O cenário econômico no Brasil pode até estar melhorando frente ao que foi visto nos últimos anos, diante da perspectiva de queda dos juros e crescimento de 2% do PIB em 2024. Mas a Itaúsa ainda não vê condições suficientes para voltar a realizar grandes investimentos - pelo menos no curto prazo.

Apesar de ver um cenário estabilizado, Alfredo Setubal, CEO da holding de investimentos que detém 39,2% do capital social do Itaú Unibanco e 10,3% das ações da CCR, além de participações em Dexco, Alpargatas, Aegea, Copa Energia e NTS, avalia que mesmo com a possibilidade de a Selic cair para a casa dos 9%, os juros no País ainda estão em patamares elevados.

Considerando o prêmio necessário para compensar o risco de um novo investimento e a inflação, prevista para ficar entre 3% e 4%, um ativo teria de apresentar um retorno entre 13% e 15%, algo muito difícil de encontrar no mercado neste momento.

“Acho difícil que a Itaúsa tenha um investimento novo, tendo em vista taxas de retornos muito elevadas para compensar o risco de fazer investimentos adicionais”, disse Setubal na terça-feira, 19 de março, durante teleconferência para tratar dos resultados da holding no quarto trimestre. “Neste momento, é muito difícil, pela conjuntura brasileira de baixo crescimento, encontrar ativos que compensem o risco.”

Isso não significa que a Itaúsa não esteja de olho no mercado. Segundo Setubal, a holding tem conversado com bancos de investimentos e private equities para discutir possibilidades de negócios. Um dos setores que a Itaúsa está concentrando esforços para buscar ativos é o agronegócio, em que ainda não tem participação. Setubal confirma que se trata de uma “lacuna” no portfólio da holding.

Enquanto não encontra um ativo considerado interessante para investir, Setubal disse que a Itaúsa seguirá com a estratégia de desalavancar seu balanço. A holding fechou 2023 com uma dívida líquida de R$ 652 milhões, queda de quase 83% sobre o mesmo período do ano anterior. A alavancagem financeira recuou 3,2 pontos percentuais, para 0,5%.

O movimento foi beneficiado pelo processo de desinvestimentos na XP Inc., concluído no final do ano passado. A Itaúsa encerrou o ano com a venda de 35,5 milhões de ações da XP, por R$ 3,8 bilhões.

Utilizando os recursos para resgates de debêntures e operações de refinanciamento, e considerando o pré-pagamento de dívidas no terceiro trimestre, a Itaúsa aumentou o prazo médio da dívida de 4,5 anos para 6,5 anos, com ausência de vencimento de principal até 2027.

Questionado se a Itaúsa tem nos planos vender outros ativos, Setubal afirmou que apesar de realizar uma gestão ativa do portfólio, não há nada previsto no curto em termos de desinvestimentos, nem planos de realizar o IPO de companhias de capital fechado, como Copa Energia ou NTS. “Se a gente achar que determinado investimento chegou em maturação e está com valuation adequado podemos considerar, mas não é o caso no momento”, afirmou.

Mesmo sem planos de novos investimentos, Setubal afirmou que o espaço gerado por esse processo de desalavancagem abre caminho para a holding realizar aquisições.

“Com a redução de alavancagem que fizemos nos últimos dois anos, podemos pensar em endividar a companhia, se aparecer uma oportunidade muito especial”, disse. “Se não, vamos continuar com o processo de desalavancagem.”

A Itaúsa fechou o quarto trimestre com um lucro líquido recorrente de R$ 3,4 bilhões e de R$ 14,1 bilhões em 2023, ambos representando um crescimento de 3% em relação às suas respectivas bases de comparação com 2022.

O resultado recorrente das empresas investidas cresceu 18% no quarto trimestre, para R$ 3,5 bilhões, enquanto no ano avançou 6%, a R$ 13,5 bilhões. O retorno sobre o patrimônio (ROE) recorrente caiu 1,7 ponto percentual no quarto trimestre e em 2023, para 17% e 18,3%, respectivamente.

Por volta das 13h20, as ações da preferenciais da Itaúsa caíam 0,56%, a R$ 10,59. No ano, elas acumulam alta de 2,7%, levando o valor de mercado a R$ 110,2 bilhões.