No terceiro trimestre, Ramon Alcaraz, CEO da JSL, viu a companhia se beneficiar do que chamou de "congruência dos astros", com o enfileramento de uma série de boas notícias. Para começar, a empresa de logística do Grupo Simpar registrou aumento na demanda por serviços em todos os segmentos para os quais presta serviços.

A empresa também fechou novos acordos de serviços, aproveitando o cross selling entre as seis companhias que adquiriu ao longo dos anos. E também viu a inflação de insumos dar uma trégua, depois das fortes altas do diesel nos últimos trimestres.

Esse "alinhamento cósmico" ajudou com os resultados do terceiro trimestre de 2022. Mas Alcaraz entende que existe um ponto que ainda pode ser melhorado, para que a JSL possa dar um salto em termos operacionais e competitivos: a digitalização das operações.

"Os contratos que fechamos vão garantir nosso crescimento para os anos seguintes, e vamos continuar girando essa máquina", diz Alcaraz ao NeoFeed. "Mas acredito que a tecnologia é o que vai fazer mudarmos de patamar."

Para ele, a companhia de 66 anos de história ainda tem que avançar nessa frente, diante das transformações que a tecnologia está provocando no segmento de logística, com novas ferramentas sendo desenvolvidas para melhorar a eficiência dos embarques e planejamento de rotas.

Neste sentido, a pauta digital da JSL está concentrada em duas frentes. A primeira é na  dinâmica interna da companhia, com a digitalização de processos, para garantir que os esforços de gestão de custos e despesas tomados nos últimos trimestres ganhem ainda mais força.

A segunda envolve oferecer produtos e soluções com mais tecnologia aos clientes, também para reduzir custos e garantir eficiência. A JSL deu um passo relevante nesta frente em maio, com a compra da logtech Truckpad, trazendo para dentro de casa um produto pronto que permite otimizar a operação logística. 

Para avançar no processo de digitalização, a JSL avalia tanto desenvolver internamente processos, aproveitando o know-how da Truckpad, como também realizar movimentos inorgânicos. Assim como ocorreu com a logtehc, a empresa conta com o departamento de M&A da Simpar para prospectar o mercado em busca de empresas que possam agregar novas tecnologias à operação. 

“Eu preciso oferecer produtos para os meus clientes cada vez mais tecnológico, gerando uma redução de custo para ele, gerando mais eficiência, mais visibilidade”, diz Alcaraz. “Nós acreditamos que a tecnologia é o caminho para darmos um pulo.”

O plano de avançar com a digitalização da empresa visa a potencializar o momento da JSL, que no terceiro trimestre fechou um total de R$ 590 milhões em novos acordos de transporte, com prazo médio de 46 meses. No segundo trimestre foram fechados R$ 1,4 bilhão em novos contratos. 

Com isso, o total de novos acordos assinados ao longo de 2022 atingiu R$ 2,7 bilhões, garantindo a manutenção do crescimento nos próximos anos. “Começamos 2023 com uma base de novos contratos que vai ajudar muito na receita”, diz Alcaraz.

Do total de acordos assinados no terceiro trimestre, 93% deles foram fechados na base de clientes, nível parecido ao apurado nos trimestres passados, demonstrando que o cross selling entre as diferentes empresas que compõem a JSL está avançando fortemente. 

O cross selling entre as seis empresas adquiridas desde a reestruturação societária, de 2020, também está permitindo a JSL diversificar os serviços de sua carteira atual de clientes e setores de atuação da economia. O setor de alimentos e bebidas foi responsável por 50% dos novos contratos, seguido por cargas de alta complexidade (25% do total). 

Em relação aos segmentos operacionais, 73% dos contratos foram de serviços de transporte de cargas, 15% em operações dedicadas, 10% em distribuição urbana, e os 2% restantes em armazenagem. 

“Estamos em 17 segmentos que não coincidentemente são segmentos deslocados do Brasil como um todo, que tem um crescimento diferenciado”, diz Alcaraz, destacando não apenas a parte de alimentos e bebidas, como também indústria primária, caso das áreas de papel e celulose e mineração, e o segmento automotivo.  

Esta diversificação permite à JSL evitar eventuais contratempos, seja dos setores e de questões fora de seu controle, como foi o caso do bloqueio das rodovias promovido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, em protesto aos resultados da eleição presidencial, vencida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Alcaraz, pelo fato de os protestos terem durado poucos dias, sendo que um deles foi o feriado de Finados, na quarta-feira, dia 2 de novembro, a expectativa é de um impacto pontual nas operações. "É como aquele tipo de tapa que dói, arde, mas passa logo", afirma.

Com a ampliação da base de contratos, o crescimento de todos os segmentos em que atua, o repasse da inflação nos preços praticados e avanço na venda de ativos, a JSL registrou uma receita líquida de R$ 1,6 bilhão no terceiro trimestre, alta de 38% em base anual. 

O Ebitda cresceu 51%, para R$ 299 milhões, diante dos efeitos das medidas para controle de custos e pelo fato de, no terceiro trimestre, não ter tido fortes aumentos na maior parte dos insumos. 

Já o lucro líquido caiu 55%, para R$ 37,4 milhões, com a alta dos juros no País pesando sobre as despesas financeiras. Na comparação com o segundo trimestre, o valor representa um crescimento de 25,2%. Em termos ajustados, o lucro líquido alcançou R$ 42,2 milhões, recuo de 38,1% em base anual e avanço de 23,5% na comparação trimestral.

As ações da JSL fecharam o pregão desta quinta-feira, dia 3 de novembro, com alta de 4,58%, a R$ 7,99. No ano, elas acumulam alta de 10%, levando o valor de mercado para R$ 2,27 bilhões.