ETFs.

O mesmo é esperado na Grã-Bretanha, onde analistas esperam um crescimento do PIB em 2023 de apenas 0,5%, em comparação ao de 3,4% de 2022. A inflação, de 4,2% ,também está distante da meta de 2%.

A China, que costuma surpreender pelo crescimento de sua economia, também tem pouco a comemorar. O avanço do PIB em 2023, de 5,2%, não reflete o cenário local.

As estatísticas oficiais divulgadas este mês mostraram que a segunda maior economia do mundo teve um desempenho inferior em quase todos os indicadores econômicos.

Além da ameaça contínua da deflação, fruto do excesso de capacidade e baixo consumo, o país ainda enfrenta queda de exportações e importações, desemprego elevado entre os jovens e um mercado de ações decepcionante – o índice Hang Seng caiu 10% apenas neste ano, enquanto os índices Shanghai Composite e Shenzhen Component caíram 7% e 10%, respectivamente.

O Fundo Monetário Internacional traçou em novembro uma previsão de que  crescimento da China desaceleraria em 2024 para apenas 4,6%. Para a União Europeia, a expectativa é de um avanço do PIB de apenas 0,6%.

A projeção para o PIB de 2024 dos EUA, crescimento de 2%, embora inferior ao índice atual, promete ser mais consistente, acompanhado de redução de índices que alimentam a inflação, como o consumo das famílias e de novas vagas de emprego, além da queda da taxa de juros.

Se o mercado de ações americano mantiver a tendência de alta, em especial dos papeis das empresas de tecnologia, a expectativa é que os EUA avancem ainda mais na dianteira que vêm tomando em relação à economia de outras nações ricas.