Os fundos de private equity buscam retornos gerando valor em empresas, mas esse processo muda ao longo do tempo de acordo com o cenário. Nestes anos de pós-pandemia, da volta das taxas de juros no mundo e do grande volume de dados, gerar valor ficou mais difícil.
Um estudo da consultoria global Accenture com 251 gestores de private equity buy out nos Estados Unidos, Europa e na Ásia, ‘It’s time to rethink due diligence’ (É hora de repensar os processos, em tradução livre), compartilhado com exclusividade com o NeoFeed, mostrou que 75% deles afirmam que os investimentos ficaram mais complexos nos últimos cinco anos. E o principal motivo é conseguir achar empresas para seguir as tradicionais teses de investimento, o que virou raridade.
Se na primeira onda de investimentos de private equity muitos geraram valor por alavancagem financeira, depois veio a linha de redução de custo e alinhamento de incentivos e, em seguida, a tese de consolidação de indústrias. Agora, usar apenas uma dessas teses já não é suficiente na maioria dos casos.
“Estamos entrando em uma quarta onda dos investimentos em private equity, que demanda uma transformação mais completa da empresa investida e, por tanto, um suporte maior em estratégia”, diz Fernando Peixoto, líder de private equity da Accenture Brasil, em entrevista ao NeoFeed.
O aumento nas taxas de juros elevou o custo de capital e reduziu o uso de alavancagem. E os líderes das gestoras afirmam que o universo de empresas desejáveis caiu 9%.
O resultado é que os fundos de private equity estão com o maior nível de caixa da sua história. O "dinheiro parado" cresceu 23% e chegou a US$ 1,2 trilhão em 2023. Além disso, o número de realizações de investimentos caiu 17% no período, com um mercado de capitais mais parado, tornando o tempo de investimento menor.
A solução, segundo a Accenture, é olhar para possibilidades de investimento e criação de valor que antes eram ignoradas, mas agora podem ser verificadas por meio de uma análise maior de dados da empresa e do seu mercado. Será necessário uma ação maior da gestora em mudar a estratégia de negócio das empresas, e não apenas na parte financeira apoiando um bom business.
Segundo o estudo, a parte de due diligence (avaliação no potencial da empresa) se tornou uma fase muito mais importante para detectar geração de valor. Cerca de US$ 80 bilhões serão gastos nos próximos cinco anos apenas para realizar esta fase. E a inteligência artificial pode ajudar bastante nisso.
A análise de dados na due diligence de tecnologia cresceu 50% em cinco anos, enquanto dados operacionais cresceram 20%, de cybersegurança cresceram 2,4 vezes e de sustentabilidade 2,8 vezes.
“Antes a etapa de due diligence era apenas para identificar e analisar riscos. Hoje, é a principal etapa de refinamento de geração de valor da empresa. É daí que se pode ter a estratégia de como ampliar mercado, como entrar em um novo segmento e etc. E há muito mais ferramentas e dados para trabalhar com isso do que antes”, afirma Peixoto.
Segundo a Accenture, a inteligência artificial generativa tem potencial para automatizar 30% das tarefas de due diligence, ao mesmo tempo em que pode gerar novas em cerca de 20%, reduzindo significativamente o tempo gasto em processos manuais e criando novos insights.
A tecnologia pode, por exemplo, agilizar a triagem de negócios ao analisar rapidamente grandes quantidades de dados e identificar os melhores alvos potenciais que se enquadram em parâmetros de investimento. Também pode transformar a forma como as empresas gerenciam suas bases de conhecimento internas, transformando arquivos de negócios e investimentos anteriores em insights para ajudar a impulsionar a tomada de decisão.
Com a tecnologia sendo chave para o desenvolvimento dos negócios, CEOs com experiencia em business de tecnologia ganham espaço, independente do segmento de atuação. Essa experiência anterior dá a eles uma vantagem distinta na integração de tecnologia, dimensionamento soluções tecnológicas e identificação de riscos relacionados com TI.
Uma análise de 689 empresas investidas por private equities que abriram o capital nos últimos cinco anos mostra que os CEOs com experiência em tecnologia entregaram em cinco anos uma receita CAGR [taxa de crescimento anual composto] de 23,9%. Isso é 1,4 vez mais do que para CEOs sem experiência em tecnologia. Apesar disso, menos de 12% das empresas têm um CEO com experiência em tecnologia, enquanto que apenas cerca de 15% do conselho é composto por membros com exposição tecnológica.