Conhecida como a Uber da aviação executiva, a Flapper levantou R$ 30 milhões em novembro de 2022, em uma extensão da sua rodada série A. Com a assinatura da DXA Invest e do fundo Arien Invest, o novo cheque foi o combustível para a startup mineira buscar voos mais ambiciosos, inclusive fora do Brasil.

Em paralelo, o aporte foi o primeiro teste para outra dupla, que assessorou a captação e, agora, começa oficialmente a levantar voo: a Liga Advisia, joint venture formada pela Liga Ventures - rede que conecta startups a grandes empresas - em parceria com a boutique de M&A Advisia Investimentos.

Antecipada com exclusividade ao NeoFeed e com as duas sócias detendo fatias de 50% na operação, a nova estrutura vai assessorar investimentos e M&As ao conectar startups com os aportes e aquisições encampadas por investidores estratégicos, em particular, empresas de maior porte.

“A Liga conhece as dores e oportunidades desse ecossistema e a Advisia entende muito bem o playbook e tem todo o know-how de uma transação”, diz Raphael Augusto, sócio da Liga Ventures, ao NeoFeed. “A ideia é mesclar esses dois mundos e ocupar um espaço que ainda não tem um player especializado.”

Nessa combinação, a Liga Ventures, fundada em 2015, traz para mesa um portfólio de mais de 500 projetos envolvendo startups e mais de 120 empresas, entre elas Porto, Banco do Brasil, Mercedes-Benz e Mondelez. Na ponta das startups, a plataforma tem mapeadas mais de 45 mil empresas no País e na América Latina.

De olho nesses números, Alexandre Cracovsky, vice-presidente de M&A da Advisia Investimentos e o executivo da empresa à frente da joint venture, observa que um dos racionais para a parceria foi a demanda gerada por seus clientes no buy-side por acordos nessa esfera.

“São transações menores, mas envolvendo empresas que, potencialmente, vão trazer um investidor estratégico ou abrir capital lá na frente”, afirma Cracovsky. “Se você não entra nessa operação desde o início, dificilmente vai participar desse crescimento. E nós não tínhamos acesso a esse mundo.”

Fundada em 2009, a Advisia tem maior foco em acordos que variam de R$ 50 milhões a R$ 1 bilhão, com um histórico de 120 transações, que movimentaram mais de R$ 10 bilhões. Entre elas, a venda da GreenLine, por R$ 1,2 bilhão, para a NotreDame Intermédica, e uma série de aquisições da Oncoclínicas.

Para a dupla, a joint venture vai ao encontro de duas tendências. De um lado, as startups, antes muito concentradas em atrair o capital de risco tradicional, começam a buscar alternativas para seguirem financiando suas operações em um momento em que os fundos de venture capital estão mais seletivos.

“Ao mesmo tempo, neste ano, os valuations estão um pouco mais estabilizados e o mercado vem se aperfeiçoando”, observa Cracovsky. “Nesse cenário, as startups entraram definitivamente na agenda das empresas de maior porte, que têm bolso para buscar e financiar essas oportunidades.”

Do sell-side ao buy-side

Nesse contexto, o plano da Liga Advisia é atuar tanto no sell-side quanto no buy-side. Além de assessorar essas duas pontas em M&As, a operação vai prestar serviços como a estruturação de dívidas e financiamento e a preparação para a captação de rodadas de investimentos ou uma futura aquisição.

No que diz respeito às startups, a ideia é atender negócios com faturamento anual acima de R$ 5 milhões até operações mais maduras, em fase de captação de uma Série B. Em relação aos tíquetes envolvidos nas transações pode variar de R$ 4 milhões e, em alguns casos, chegar a até R$ 500 milhões.

Já em termos de segmentos com mais oportunidades no sell-side e mais apetite para M&As no buy-side, a dupla cita setores como logística, varejo e saúde. Além de projetos ligados a tecnologias e questões como analytics, inteligência artificial, experiência do consumidor e desintermediação de cadeias.

Em operação desde o fim de 2022, a Liga Advisia já tem seis mandatos ativos e outras duas conversas em andamento

Em operação, de fato, desde o fim de 2022, a Liga Advisia já tem seis mandatos ativos e outras duas conversas em andamento. Do total fechado, um terço já tem ofertas na mesa, um terço está em road show e o terço restante está em fase final de preparação.

Para escalar esses números, a escolha inicial tem sido justamente pescar oportunidades no aquário de startups mapeadas pela Liga Ventures. O próximo passo para ampliar essa esteira é fazer esse mesmo trabalho nas empresas de maior porte atendidas pela Liga e pela Advisia.

“Só no ano passado, a Liga avaliou e conversou com mais de 3 mil startups. Essa base de relacionamento é justamente o nosso ponto de partida”, diz Augusto. “E isso vai ganhando um efeito de rede. Desses oito mandatos que temos na mesa, metade foi originada dentro de casa e metade por indicações.”

A partir desse modelo, a projeção da Liga Advisia é encerrar seu primeiro ano de operação com uma base de transações que movimente valores na faixa de R$ 300 milhões a R$ 500 milhões.

A joint venture não é, no entanto, a única operação focada em M&As nesse espaço. Há que prefira, porém, seguir o caminho orgânico para assessorar essas transações. Esse é o caso da ACE, aceleradora e gestora de venture capital, fundada em 2012 por Pedro Waengertner e Mike Ajnsztain.

Em fevereiro desse ano, a ACE antecipou ao NeoFeed a entrada em operação de seu braço de atuação como uma boutique de M&As, conectando startups e empreendedores a grandes empresas. Com foco em acordos entre R$ 80 milhões e R$ 150 milhões, a previsão é realizar 30 deals até o fim de 2025.