Em dezembro deste ano, chega ao Brasil o recém-lançado relógio Carrera Chronograph em ouro amarelo, da TAG Heuer. Já há lista de espera pelo modelo de R$ 140 mil.
“Sempre que surge uma questão de insegurança, como as guerras, os consumidores ficam mais conservadores. E assim o ouro amarelo ganha força e vira tendência na relojoaria”, diz ao NeoFeed Freddy Rabbat, distribuidor da marca no Brasil há seis anos.
De uma forma geral, o modelo é mais uma demonstração do processo de sofisticação da grife suíça, que integra o grupo LVMH. O reposicionamento ganhou mais força há cinco anos quando Fréderic Arnault, herdeiro de Bernard Arnault, dono do conglomerado de luxo, assumiu como CEO da TAG Heuer.
O público brasileiro, diz Rabbat, está investindo em relógios de maior valor e com mais “complicações”. “Aqueles que faziam compras fora do País passaram a comprar aqui na pandemia. E mesmo com a retomada das viagens, eles se mantiveram aqui. Finalmente descobriram que praticamos o mesmo preço internacional, só que parcelado.”
O tíquete médio da marca hoje é R$ 20 mil, e o modelo de entrada, o Fórmula 1, sai em torno de R$ 7 mil. A linha Carrera, a mais sofisticada marca, responde por um terço do resultado da TAG no Brasil.
Com o incremento do mercado interno, a TAG triplicou as vendas entre 2019 e 2022 em três boutiques próprias, duas em São Paulo (shopping Cidade Jardim e Shops Jardins) e uma no Rio (Village Mall) e nas 32 joalherias parceiras.
O resultado foi mais um incentivo para a matriz autorizar a abertura da primeira franquia da marca no país, capitaneada pela joalheria Bergerson, no shopping Pátio Batel, em Curitiba.
“Foi uma longa negociação, mas o desempenho da Bergerson com a marca é impecável. E, durante a pandemia, conseguimos a autorização para que eles vendessem TAG Heuer pelo e-commerce.”
Este ano, avalia Rabbat, a TAG prevê crescer entre 7% e 10% e o mesmo “deve se repetir” no próximo ano. “Se tudo continuar como está na área fiscal temos como ter mais duas franquias no país, no Sul ou Sudeste.”
“Mas se apenas um dos impostos fosse reduzido, o de importação, por exemplo, teríamos a oportunidade de ter até 15 lojas no Brasil. A pandemia mostrou o potencial do mercado brasileiro quando não exportamos viajantes.” No mundo, a TAG conta hoje com 260 boutiques e dois mil pontos de venda.
Os dados da indústria suíça de relógios, diz ele, mostram que o México, onde o imposto para relógios suíços é “praticante zero”, é “sete vezes maior que o Brasil”. Até mesmo a Argentina e Colômbia, destaca, importaram o mesmo número de relógios que o Brasil em 2022. “A reforma tributária poderia deslanchar o verdadeiro potencial do país para o setor de luxo.”
O maior vínculo do público brasileiro com a marca foi criado pelo piloto Ayrton Senna, que usava um modelo TAG de quartz, a grande inovação da indústria promovida pelo Japão na década de 80. Carregando sempre o relógio no pulso, ele conquistou o patrocínio da marca suíça.
Fundada em 1860, a TAG sempre reforçou sua conexão com os esportes, em especial o automobilismo, como a F1 e a prova Carrera Panamericana, no México (inspirada nas Mil Milhas), que batiza sua longeva linha até hoje.
Quando a indústria suíça se viu ameaçada pela força do smartwatch da Apple junto ao público jovem, a TAG foi a marca de luxo pioneira na categoria com o modelo Connected, em 2015. E posteriormente abraçou o futebol, um passo criticado na época por acenar para um "desvio de rota". Chegou a ser a cronometrista oficial da Premier League em 2016 e ter as equipes de arbitragem usando o modelo conectado da marca.
O “resgate da sofisticação” foi feito por Fréderic Arnault, em especial em 2021, com a parceria firmada com a Porsche em relógios. As duas companhias já tinham ligação nas corridas, com os cronógrafos.
O executivo de 28 anos tem uma conexão afetiva com a marca desde criança, quando seu pai o presentou com o primeiro relógio, um TAG. Sua missão, desde que entrou como estagiário na companhia, foi unir a cultura digital com as "obras primas mecânicas."
A parceria com a grife de carros esportivos reforçou o foco no "motor e mecanismos" e inseriu a TAG num “clube” porque agora “todo mundo que tem um Porsche quer ter um TAG correspondente”, diz Rabbat.
“E quem ainda não tem o Porsche, com o TAG começa a entrar no circuito, indo nos eventos, por exemplo.” A dobradinha com a Porsche, diz Rabbat, trouxe uma nova clientela para a marca e funcionou como um estímulo para a venda de modelos de maior valor no Brasil.
No ano passado, a TAG lançou uma edição limitada inspirada no Porsche 911 Carrera RS 2.7, esportivo de 1973. Foram produzidos somente 2100 unidades disputadas a tapa pelos colecionadores. “A versão em aço chegou a ser vendida no mercado secundário por até seis vezes o valor original.” Ou seja, o equivalente a R$ 300 mil.
Os donos desse Porsche “ficaram loucos para ter esse Carrera, inclusive no Brasil.” Rabbat, que também é presidente da Abrael ( Associação Brasileira das Empresas de Luxo) e um “porschemaníaco”, diz que a previsão da marca alemã de esportivos é chegar quatro mil carros vendidos este ano no Brasil. Grupo ansioso para as próximas edições dos relógios. “Passamos a ser os queridinhos deles”, brinca.