Em um anúncio bastante aguardado, a Nvidia voltou a surpreender o mercado na noite da quarta-feira, 22 de maio. Entre outros números do primeiro trimestre, a fabricante de chips reportou um salto de 628% em seu lucro líquido, para US$ 14,8 bilhões.

“A próxima revolução industrial começou”, afirmou o CEO Jensen Huang, em comunicado. O balanço foi a deixa para mais um rali nas ações da empresa e a frase do executivo só ressaltou que, muito além de Wall Street, o boom da inteligência artificial já está movimentando bilhões em outras esferas.

O exemplo mais recente desse contexto foi dado pela Coreia do Sul. No dia seguinte ao balanço da Nvidia, o governo do país divulgou um pacote de 26 trilhões de wons (US$ 19 bilhões) para apoiar a indústria local de semicondutores.

O desembolso será viabilizado por meio do Banco de Desenvolvimento da Coreia e busca abrir caminho para que os fabricantes sul-coreanos invistam em infraestrutura e alcancem os players de outros países na corrida pelos chips avançados na trilha inteligência artificial.

As exportações de semicondutores da Coreia do Sul cresceram 56% em abril sobre um ano antes. Mas empresa locais como Samsung e SK Hynix vêm enfrentando uma competição cada vez mais intensa com nomes como a taiwanesa TSMC e a americana Intel, além da própria Nvidia, que domina o setor.

“Como todos sabemos, os semicondutores são um campo onde uma guerra está em andamento. Ganhar ou perder, isso depende de quem pode fabricar primeiro os chips de ponta”, afirmou Yoon Suk Yeol, presidente da Coreia do Sul, segundo a agência Reuters.

Alguns números divulgados pelo governo sul-coreano ilustram como o país está posicionado nessa "guerra dos chips". Atualmente, a Coreia do Sul tem uma participação de apenas 1% no mercado global de semicondutores. O plano é ampliar essa fatia para 10%.

Em janeiro desse ano, em linha com essa meta, a Coreia do Sul já havia anunciado a construção de um complexo de fabricação de chips de alta tecnologia na cidade de Yongin, com o objetivo de tornar o município um polo industrial do setor e atrair empresas de produção e de design de semicondutores.

Sob essa mesma orientação, a SK Hynix anunciou em abril que planeja investir US$ 14,6 bilhões para expandir sua capacidade local. Toda essa movimentação se conecta com os recursos bilionários que estão sendo reservados e aplicados por outros países na busca pela hegemonia no setor.

O apoio à indústria de semicondutores é, por exemplo, uma das bandeiras de Joe Biden em sua tentativa de se reeleger como presidente dos Estados Unidos. Como parte dessa cruzada, em 2022, seu governo aprovou a Lei dos Chips, que prevê, entre outras questões, incentivos de US$ 53 bilhões.

Parte desses recursos foi destinada, por exemplo, para a própria Samsung, que, em abril desse ano, teve acesso a um incentivo de até US$ 6,4 bilhões para construir uma fábrica de chips no Texas. Antes, o governo americano já havia concedido US$ 6,6 bilhões para fábricas da TSMC no Arizona.

Outra empresa beneficiada por esse pacote foi a Intel. Em março, a companhia assegurou US$ 19,5 bilhões em subsídios dentro do seu plano de investir até US$ 100 bilhões na construção e expansão de fábricas de semicondutores nos estados do Arizona, Oregon, Ohio e Novo México.

Medidas semelhantes vem sendo tomadas em países como China, Japão e também na Europa. No Velho Continente, por exemplo, a Lei Europeia de Chips, aprovada em 2023, prevê € 43 bilhões (US$ 230 bilhões) em subsídios para o desenvolvimento dessa indústria.