Em 1º de novembro, o mercado financeiro tem encontro marcado. Será mais uma “Superquarta” – a penúltima de 2023 caracterizada pelo calendário coincidente de decisões de política monetária no Brasil e nos EUA.

Véspera do feriado de Finados, a data não reserva emoção por resultados quantitativos, mas por um cenário mutante e pela combinação de riscos. Moderados no Brasil, nem tanto nos EUA.

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Prevalece a expectativa de redução da Selic pelo BC em 0,50 ponto, para 12,25%, e manutenção da taxa básica pelo Federal Reserve (Fed) no intervalo de 5,25% a 5,50%.

No Brasil, a perspectiva é de queda contínua do juro até o terceiro trimestre de 2024. Nos EUA, a taxa está sujeita a aumento em dezembro e, talvez, além, inspirado no combo: atividade resistente, mercado de trabalho ainda forte e desinflação lenta.

Na primeira prévia do terceiro trimestre, anunciada na quinta-feira, 26 de outubro, o PIB dos EUA cresceu 4,9% – superior à projeção de 4,5% e muito acima do avanço de 2,1% no segundo trimestre. Resultado que justifica mais atenção ao posicionamento do Fed.

Em contraponto à certeza quanto ao ajuste dos juros e ao avanço da pauta econômica no Congresso Nacional, o déficit zero no Brasil em 2024 segue questionado por analistas que passaram a monitorar mais do que nunca, porém, o risco externo.

No momento, além de potenciais desdobramentos do conflito no Oriente Médio, o risco externo é representado por pressões fiscais e políticas que retardam decisões no Congresso americano e favorecem o “contágio” da alta dos Treasuries às taxas locais de prazos mais longos.

Há cerca de dois meses, desde que a Fitch Rating rebaixou a nota de crédito dos EUA, o risco fiscal do país entrou explicitamente no radar de analistas locais por ter levantado a bola sobre a dívida americana que alcançou US$ 33 trilhões em setembro.

Endividamento inédito, maior oferta de títulos e a sinalização do Fed – anterior à divulgação do PIB – de que o juro poderá permanecer elevado por um bom tempo agravaram a deterioração dos Treasuries que reprisam recordes desde 2007. Investidores passaram a exigir mais prêmios por temerem um apagão fiscal.

Não à toa, o risco de paralisação da máquina pública da maior economia do mundo levou, no fim de setembro, a um acordo na Câmara dos Representantes e à aprovação de um aumento no teto da dívida americana. Mas com data para acabar: 17 de novembro.

A contagem regressiva para novos embates sobre o teto da dívida gera expectativa. Mas embates poderão ser contidos, graças à definição do novo presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, eleito na quarta, 25 de outubro. Por três semanas, a Câmara ficou desgovernada.

Brasil leva vantagem sobre radicalização nos EUA

Nos próximos dias, estará em teste o apoio do Partido Republicano ao novo presidente. E, com sorte, poderá ser superada a alta tensão que prevaleceu nos mercados devido à destituição do agora ex-presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy.

A queda inédita de um ocupante do cargo e tentativas frustradas de eleger um substituto revelaram a força de radicais republicanos – alinhados a Donald Trump – que desaprovaram a negociação de McCarthy com o governo Biden pelo acordo sobre o teto da dívida.

Outro ponto crítico que atiça a discórdia parlamentar é a ajuda de Washington à Ucrânia. O socorro financeiro a Israel e a aprovação de um orçamento suplementar para manter o governo funcionando depois de novembro ampliam a lista de questões a resolver.

Analistas internacionais não veem calmaria duradoura, ante o calendário eleitoral, uma vez que o próximo presidente dos EUA será eleito daqui a um ano. É imprudente, portanto, ignorar o panorama que interfere (e continuará interferindo) nas análises de risco e na precificação de ativos no mundo inteiro.

Em meio a esse cenário turbulento, o Brasil está em vantagem. O retorno do presidente Lula ao Planalto e a “concessão” do comando da Caixa ao indicado do presidente da Câmara, Arthur Lira, ativaram as votações na Casa. E o avanço de propostas cruciais para fomentar a arrecadação – caso dos fundos offshore e exclusivos.

Paralelamente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, colocou em marcha a sucessão de dois diretores do BC. Os mandatos de Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e Riscos Corporativos) e Mauricio Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) expiram em 31 de dezembro.

Ao contrário do que ocorreu no primeiro semestre, quando dois diretores foram substituídos apenas cinco meses após o término dos mandatos, desta vez Haddad se move para garantir que os próximos indicados sejam aprovados pelo Senado até 23 de dezembro, antes do recesso parlamentar.

Chancelados pelos senadores, os novos diretores participarão do primeiro Copom de 2024, em janeiro, quando o Comitê – de oito membros e o presidente do BC – passará a ter quatro integrantes indicados no governo passado e quatro no governo Lula.

A ver, se o placar 50 a 50 favorecerá a torcida ou o empenho do governo para garantir cortes maiores ou mais rápidos do juro.