Desde que anunciou a criação de seu Fundo III, com R$ 450 milhões para investir em startups, a e.bricks ventures aportou dinheiro na Acesso Digital e na Avenue Securities. Agora, o fundo comandado por Pedro Melzer acaba de liderar um aporte na empresa de telemedicina Conexa Saúde.
A startup, fundada pelo jovem economista Fernando Domingues e comandada pelo executivo Guilherme Weigert, é vista como uma das healthtechs mais promissoras do mercado. Seu modelo é baseado em atendimentos 24 horas, durante os sete dias da semana, com médicos do outro lado do computador, do tablet ou do smartphone.
“Temos um corpo clínico de 1,5 mil médicos, entre próprios e terceiros”, diz Domingues ao NeoFeed. São profissionais, preparados em 27 especialidades, que atendem remotamente. Mas as mais procuradas são clínica geral, cardiologia, psiquiatria e dermatologia.
O modelo de negócios que tem feito a startup ganhar escala é baseado no B2B. E há dois formatos. No primeiro deles, grandes empresas como Itaú, Cacau Show, Dasa, entre outras, usam o serviço da Conexa Saúde contratando o serviço de teleorientação para seus funcionários.
Para isso, pagam, em média, entre R$ 7 e R$ 10 por mês por pessoa. “Já temos 120 mil vidas atendidas nesse segmento”, diz Domingues. “E, ao buscar a medicina preventiva, evita-se que 50% dos casos sejam encaminhados para a emergência de um hospital”, afirma.
O outro formato adotado pela Conexa Saúde para ganhar mercado é licenciar o uso de sua plataforma para hospitais. Instituições como o Sírio Libanês, Oswaldo Cruz, AC Camargo, Santa Paula, entre outros, são clientes da startup. Neste caso, os hospitais pagam entre R$ 150 e R$ 250 por mês por cada médico que usa a plataforma.
A Conexa Saúde, fundada em 2016, atingiu essa penetração de mercado ao mudar completamente o seu negócio. O modelo atual, calcado em uma plataforma de telemedicina, só foi adotado em 2018. Antes, a empresa trabalhava como uma clínica de atuação primária, chamada Connect Care, no bairro de Copacabana, atendendo pacientes diretamente.
“Resolvemos pivotar a empresa ao acompanhar o que acontecia nos Estados Unidos e na China”, diz Domingues, fundador da Conexa Saúde. “Lá, os atendimentos digitais já superaram os presenciais.” Domingues percebeu que seria a melhor forma de escalar o negócio.
Nos Estados Unidos, a empresa Teladoc Health, que atua em telemedicina, tem ações negociadas na bolsa de Nova York e tem valor de mercado de US$ 8,5 bilhões. Na China, a plataforma Ping an Good Doctor conta com 315 milhões de pessoas registradas. Detalhe: foram feitas 1,1 bilhão de consultas referentes ao coronavírus desde o surgimento da epidemia.
Nos Estados Unidos, a empresa Teladoc Health, que atua em telemedicina, tem ações negociadas na bolsa de Nova York e valor de mercado de US$ 8,5 bilhões
“No Brasil, esse mercado de telemedicina ainda está arranhando a superfície”, diz Thiago Maluf, general partner da e.bricks ventures. Pedro Melzer, CEO da e.bricks eventures, complementa. “É um mercado muito grande e carente de inovação.”
Maluf explica que escolheu a Conexa Saúde pela combinação de um excelente corpo clínico com conhecimento de tecnologia. E também pelas perspectivas de mercado.
Por mais que ainda existam limitações regulatórias e ainda não seja possível o médico realizar a primeira consulta diretamente com o paciente e receitar medicamentos, essa barreira tem tudo para ser quebrada com o passar do tempo e o avanço da tecnologia.
Com uma base no Cubo, o hub de inovação aberta patrocinado pelo Itaú, pela Dasa, entre outras companhias, a startup tem conversado inclusive com o governo do Estado de São Paulo para oferecer o serviço de atendimento na especialidade de dermatologia.
Muita gente ainda torce o nariz para a telemedicina, a classe médica reluta em aceitar esse modelo, mas a prática já é vista como a saída para prevenir doenças e preencher o déficit de médicos no mundo, estimado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 8 milhões de profissionais.
Trata-se de um caminho sem volta. Tanto que hospitais como o Albert Einstein já fazem esse tipo de atendimento, vendendo o serviço para empresas. “Vendemos como saúde corporativa. Mais preventiva e de urgências relativas. O intuito é colocar o paciente correto na porta correta”, disse Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, em recente entrevista ao NeoFeed.
Para trazer mais credibilidade ao negócio e reduzir a desconfiança sobre os atendimentos remotos, algo a que os brasileiros ainda não estão acostumados, Domingues, da Conexa Saúde, conta com sócios de peso que estão no conselho de administração da startup.
São profissionais do calibre de Romeu Domingues, médico, presidente do conselho de administração da Dasa e conselheiro da Sul América, que é pai de Fernando; Roberto Botelho, médico cardiologista fundador e diretor médico do ITMS Brasil e Chile; Marcelo Saad, sócio da Laplace Finanças e membro do conselho da Bemol; e Sidney Breyer, fundador da ALOG e conselheiro da B2W.
Domingues pretende usar o dinheiro do aporte para alavancar as operações e investir em tecnologia. “Vamos contratar mais profissionais na área comercial. Pretendemos alcançar 250 mil vidas até o fim do ano”, diz ele.
Para 2021, ele prevê o lançamento de outros produtos, voltados diretamente a pessoas físicas. “Seria como um cartão pré-pago em que os usuários podem pedir orientações médicas”, afirma.
Domingues ressalta a importância do aporte como uma chancela que pode trazer outros investidores institucionais. “Queremos partir para uma rodada de série A no ano que vem”, diz ele.
O valor investido pelo e.bricks ventures não é revelado, mas sabe-se que é seed money e está dentro da estratégia do fundo de venture capital de acompanhar o estágio da empresa ao longo de sua evolução. Domingues, entretanto, diz que a Conexa Saúde recebeu até hoje R$ 5 milhões em duas rodadas seed. A primeira foi com um corpo clínico formado por profissionais como Ben-Hur Ferraz Neto, Claúdio Domênico e Otávio Gebara. A segunda é esta com a e.bricks ventures.
Os investimentos do e.bricks nesse Fundo III começam em R$ 3 milhões e podem chegar a R$ 45 milhões. Do total de R$ 450 milhões do fundo, 15% são reservados para aportes seed money, geralmente o primeiro recurso institucional que uma startup recebe – caso da Conexa Saúde. O restante vai para séries A e B, quando a companhia está em estágio mais avançado.
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