Brasília - Em outubro de 2023, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, teve a primeira e a única audiência exclusiva com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar de projetos específicos da pasta.

Levou embaixo do braço um projeto até então controverso e custoso, o “Rotas de Integração Sul-Americana”, que, a partir de cinco eixos multimodais, liga 11 estados brasileiros a 12 países. Lula gostou da ideia e pediu ajustes pontuais.

De lá para cá, de outubro de 2023 a fevereiro de 2025, o programa, segundo números exclusivos conseguidos pelo NeoFeed, garantiu R$ 25,9 bilhões vindos do PAC 2024, do orçamento de 2025 e do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).

Outros US$ 7 serão destinados a países vizinhos a partir de financiamentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata).

No próximo dia 16 de março, um dos marcos iniciais do projeto, na cabeça dos técnicos do Ministério do Planejamento, será materializado: a inauguração do porto de Chancay, no Peru, que deve servir de rota de produtos brasileiros para os países asiáticos, principalmente a China.

A controversa equação das rotas é uma das dificuldades, como mostrou reportagem do NeoFeed em novembro do ano passado. Os recursos até aqui disponibilizados e a própria condução do projeto, entretanto, tem animado a ministra Tebet.

Os técnicos do Planejamento se reuniram em 2024 com os estados fronteiriços e com todos os ministros da economia dos países vizinhos, com exceção da Venezuela - neste caso, por uma questão geopolítica com a eleição sob suspeita de Nicolás Maduro.

O acordo Mercosul e União Europeia, fechado em dezembro do ano passado, deu mais fôlego para o projeto e trouxe mais otimismo para o Brasil. A guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expôs a necessidade, segundo técnicos do governo brasileiro, em ter uma ligação mais direta com a Ásia, a partir do porto de Chancay.

A iminente inauguração do porto peruano, um megainvestimento em parceria com a China de US$ 3,5 bilhões, promete reduzir em 10 dias a navegação dos países latino-americanos até a Ásia.

O empreendimento deverá ser maior do que o Porto de Santos, com mais tecnologia para atracação e distribuição de navios - são 20 metros de calado-, além da própria organização de contêineres e armazenamento de cargas. Além disso, já há estabelecidos acordos de cabotagem com a Bolívia, o Chile e a Colômbia, vizinhos ao norte e ao sul do Peru.

“O ‘Rotas da Integração’ é um legado, algo consistente para unir os países latino-americanos, que tem uma data inicial de trabalho, 30 de maio de 2023, e que se desenvolveu ao longo dos últimos meses”, afirma João Villaverde, secretário de Articulação Institucional do Ministério do Planejamento, ao NeoFeed.

As cinco rotas são compostas por hidrovias, rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, além de infovias (para a estrutura tecnológica). Ao todo, o Novo PAC engloba 190 iniciativas para o “Rotas”, com valores de R$ 4,1 bilhões.

“A gente formulou a partir do consenso de Brasília, que foi ao encontro de todos os presidentes de todos os países da América do Sul aqui em Brasília. E aí atualizamos as questões de infraestrutura às necessidades de infraestrutura em parceria com a Casa Civil”, disse Villaverde. O governo espera resultados também no turismo, principalmente nos relacionados aos negócios.

Desconfianças

Há, entretanto, desconfianças de empresários brasileiros com a viabilidade a curto prazo do projeto. Reportagem do NeoFeed publicada em novembro mostrou uma dificuldade logística colossal relacionada ao porto de Chancay.

São 800 km de trechos sinuosos da parte andina da Rota Interoceânica até Tabatinga (AM), a primeira cidade brasileira após as fronteiras Peru/Colômbia. Depois um longo trecho fluvial até Manaus. O desafio para as cargas importadas e exportadas pelo Brasil, considerando alfândegas e a própria segurança.

O cálculo de custos e riscos começa a ser feito por empresários brasileiros e dos países vizinhos. Para o governo Lula, que endossou o projeto do Planejamento, a conta será favorável ao longo do tempo. Chacay, de qualquer maneira, chegou. Agora, é saber como será o aproveitamento das “Rotas”.

Uma das respostas estará pronta nos próximos dias. O governo brasileiro encomendou um grande estudo ao BID para saber o impacto que as ações do projeto brasileiro terão no Produto Interno Bruto (PIB). É esperar para ver.