De todos os efeitos provocados pela pandemia na economia global, a inflação foi a que mais causou problemas para as populações e governos de todos os países, em especial, do Primeiro Mundo, que há três décadas não lidava com aumento de preços em grande escala e outros efeitos colaterais, como a elevação da taxa de juros.

A boa notícia é que a inflação em todo o mundo, incluindo o Brasil, está desacelerando muito mais rápido do que o esperado. Com isso, o pesadelo da inflação em alta, que contaminou a economia global desde meados de 2021, deve retomar a patamares baixos até o final de 2024, encerrando um ciclo de três anos.

Analistas nos EUA e Europa já preveem até um ano “monótono” em 2024, sem fortes emoções - como abruptas elevações de juros pelos bancos centrais -, mas com crescimento baixo e inflação sob controle.

Duas características são citadas por especialistas sobre o recente ciclo da inflação global. Uma delas foi o fato de atingir praticamente todas as economias do planeta de forma simultânea. Outra foi a rapidez com que o ciclo de inflação elevada começou a ceder, graças aos aumentos das taxas de juros pelos BCs.

A escalada global da inflação teve início com o súbito aumento do preço dos bens durante a pandemia, devido à desarticulação das cadeias produtivas e do transporte marítimo em nível mundial, além da forte demanda causada pelo estímulo fiscal e monetário dos países para movimentar a economia interna.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, no início de 2022, agravou o quadro, elevando os preços de energia e alimentos, fazendo com que a inflação atingisse picos mais elevados em décadas em vários países.

A inflação na zona do euro, por exemplo, que sofreu com o corte do gás russo, chegou ao índice anual de 10,6% em outubro de 2022, o triplo do registrado um ano antes. Em novembro, fechou em 2,4%.

O Reino Unido, também afetado pelos efeitos da guerra, registrou inflação anual de 11,1% no mesmo outubro daquele ano, o maior índice em 41 anos, e no mês passado registrou 3,9%.

Mesmo não sendo diretamente afetados pelo corte de fornecimento do gás russo, os Estados Unidos também tiveram um índice elevado, 9,2% em junho, o maior desde a década de 1980, caindo para 3,1% em novembro.

Relatório da consultoria Oxford Economics estima que a inflação atinja 1,3% no quarto trimestre do próximo ano na zona do euro e 2,7% no Reino Unido. Nos EUA, o recuo deverá ser maior, para 2,2%.

A inflação mais elevada do Brasil no pós-pandemia, de 10,6%, foi registrada no final de 2021. Por isso, o BC foi um dos primeiros do mundo a começar a elevar a taxa de juros.

Como efeito da política monetária restritiva, o País também foi um dos primeiros a baixar a inflação. Dos 10,6% de 2021, o índice anual do IPCA caiu para 5,70% em 2022 e deve fechar o ano abaixo de 4,70%. Em novembro, ficou em 4,68%.

Trajetória de queda

A retomada das atividades no pós-pandemia causou impacto no mercado de trabalho, com novas contratações e elevação da média salarial, além de reduzir os índices de desemprego nos EUA e Europa (3,8% e 6,5%, respectivamente) e também no Brasil (7,5%). O combo ajudou a alimentar a inflação de serviços.

A normalização das cadeias de abastecimentos e dos preços das matérias-primas, por sua vez, ajudou a reduzir os custos da energia e a estabilizar o dos alimentos ao longo de 2023.

De acordo com relatório do Goldman Sachs, os mercados de trabalho em muitas das principais economias também começaram a reequilibrar-se nesse ano, abrandando o crescimento salarial, um dos principais contribuintes para os custos dos serviços. Isso deve continuar em 2024.

Juros mais baixos

A outra boa notícia para 2024 é a redução das taxas de juros que, a exemplo da inflação, deverão retomar para níveis pré-pandemia entre 2024 e 2025.

Com a inflação desmoronando em todo o mundo, os estrategistas do Bank of America projetam 152 cortes globais nas taxas de juros dos bancos centrais no próximo ano, os maiores desde 2009.

O Brasil foi um dos países que mais sofreram com a política contracionista do BC para controlar a inflação, saindo de um patamar da taxa Selic de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,75% em agosto de 2022, mantendo-se nesse índice nos 12 meses seguintes.

Nos últimos quatro meses, o BC vem cortando 0,50 ponto percentual da Selic a cada reunião mensal do Comitê de Política Monetária (Copom). A taxa de juros hoje está em 11,75% ao ano.

No último relatório Focus, do BC, de terça-feira, dia 26, a estimativa do mercado para a taxa Selic em 2024 estava em 9%.

Os juros no Brasil ainda são elevados se comparados aos do Primeiro Mundo. O Federal Reserve (BC dos EUA) aumentou as taxas de juros quatro vezes em 2023, que se mantiveram estáveis desde julho, na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano.

O Fed prevê três cortes nas taxas em 2024, na esperança de reduzir a banda para um patamar entre 2% e 2,25% até 2026.

Na Europa, o ritmo de redução de juros deve ser mais lento. O Banco da Inglaterra, o BC britânico, deve manter os juros em torno de 5,25% até o terceiro trimestre de 2024 e depois diminuir gradualmente para 4,25% até o final de 2026.

Na zona do euro, o BCE mantém as taxas de juros em 4,5%. A previsão de cortes ao longo de 2024 só terá início se a inflação baixar para próximo da meta de 2% estipulada pela autoridade monetária, o que deve ocorrer a partir do segundo trimestre.