Quando fundaram a Livance, em 2017, os empreendedores Claudio Mifano, Gustavo Machado e Fábio Soccol gostavam de explicar que a startup do setor de saúde era uma mistura de WeWork com a AWS, pois alugava espaço para os médicos terem seus consultórios e cobrava por minuto de uso.
Em uma conversa recente com um investidor internacional, no entanto, Mifano ouviu outra referência. “Quer dizer que vocês são uma espécie de Shopify para o setor de saúde?”, comparando a Livance com a companhia canadense que ajuda empresas a criarem seus sites de comércio eletrônico.
Agora, a Livance acaba de captar R$ 65 milhões em uma rodada liderada pela Monashees para desenvolver mais o seu lado “Shopify”, sem esquecer do WeWork e da AWS.
“Essa captação era uma oportunidade de acelerarmos e mantermos o nosso ritmo de crescimento”, diz Mifano, em entrevista ao NeoFeed. “Dobramos de tamanho em 2022 e quase dobramos neste ano.”
Participaram da rodada a Cadonau, o investment office do Grupo Jereissati, dono do Iguatemi, e a Terracota Ventures, um fundo de venture capital focado em proptechs. Os dois haviam investido na captação anterior, de R$ 30 milhões, feita em julho de 2021.
O dinheiro do aporte será usado para aumentar as unidades da Livance de 14 para 30 no prazo de dois anos (o lado WeWork e AWS). Hoje, a startup está no Estado de São Paulo (12 unidades, sendo uma delas em Campinas) e no Rio de Janeiro (duas unidades). O plano é ir também para outros estados.
Mas os recursos serão utilizados também para que a Livance aumente seu componente tecnológico, o lado “Shopify” na qual se referia o investidor com quem Mifano conversou.
Além de alugar o espaço para que profissionais de saúde, como médicos, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, possam atender seus pacientes, a Livance desenvolveu uma plataforma que permite a gestão das consultas via site ou aplicativo.
A plataforma permite a criação de um website com URL personalizada e sistema de agendamento de consultas, bem como números de telefone e WhatsApp para atendimento exclusivo, entre outros serviços.
“Vamos intensificar os investimentos na digitalização dessa jornada”, diz Mifano. Um exemplo é a checagem da carteira do convênio médico do paciente sem a necessidade de papel, sabendo automaticamente se o cliente é elegível para o atendimento.
A Livance conta com 6 mil profissionais de saúde que pagam uma assinatura mensal no valor de R$ 246 no plano anual, para ter direito a usar a plataforma. A meta é também dobrar esse número em dois anos.
Inverno mais ameno
A Livance é a mais recente startup que consegue captar depois de um rigoroso inverno que afetou as rodadas de growth das companhias de crescimento acelerado no Brasil. Mas, ainda de forma lenta, cheques maiores começam a ser assinados pelos fundos de venture capital.
A rodada mais alta em 2023 aconteceu com a fintech QI Tech, que levantou R$ 1 bilhão com General Atlantic. A startup de comércio exterior Logcomex também captou R$ 165 milhões com a Riverwood Capital.
Apesar de os cheques mais altos estarem voltando, o tempo para conseguir assinar um term sheet é maior nos dias do hoje. “Os fundos estão com menos pressa”, diz Mifano. “O empreendedor precisa estar mais preparado com material, dados e análises.”
A Livance, no entanto, sempre foi pé no chão e, mesmo no auge da liquidez do mercado de venture capital, fez uma rodada que chamou de séria A em que levantou R$ 30 milhões – na época, os cheques eram bem maiores nesta fase.
A decisão de captar, de acordo com Mifano, acontece dois anos depois da última rodada porque o dinheiro estava perto do fim. A Livance não fez demissões durante o inverno das startups, mas desacelerou a abertura de unidades.
Embora não revele o valor, Mifano diz que teve um aumento relevante de valuation nesta captação. “A empresa mudou de patamar e está mais madura”, diz. “Mas, na outra rodada, não tinha feito um valuation maluco.”