Em meio a um cenário adverso para a renda variável, a gestora WHG, fundada em meados de 2020 por ex-executivos do Credit Suisse para ser uma plataforma de private banking, tendo uma parte de wealth management e uma gestora, conseguiu um feito notável.

Segundo ranking da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), considerando a asset e a área de wealth management, a WHG ficou em primeiro lugar em captação na categoria fundos de ações, com R$ 290 milhões no ano passado. No ranking de multimercado, atingiu a décima posição com R$ 216 milhões.

Agora, a WHG, que tem a XP como sócia minoritária, com 49%, parte para expandir suas estratégias de investimentos globais a um público maior, um movimento que visa a elevar o montante em ativos sob gestão da asset para acima de R$ 10 bilhões em três anos.

“O brasileiro está muito bem servido de multimercado, com fundos de ações brasileiras, mas ele não têm muitas estratégias internacionais”, diz Andrew Reider, sócio e CIO da WHG, ao NeoFeed. “Muitas vezes, a pessoa está capturando prêmios de risco super correlacionados com a economia do Brasil. Então, se tem um problema aqui, tudo vai mal.”

A meta traçada para o montante de ativos sob gestão representa um forte salto em relação aos patamares atuais. Somente a asset conta com um total de R$ 2,5 bilhões. Quando se considera a parte de wealth management, a WHG possui um total de R$ 30 bilhões sob gestão.

A estratégia para conseguir quadruplicar de tamanho a asset em três anos é uma combinação de diversos fatores. Vai desde o track record positivo dos atuais fundos, com posições montadas majoritariamente no mercado internacional, uma postura tática para se adaptar quando as circunstâncias pedem e o desenvolvimento de estratégias descorrelacionadas dos ativos brasileiros.

Um importante movimento está previsto para abril, quando o principal fundo da casa, o WHG Global Long Biased, estará aberto para aqueles classificados como qualificados, com mais de R$ 1 milhão em investimentos. Antes, o fundo estava disponível apenas para investidores profissionais, com mais de R$ 10 milhões.

A mudança ocorre junto com a entrada em vigor das novas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para a indústria de fundos de investimentos, que inclui medidas para ampliar o acesso de produtos então restritos a investidores com mais recursos. “Essa é uma boa oportunidade para crescermos a nossa captação”, diz Reider.

A postura tática pode ser vista nas alocações que a asset vem fazendo. Vendo que os Estados Unidos e o mundo passarão por um processo de desinflação ao longo do ano, o que caminho para a interrupção do processo de alta de juros, a WHG entendeu que chegou o momento de voltar a apostar em companhias de growth. Duas das escolhidas são Meta e Tesla, empresas que não saem do noticiário – muitas vezes com uma cobertura negativa.

No caso da Meta, a WHG viu que a companhia está ajustando suas operações, cortando custos e despesas após investir pesado no metaverso. A empresa fundada por Mark Zuckerberg, na visão de Reider, está também conseguindo competir com o TikTok, depois de fazer ajustes no algoritmo do Instagram e aproveitando que a companhia chinesa está sob a mira das autoridades dos Estados Unidos e da Europa.

A escolha pela Tesla se deu após a queda das ações no ano passado, que encerraram dezembro com baixa acumulada de 36,7%. Segundo Reider, a companhia vem tendo um bom desempenho, com dados apontando recuperação em vendas.

As duas apostas tem se mostrado certeiras, com ambas sendo responsáveis por metade dos ganhos até fevereiro do WHG Global Long Biased. No ano, as ações da Meta sobem 69,8% e os papéis da Tesla avançam 56%.

A gestora quer usar também esses bons resultados de seus fundos para "vender" sua tese de investimentos. O WHG Global Long Biased em reais, por exemplo, registrou uma rentabilidade de 4,1% em fevereiro e de 13,5% no acumulado de 2023. O CDI, por sua vez, teve alta de 0,9% e 2,1% em fevereiro e no acumulado do ano, respectivamente.

Desde que foi lançado, em abril de 2021, o WHG Global Long Biased em reais registra uma rentabilidade positiva de 38,8%, contra 19% do CDI. A expectativa é de que resultados como estes ajudem a destravar oportunidades de captação em bancos, investidores institucionais ou plataformas de investimentos. “Em teoria, no longo prazo, a ideia é que as estratégias deem retorno positivo em dólar e superem o CDI”, diz Reider.

A internacionalização de investimentos não é um tema novo no mercado brasileiro. O movimento ganhou força com plataformas de investimentos como Avenue, que tem o Itaú como sócio, puxando a fila e levando investidores de varejo aos EUA. Hoje, Inter, C6, XP e BTG Pactual, que permitiram até que investidores de varejo tivessem acesso a fundos e ativos internacionais.

Surgiram também nomes especializados no tema, como a Avenue Securities, além de uma gama de gestoras com estratégias internacionais, como a IP Capital.

Segundo dados do Banco Central, o volume de investimentos de brasileiros em ações no exterior somou US$ 40 bilhões até o terceiro trimestre de 2022, queda de cerca de 20,6% em relação ao valor em que fechou 2021. Já o valor aplicado em títulos de dívida, na mesma base de comparação, subiu 24%, a US$ 13,4 bilhões.

Segundo Reider, muita gente que investiu no exterior nos últimos anos acabou indo na onda do momento, sem uma estratégia clara e entrando em produtos e fundos sem entender bem. “Na época da Covid-19, acho que isso foi até levado ao extremo, com as pessoas tomando risco demais”, afirma.

Reider, por exemplo, possui um longo histórico como gestor global. Depois de se formar em economia em Harvard, trabalhou por nove anos e meio em hedge funds, nos Estados Unidos, focado em ações globais.

Em 2012, ele voltou ao Brasil para trabalhar no Verde, do Luis Stuhlberger, onde ficou cinco anos cuidando da parte de ações internacionais, período em que a gestora aumentou sua exposição em ativos globais. Em 2017, ele foi para a BW Gestão de Investimentos, o family office da família Moreira Salles, para também tocar a parte de investimentos internacionais.

Quatro anos depois, ele chegou à WHG. “Nosso time inteiro estudou fora, trabalhou fora, nosso dia a dia é viver o global, tanto em equities quanto em macro”, afirma. “Acreditamos que é estratégico que todos tenham alguma exposição no exterior, porque o Brasil representa menos de 1% do índice mundial.”