O BNDESPar (braço de participações do BNDES) e a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) detêm 53% do capital da Tupy. Em acordo com os minoritários, o conselho de administração da companhia catarinense do setor de metalurgia vota na segunda-feira, 24 de março, a indicação de Rafael Lucchesi como novo CEO.

Na terça-feira, 18 de março, quando o mercado ficou sabendo sobre a mudança da liderança, a ação da Tupy caiu 7% na B3. Lucchesi será o substituto de Fernando Rizzo, que está no comando da empresa desde 2018. O mercado mostrou ceticismo com a indicação.

O NeoFeed conversou com fontes ligadas à empresa e de mercado para entender quem é Lucchesi e o que ele pretende fazer no comando da companhia.

As fontes ouvidas destacaram que existe um consenso entre os acionistas, inclusive muitos minoritários, de que a Tupy precisa de um executivo que possa avançar em novas linhas de negócios que estão na estratégia da companhia, num momento em que o comércio internacional passa por duras transformações forçadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e suas tarifas de importação.

“A Tupy precisa de uma atuação mais forte na área de inovação e que seja capaz de estabelecer relacionamentos mais amplos e abrangentes”, afirma uma das fontes. “O perfil do CEO precisa ser de alguém com maior trânsito, maior capacidade de relacionamento em cima dessa nova estratégia, em que a transição energética, a descarbonização, estarão na ordem do dia.”

Lucchesi é diretor há 18 anos da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na organização, articulou agendas relacionadas à inovação e competitividade no setor industrial. Ele também liderou o Sesi e o Senai por 14 anos, além de ser presidente do conselho do BNDES.

“Ele não tem um perfil de natureza política, sua trajetória é bem técnica, sendo um interlocutor ativo da indústria brasileira”, diz uma das fontes, que pediu para não ser identificada.

Rizzo permanecerá na companhia como consultor, para ajudar na transição, e Jaime Kalsing, que possui um perfil técnico e de negócios, deve assumir a presidência do conselho de administração da Tupy.

Estabelecida como uma das maiores fabricantes globais de blocos e cabeçotes, cerca de 41% das receitas da Tupy no terceiro trimestre tiveram origem na América do Norte. Por sua vez, as Américas do Sul e Central representaram 44% e a Europa, 12%.

No período, a Tupy registrou uma queda de 66,4% do lucro líquido, em base anual, para R$ 50,3 milhões. A receita recuou 7%, para R$ 2,7 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado caiu 8%, para R$ 338,4 milhões.

A sensibilidade do mercado sobre a Tupy acontece sempre que há uma indicação de pessoas feita pela União. Em agosto de 2023, investidores reagiram mal aos nomes dos ministros Anielle Franco, da Igualdade Racial, e de Carlos Lupi, da Previdência Social, indicados  ao conselho de administração da Tupy.

Além deles, a companhia conta com um terceiro conselheiro indicado pelo governo – Vinícius Marques de Carvalho, da Controladoria Geral da União (CGU), atual vice-presidente. A presença de três integrantes do governo motivou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a instaurar um processo administrativo para investigar possíveis irregularidades nas indicações, segundo informações do jornal O Estado de S.Paulo.

Em relatório, o principal questionamento dos analistas é o preparo de Lucchesi para o cargo. Para a XP, falta a ele “proximidade com as operações diárias da Tupy”. O BTG Pactual foi na mesma linha, afirmando que Rizzo, o ex-CEO, foi vice-presidente da unidade de Negócios Automotivos da companhia de julho de 2012 até abril de 2018 e vice-presidente de Vendas de 2004 a 2012.

“O mercado deve se tranquilizar quando entender o perfil técnico de Lucchesi”, disse uma fonte, que atribuiu a queda de 7% das ações mais ao histórico recente do que à escolha do novo CEO.

Procurada pelo NeoFeed, a Tupy informou que mantém as informações divulgadas no fato relevante divulgado em 18 de março, em que divulgou que o conselho de administração recebeu a indicação do BNDESPar sobre avaliar Rafael Lucchesi como “potencial candidato a eventual sucessão do diretor presidente”. Lucchesi informou que não iria se posicionar.

Por volta das 15h16, as ações da Tupy recuam 2,55%, a R$ 19,47. Em 12 meses, os papéis acumulam queda de 30,4%, levando o valor de mercado a R$ 2,8 bilhões.