Brasília - Às 13h, duas horas antes da posse de Alexandre Padilha e Gleisi Hoffmann nos ministérios da Saúde e de Relações Institucionais, respectivamente, a fila na entrada principal do Palácio do Planalto chegava a 300 metros. Era formada por militantes, políticos de segundo escalão e assessores do PT.

Às 15h30, quando a cerimônia finalmente começou, os dois salões, o Nobre e Oeste, no segundo andar do prédio, estavam lotados, com mais de 1.500 pessoas. E as atenções acabaram voltadas para o discurso de Gleisi, a nova chefe da articulação política do governo Lula.

Na tentativa de minar desconfianças do mercado e política sobre a relação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Gleisi disse que seria defensora das pautas econômicas, algo diferente do que fez quando ela estava na presidência do PT.

"Eu estarei aqui, ministro Fernando Haddad, para ajudar na consolidação das pautas econômicas desse governo. As pautas que você conduz e que estão colocando novamente o Brasil na rota do emprego, do crescimento e da renda", disse Gleisi.

O ministro estava na primeira fila e foi um dos primeiros a chegar na cerimônia, que atrasou 30 minutos. O recinto esteva quente - para atenuar o calor, foram distribuídos abanadores de papel vermelho com o nome de Gleisi e a legenda do PT.

É a relação direta de Gleisi com o partido e com os discursos contra as medidas que trazem desconfiança ao nome da nova ministra. Ela se comprometeu em “respeitar adversários” e consolidar uma base estável no Congresso, já na votação do Orçamento 2025 na próxima semana - também citou a proposta de isentar do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil.

Na semana passada, o NeoFeed mostrou que o primeiro teste de fogo de Gleisi será justamente a votação do Orçamento, prevista para ocorrer na próxima semana. O presidente da Comissão Mista, Júlio Arcoverde (PP-PI), tem travado negociações ainda com a equipe do Padilha, que deve permanecer até a conclusão da votação do texto.

No palco do salão principal, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice Geraldo Alckmin, estavam os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos), e Davi Alcolumbre (União Brasil), que participaram da cerimônia. “Com vocês quero manter uma relação harmoniosa. Estarei sempre aqui para conversar, ouvir críticas e acolher sugestões”, afirmou Gleisi.

Os próximos passos de Gleisi no cargo de ministra vão indicar se o discurso será colocado em prática.

Bastidores

Antes de indicar Gleisi para a articulação, Lula fez questão de ligar para Alcolumbre e Motta. “Foi um movimento importante para mostrar a relevância deles, isso quebrou a surpresa inicial com o anúncio do nome dela”, disse um integrante da Esplanada. Depois do susto com o anúncio de Gleisi para o cargo, há uma tentativa de normalizar o nome dela.

Na avaliação de aliados de Lula, o petista não iria colocar um nome de outro partido como articulador político. O primeiro nome seria o de Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado. Mas Lula recuou, primeiro pela própria falta de entusiasmo de Wagner com o cargo e depois porque não teria um nome para substituir o baiano na liderança.

Outro nome que foi cogitado foi o do deputado José Guimarães (PT-CE), mas Lula achou que ele teria ainda mais dificuldade no cargo de negociador do que a própria Gleisi, que acabou sendo confirmada. No discurso, Gleisi elogiou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pelo trabalho a favor da democracia.

Os trabalhos de Gleisi começaram ontem mesmo no quarto andar do Palácio do Planalto, onde está a Secretaria de Relações Institucionais. A partir de agora, tanto o Congresso quanto o mercado, esperam os próximos atos da ministra.