Em um mercado em que boa parte dos competidores tenta há algum tempo passar longe de uma disputa por preços, investindo em serviços agregados para manter as margens, a SumUp resolveu atuar nas duas pontas.
De um lado, começou a oferecer aos seus clientes uma conta digital com cartão, marketplace e empréstimos. Mas, de forma surpreendente, a SumUp está “ressuscitando” a guerra das maquininhas, disputa sangrenta que marcou o mercado de adquirência nos últimos anos – mas que estava um tanto quanto esquecida.
Desde o começo deste ano, a companhia que nasceu na Alemanha em 2012, opera em 34 mercados e em três continentes e no qual o Brasil é uma de suas cinco maiores operações, baixou suas taxas para 1% para operações de débito e crédito à vista por até dois meses – depois sobe para 1,7% e 3,15%, respectivamente, para quem vende mais de R$ 10 mil ao mês.
Para uma empresa que sempre quis se manter fora da disputa protagonizada por Cielo, Rede, GetNet, PagSeguro e Stone, o novo posicionamento mostra uma nova disposição da SumUp para ganhar mercado no Brasil, onde está investindo R$ 1,3 bilhão, após um empréstimo internacional de € 750 milhões com o banco americano Goldman Sachs e os fundos Temasek, Bain Capital Credit, Crestline e Oaktree, no ano passado.
“Em um dos momentos mais complexos da economia brasileira, com a taxa de juros subindo, estou indo na contramão de todos os outros players, que estão subindo taxas”, diz Fabiano Camperlingo, CEO da SumUp para a América Latina, ao NeoFeed. “Agora é a hora de mostrar quem está de fato ao lado do pequeno empreendedor brasileiro.”
Até as calçadas da avenida Faria Lima, em São Paulo, sabem quais empresas Camperlingo está provocando com sua declaração. A SumUp tem um perfil de cliente muito parecido com o da PagSeguro e do Mercado Pago, do Mercado Livre: microempreendedores individuais que estão à margem do sistema financeiro.
A PagSeguro, que vale US$ 6,5 bilhões e perdeu dois terço de seu valor de mercado desde agosto do ano passado, tem taxas de 1,99% no débito e de 4,99% no crédito – nos dois casos, o dinheiro fica disponível ao cliente na hora. O Mercado Pago, por sua vez, tem taxa de 1,99% no débito e de 4,74% no crédito, com o recurso caindo instantaneamente na conta.
“A SumUp está fazendo uma promoção no início, mas depois que o empreendedor comprou a máquina, a tendência é continuar processando os pagamentos com ela”, diz Edson Santos, um dos principais especialistas em pagamentos do Brasil. Sobre a guerra da maquininhas, Santos diz que “ela deu uma bela maneirada porque chegou no limite.”
Mas não significa que tenha chegado ao fim. A Cloudwalk, dona da maquininha InfinitePay, avaliada em US$ 2,15 bilhões em novembro do ano passado, quando recebeu US$ 150 milhões da Coatue Management, é outra empresa que não “esqueceu” da guerra das maquininhas.
A Cloudwalk tem sido uma das empresas que mais tem incomodado os players dominantes. Em especial, a PagSeguro, companhia com a qual ela compete. A taxa da Cloudwalk, sem promoção, é de a partir de 1,44% no débito para pagamento em até um dia útil. No crédito, começa em 2,89%.
Logística, empréstimo e marketplace
A SumUp está também ganhando espaço no Brasil em outro terreno: o da logística. A companhia diz que o perfil de seu cliente está fora das grandes capitais.
Mais: a companhia, que não revela o número de clientes no País (são mais de 3,5 milhões no mundo), diz ter uma fatia muito grande de microempreendedores individuais que usam sua maquininha nos estados do Nordeste.
Para ajustar esse fator, a SumUp fechou parceria com a Sequoia Logística para que as maquininhas possam ser entregues rapidamente na região. “Uma pessoa que está nos confins do sertão vai receber a maquininha em até três dias”, afirma Camperlingo.
Além da logística e do preço, a SumUp criou um ecossistema ao redor dos clientes. Um exemplo é SumUp Bank, lançado no ano passado, que permite que os clientes recebam pagamentos, façam Pix, paguem boletos, recarreguem celular e tenham um cartão da Mastercard.
A companhia entrou na área de empréstimos, através de um Fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) de R$ 230 milhões em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Desde o fim do ano passado, a SumUp emprestou R$ 21,5 milhões para mais 8 mil microempreendedores com taxas de 2,93% ao mês. Agora, deve escalar essa oferta nos próximos trimestres.
A empresa estuda oferecer também investimentos através do SumUp Bank. O produto que vai ser oferecido ainda está sendo debatido. Mas Camperlingo quer ofertar uma opção simples, que dê segurança e rendimento.
A companhia lançou ainda um marketplace dentro do seu aplicativo, que está pouco a pouco ganhando tração. Atualmente, conta com nomes como Magazine Luiza, Casas Bahia, Ponto, Extra e Movida.
Mas o plano é chegar a mais de 40 parceiros no segundo trimestre. A estratégia para fisgar o cliente é oferecer cashback nas compras realizadas com o cartão do SumUp Bank.
O último pilar da SumUp para oferecer serviços agregados aos seus consumidores foi a compra da Fivestars, uma plataforma americana de pagamentos e marketing, por US$ 317 milhões, em outubro do ano passado.
A Fivestars, na época da aquisição, contava com 12 mil pequenas empresas, que atingiam 70 milhões de clientes. Gerava mais de US$ 3 bilhões em vendas e realizava 100 milhões de transações por ano.
Com a companhia, o plano da SumUp é ajudar os microempreendedores individuais a vender mais. O produto deve começar a ser integrado na Europa no terceiro trimestre deste ano. No Brasil, a expectativa de Camperlingo, é que esteja disponível no fim de 2022 ou início de 2023.
Esse é um movimento que a maioria das empresas de pagamentos tem adotado. A PagSeguro, por exemplo, conta com o PagBank, que oferece todos os serviços bancários para os seus clientes, além de estar bem avançada em investimentos e marketplaces.
O Mercado Pago tem também contas de pagamento, cartão de crédito e uma plataforma de investimentos. Atualmente, permite até comprar e vender criptomoedas.
A Stone, que atende um cliente de um porte maior do que SumUp e PagSeguro, anunciou sua divisão em duas unidades de negócios em março deste ano: uma de serviços financeiros e outra de software, que terão resultados separados a partir do primeiro trimestre de 2022.
A unidade de serviços financeiros concentrará a operação de crédito e banking da Stone. Já a divisão de software será formada pela Linx, comprada por R$ 6,7 bilhão em novembro de 2020.