A maior ameaça a Cielo, Rede, GetNet, PagSeguro e Stone não tem uma máquina sequer para passar o cartão de crédito. Sua principal arma são os algoritmos.
Isso ficou mais claro nesta semana, quando a desenvolvedora de software Linx anunciou uma parceria com B2W, dona das marcas Submarino e Americanas.com, e com Lojas Americanas que envolve o aplicativo Ame Digital.
Uma semana antes, a Linx, que já vale mais de R$ 6 bilhões na B3, havia feito um acordo semelhante com o Mercado Livre, que envolvia o Mercado Pago.
O Itaú, que lançou o aplicativo iti, que faz pagamentos por meio da tecnologia QR Code, uma espécie de código de barras em 2D que pode ser lido por smartphones, também usa a tecnologia da Linx.
Por que a Linx é uma ameaça aos principais protagonistas da guerra das maquininhas? A resposta é simples. A sua tecnologia, baseada em QR Code, pode, em última instância, tirar do jogo os adquirentes e até mesmo a bandeira do cartão de crédito.
“Eles acabam assumindo o lugar da bandeira e do adquirente e podem liquidar a transação entre o cliente deles e o cliente da carteira digital”, afirma uma fonte do setor. “É um ótimo negócio. Bem-vindo ao mundo sem plástico.”
Apesar de possível, essa é uma realidade ainda muito longe. A Linx depende das bandeiras e dos adquirentes e não deve querer comprar uma briga com essas empresas. “Provavelmente é apenas mais uma das estratégias para conseguir pôr a mão em um take rate de tudo que passa pelos seus sistemas de loja”, diz a fonte.
As ações da Linx subiram 4,46% ontem, depois do anúncio da parceria com a B2W e com a Lojas Americanas. Nos últimos 12 meses, saltaram 117,4%. Em especial, a partir de outubro do ano passado, quando a empresa anunciou a Linx Pay, uma nova área comandada por Denis Piovezan, um executivo com passagens pelo Banco Ibi e pela Brasil Plural.
Um relatório do Credit Suisse diz que essas novas iniciativas da Linx devem contribuir para ela atingir sua meta de ter uma receita de R$ 1,3 bilhão vindo exclusivamente da Linx Pay em 2023, o equivalente a um terço de seu faturamento naquele ano. Em 2018, as vendas totais totalizaram R$ 685,5 milhões.
“A habilidade de conquistar três importantes clientes em três meses prova a força da Linx no mercado", diz relatório do Credit Suisse
“A habilidade de conquistar três importantes clientes em três meses prova a força da Linx no mercado de varejo e deve criar um ‘efeito rede’ que poderá levar outras carteiras digitais a fazer uma parceria com a Linx”, escreveram os analistas Daniel Federle, Felipe Cheng e Juan Pablo Alba, do Credit Suisse.
As carteiras digitais, como são os casos de Ame Digital, Mercado Pago e iti, podem se beneficiar de cerca de 100 mil lojas que usam a solução da Linx. “Essa solução pode ser essencial para os varejistas”, informa o relatório do Credit Suisse.
Um empresário do setor de software que acompanha de perto essa briga vai além. “Para o Mercado Pago e para a B2W significa ganhar uma rede grande rapidamente de estabelecimentos aceitando a carteira digital deles e por um custo que tende a ser muito razoável”, diz ele. “Uma carteira digital só é bem-sucedida se é amplamente aceita.”
A Linx, por sua vez, ganha uma remuneração sobre as transações iniciadas nos aplicativos. Para cada transação, a desenvolvedora brasileira de software receberá um pedaço da taxa paga pelo varejista à carteira digital.
A vantagem da Linx é ter desenvolvido uma tecnologia que permite, na hora da transação, na boca do caixa, escolher a credenciadora que oferece a taxa mais vantajosa.
No caso da solução de QR Code, ela funciona como um agregador de carteiras digitais, simplificando a vida dos varejistas que podem concentrar todos os pagamentos em um único lugar.
Segundo um estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e da AGP Pesquisas, 82% dos varejistas pretendem adotar aplicativos e QR Codes como meios de pagamento nos próximos 12 meses.
A Linx não é a única outsider nessa briga. As empresas de software perceberam que podem morder uma parte das receitas que estão indo para as credenciadoras. E quase todas, sem exceção, querem se transformar em fintechs.
A Totvs, por exemplo, também criou uma divisão para atuar nessa área e suas ações estão sendo negociadas em taxas recordes. Neste ano, as ações valorizam-se 106,1%. Mas o mercado enxerga, por enquanto, a Linx um passo à frente.
“Todo o processo de techfin é mais recente na Totvs. Normal demorar mais”, diz o empresário do setor de software.
Na briga para ser fintech, as empresas de software devem ser um pedra no caminho das empresas tradicionais. Procurada, a Linx não concedeu entrevista para esta reportagem.