A Dasa é um dos vários exemplos de empresas no Brasil, nos últimos anos, que tentaram abraçar várias teses, acabaram se endividando (a dívida liquida da empresa da família Bueno era perto de R$ 10 bilhões) e precisaram dar um passo atrás.

A missão de recolocar a companhia nos eixos e voltar para a “nova” tese de foco em medicina diagnóstica cabe agora a Rafael Lucchesi, um executivo que acumula 13 anos de companhia e que assumiu como CEO da Dasa há três meses.

“Percebemos que havíamos expandido muito a empresa, com uma tese de crescimento na nossa rede hospitalar. Com o agravamento da crise econômica, a partir de 2023, ficou claro que o custo de capital era muito alto”, diz Lucchesi, em entrevista ao NeoFeed.

Após a joint venture da Ímpar, sua área de hospitais, com a Amil, criando a Rede Américas, segundo maior grupo hospitalar do Brasil, com 25 hospitais, 30 unidades oncológicas e 4,5 mil leitos, a Dasa refez seu diagnóstico e voltou o foco para dentro de casa.

Segundo o CEO, a ideia é seguir o plano de desalavancagem. A Dasa ficou mais leve sob essa nova estrutura, ao transferir para a Rede Américas uma dívida de R$ 3,35 bilhões. Esse movimento gerou também um efeito positivo no balanço da companhia. No segundo trimestre de 2026, a alavancagem chegou a 2,82 vezes, contra 4,24 vezes do mesmo período do ano anterior.

O mais recente passo para garantir um volume de caixa foi a venda da operação da companhia na Argentina para o grupo Swiss Medical, e da empresa de medicina ocupacional Mantris. O negócio, que consistiu na venda dos laboratórios das marcas Diagnóstico Maipú e Labmedicina, garantiu R$ 705 milhões para a companhia, que serão usados para a redução da dívida de curto prazo.

A Dasa ainda mantém a gestão do hospital São Domingos, de São Luís (MA), do Hospital da Bahia, em Salvador, e da rede oncológica AMO, também baiana. Mas o CEO não descarta a possibilidade de venda dos ativos em um cenário de médio prazo.

“Eles estão em nosso portfólio, mas sempre estamos atentos a movimentos de mercado. Não há pressão para isso agora, mas dependendo das oportunidades que possam surgir, vamos avaliar”, diz Lucchesi.

Do lado operacional, a Dasa planeja ampliar as unidades de laboratórios e se concentrar em serviços como vacinas, serviço domiciliar e o segmento premium. “Vemos possibilidade de crescer organicamente, ocupando melhor nossas unidades, expandindo capacidade de equipamentos, avançando no atendimento particular. Queremos que circule mais gente por metro quadrado”, diz Lucchesi.

O plano de ação é atrair mais volume e recorrência, além de expandir os atendimentos com expansão física e uso de tecnologia. “Houve um momento que era de ‘abrir portas’ e hoje em dia é mais onde o sistema está precisando. Há unidades com alta ocupação, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro, e que há necessidade de crescimento”, afirma Lucchesi.

Com atualização de softwares e novos algoritmos com inteligência artificial, a Dasa planeja aumentar o volume de exames em máquinas em pelo menos 30% no mesmo tempo, com mais slots para marcações e aumento de produtividade.

No caso de vacinas, o foco é garantir mais parcerias com farmacêuticas para lançamentos exclusivos. Por isso que, segundo Lucchesi, não há uma “bala de prata” que pode representar a alavanca desta nova fase.

Outra frente de crescimento está na vertical B2B, com atendimento para cerca de 6 mil clientes no serviço terceirizado dos exames de outras clínicas. Hoje, esse volume já representa quase metade dos exames realizados pela Dasa.

Até pelo alto endividamento da companhia, nos últimos anos a empresa tem reduzido o volume de investimento. Nos primeiros seis meses, a empresa investiu R$ 123 milhões, com R$ 79 milhões para expansão e manutenção, e R$ 44 milhões em tecnologia.

Mas o mercado ainda está no modo de esperar para crer, acreditando que o maior risco para a “nova” tese da Dasa seja a sua execução.

“Reiteramos nossa posição neutra para a ação. Continuamos a ver a Dasa como um caso de investimento altamente dependente da execução bem-sucedida de sua estratégia de reestruturação”, informa um relatório do BTG Pactual, no começo de outubro.

O BB Investimentos, que também manteve sua posição neutra para a Dasa, avaliou também de forma “positiva o retorno do segmento de diagnósticos ao centro estratégico da companhia, considerando seu histórico de execução e crescimento para 2026”.

No segundo trimestre de 2025, a empresa registrou receita bruta consolidada de R$ 2,69 bilhões, 37% a menos do mesmo período de 2024, a R$ 4,3 bilhões, quando ainda contava com a vertical de operação dos hospitais. No segmento de diagnósticos, o faturamento foi de R$ 2,1 bilhões, 6% acima da mesma base do ano anterior.

No acumulado de 2025, as ações da Dasa na B3 acumulam queda de 22,9%. Em 12 meses, a desvalorização chega a 51,2%. A companhia está avaliada em R$ 1,81 bilhão.