A “lojinha” do Olist, que ajuda pequenos comerciantes a vender pela internet, ganhou um novo “cliente”. Ou melhor, investidor. É o Goldman Sachs, que está liderando um complemento da rodada série D, anunciada em novembro do ano passado.

Nesta nova tranche, o banco americano está investindo R$ 144 milhões no Olist, em aporte seguido pela Redpoint eventures, que aposta na startup fundada por Tiago Dalvi desde a rodada seed em 2016. Com isso, o valor captado sobe para R$ 454 milhões – o valuation não foi revelado.

Em novembro, o aporte foi liderado pelo Softbank, que já havia investido R$ 190 milhões na startup no fim de 2019. A base de acionistas do Olist inclui também o Valor Capital, a Península Participações (de Abilio Diniz), a VELT Partners, a FJ Labs (de Fabrice Grinda, o cofundador da OLX), e Kevin Efrusy, um dos primeiros investidores do Facebook.

“Tivemos um nível de interesse muito grande e poderíamos ter feito uma rodada maior”, diz Dalvi, ao NeoFeed. “Pudemos escolher os fundos que queríamos e o Goldman Sachs é uma marca muito conhecida no mercado financeiro.” Desde a fundação, o Olist já captou US$ 135 milhões (R$ 768 milhões) em oito rodadas.

O dinheiro vai ser usado para fortalecer o ecossistema do Olist, na contração de mais pessoas (são 650 funcionários, a ideia é passar para 1 mil até o fim do ano), na estratégia de aquisições e na internacionalização da startup.

Até o ano passado, o Olist cresceu como um marketplace dentro dos marketplaces, como Mercado Livre e B2W. Na prática, ele funciona como uma loja-âncora nesses espaços para que pequenos negócios possam vender pela internet de forma rápida e sem custos altos.

Essa área, chamada de Olist Store, segue sendo o ganha-pão da startup e, de acordo com Dalvi, já para de pé e atingiu o equilíbrio financeiro. Atualmente, conta com 25 mil varejistas, que pagam uma mensalidade para o uso da plataforma e uma comissão sobre cada venda, que varia de 19% a 21%.

O Olist, agora, está investindo em uma estratégia de ecossistema para ir além dos marketplaces. “Passamos a olhar de forma mais ampla para a dor do lojista”, diz Dalvi. “ Ele precisa construir seu próprio e-commerce, mover caixinhas de um lado para o outro, comprar melhor e, por fim, obter crédito.”

No ano passado, a startup lançou a Olist Shops, uma ferramenta para que os varejistas construam seu próprio site de comércio eletrônico, ao estilo do que faz a empresa canadense Shopify, avaliada em US$ 144,5 bilhões.

Esse pilar da estratégia do Olist já conta com 200 mil clientes de 180 países – a ferramenta tem versão em português, inglês e espanhol. “O que estamos fazendo no Brasil é o que o Shopify faz nos Estados Unidos e em outros países”, afirma Dalvi. “Só que damos um passo além.”

Esse ‘passo além ‘pode ser entendido como os serviços de logística, que o Olist também passou a oferecer. Em dezembro do ano passado, a companhia comprou a PAX, por valor não revelado, uma startup de logística que tinha entre seus clientes nomes como Grupo Pão de Açúcar (GPA), Via VarejoCarrefour, Etna e Printi.

Os dois próximos passos estão prestes a sair do papel: se tornar uma ‘fintech” e dar início a sua internacionalização. No primeiro caso, Dalvi diz que o Olist já faz testes com um parceiro e originou, no mês passado, R$ 1 milhão em créditos.

“Esse é um pilar relevante no curto prazo. Em algum momento, pode fazer sentido montar um FIDC”, diz Dalvi, em uma referência aos fundos de investimento em direitos creditórios, que compram carteiras de recebíveis. No segundo, a startup já testa o modelo em dois países – mas o plano ainda é guardado a sete chaves.

Para avançar com todas essas estratégias, o Olist vai acelerar as fusões e aquisições. A startup busca ativos na área de sistemas de gestão, serviços financeiros (crédito, wallet, recebíveis e processamento de pagamentos) e ferramentas complementares ao mundo de e-commerce. “Estamos olhando mais de 20 empresas e devemos fechar de um a dois deals neste trimestre e quatro ou cinco neste ano”, afirma Dalvi.

Esse movimento para ir além dos marketplaces acontece em um momento em que os principais players nessa área, como Mercado Livre, B2W, Via Varejo e Magazine Luiza, começam a aumentar o nível de serviços para os comerciantes que vendem através de suas plataformas online ao mesmo tempo em que reforçam seus braços financeiros.

“A maior ameaça ao Olist são os marketplaces resolverem que não precisam dele”, afirma Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileiro de Varejo e Consumo. “Eles têm comprado uma série de empresas e estão partindo para esse modelo de integradores.”

Desde janeiro de 2020, Magazine Luiza, B2W, Via Varejo e Mercado Livre fizeram mais de 30 aquisições ou investimentos em fatias minoritárias de startups. A mais recente delas foi a plataforma de conteúdo Jovem Nerd, comprada pela varejista controlada pela família Trajano nesta quarta-feira, 14 de abril.

O alvo das quatro principais plataformas de marketplace do País são variados. Vão desde empresas da área financeira, como a Hub Fintech, no qual o Magazine Luiza pagou R$ 290 milhões, até a  Asap Log, do setor de logística, comprada pela Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio.

“Até agora, as soluções dos grandes marketplaces não foram ainda tão competentes quanto o Olist para trazer pequenos sellers e integrá-los às suas plataformas”, diz Terra. “Por isso, ele segue grande e relevante.”

A única certeza é que todos os competidores dessa disputa estão bastante capitalizados. O Magazine Luiza levantou R$ 4,7 bilhões em um follow on no fim de 2019. A Via Varejo captou R$ 4,45 bilhões e a B2W aumentou de capital de R$ 4 bilhões no ano passado. O Mercado Livre, por sua vez, anunciou um investimento de R$ 10 bilhões no Brasil neste ano, o mesmo valor dos últimos quatro anos.

O Olist tem R$ 454 milhões para tentar pegar uma fatia desse bolo do e-commerce brasileiro, que movimentou R$ 87,4 bilhões em 2020, segundo a Ebit Nielsen.

Os marketplaces até agora foram aliados do Olist – e devem seguir como parceiros por muito tempo. Mas também serão rivais em algumas áreas específicas. No mundo online, não há fronteiras entre competição e colaboração.