Depois de Guilherme Benchimol surpreender o mercado e anunciar a sua saída do dia a dia da empresa para dar lugar ao executivo de tecnologia Thiago Maffra, outra instituição financeira ensaia um movimento parecido. O NeoFeed apurou que a família mineira controladora do BS2, os Pentagna Guimarães, está em busca de um novo CEO para o banco.

Hoje, a instituição financeira é comandada por Gabriel Pentagna Guimarães, um dos controladores, e a companhia tem buscado um executivo com perfil mais de tecnologia. O NeoFeed descobiu que a consultoria Flow Executive Finders está caçando esse profissional no mercado e isso deve ser decidido nos próximos meses.

Procurado, o banco BS2, por meio de sua assessoria de imprensa disse que “não vai comentar rumores de mercado”. Nos bastidores, o NeoFeed apurou que a chegada de um novo CEO serviria para o BS2, antigo banco Bonsucesso, ser visto como uma empresa “puro-sangue” digital.

Isso facilitaria, inclusive, a entrada de novos investidores. No ano passado, o BS2 tentou abrir capital, mas adiou os planos por conta da pandemia. Uma nova tentativa não estaria descartada pelo banco, mas seus acionistas sabem que o mercado hoje está cada vez mais sedento por histórias digitais na bolsa. Basta ver os recentes IPOs de companhias como Locaweb, Mosaico, Méliuz, entre outras.

Na visão de um profissional do mercado de tecnologia, um executivo independente reforçaria a governança corporativa e, além disso, ajudaria a convencer a entrada de novos investidores. E capital intensivo é mais do que necessário para competir nesse mercado onde o nome do jogo é escala. “Serviços de tecnologia estão muito caros e demandam investimentos constantes”, diz ele.

No ano passado, a instituição financeira apresentou um prejuízo de R$ 30 milhões. Os Pentagna Guimarães, controladores do banco, injetaram R$ 100 milhões na operação e, segundo informações, parte da família tem disposição para injetar mais para não frear os planos de transformação digital e avanço tecnológico do banco.

Um executivo que conhece a operação confidenciou ao NeoFeed que, como o controle do banco é dividido com muitos herdeiros de várias gerações, isso não é consenso. “Alguns não querem aportar dinheiro e desejam que o BS2 cresça organicamente e traga novos investidores para dentro”, afirma.

O patrimônio líquido do BS2, até o terceiro trimestre de 2020, o dado mais recente disponível, apontava para R$ 468 milhões e o índice de basileia está em 10,6%. “Para disputar no mercado de bancos digitais, eles precisariam de um patrimônio líquido de R$ 2 bilhões”, diz essa mesma fonte. “Terão de injetar muito capital.”

A família controladora, que tem parentesco com os donos do Banco BMG, é capitalizada. Basta ver que, em janeiro de 2020, os donos do BS2 concluíram a venda de 40% de participação na joint-venture que tinham com o Santander no banco Olé, voltado para o crédito consignado, por R$ 1,6 bilhão.

Foco no PJ

Independentemente da chegada de um novo executivo, o BS2 tem feito uma grande transformação de seu negócio, se posicionado em um segmento pouco explorado pelos players atuais. E, por conta de sua estratégia, pode se dar muito bem nessa seara. Trata-se do mercado voltado às pequenas e médias empresas, um universo muito pulverizado e que, até pouco tempo, era “deixado de lado”.

O NeoFeed apurou que o BS2, com ativos de R$ 11 bilhões, tem lançado mão de uma série de ações voltadas às pessoas jurídicas. Além de parcerias com outras companhias, há no horizonte o plano de criar um marketplace não financeiro.

Estima-se que o banco tenha 40 mil contas PJs e almeja chegar em 500 mil em até três anos. Para conseguir atingir esse número, o BS2 deve intensificar o fornecimento da chamada conta white label. É algo que a instituição financeira já vem fazendo com startups como a Conta Azul e a Contabilizei.

“A parceria permite que empresas clientes do escritório (da Contabilizei) tenham direito a uma conta aberta automaticamente no banco, com o consentimento delas, sem a necessidade de enviar mais documentos ou realizar um novo cadastro”, disse recentemente Gabriel Pentagna Guimarães no Relatório Anual de Meios Eletrônicos de Pagamento da publicação Card Monitor.

“Dessa forma, a empresa já nasce com conta e pode, por exemplo, emitir notas e receber pagamentos imediatamente. Esse lançamento se tornou um marco para nós, pois é o primeiro caso transacional de Open Banking do Brasil”, afirmou à publicação.

O banco está mapeando vários setores para replicar este modelo e ganhar escala. O BS2, que no universo de pessoas físicas conta com 800 mil correntistas, estaria atrás de empresas de intercâmbio, universidades, companhias de ERPs, franquias, entre outras.

Neste caso, a instituição financeira entra com os serviços e o parceiro, que tem o cliente, não precisa investir. Com isso, o BS2 não gasta com custo de aquisição de cliente e o parceiro monetiza com os serviços. Quem já negociou com eles diz que a porcentagem nos resultados pode variar entre 20% e 50%.

O BS2 tem se posicionado de modo a se vender aos clientes como um banco de solução completa de serviços que passam por plataforma de cobranças; internet banking; adquirência; plataforma de investimentos; conta internacional, entre outros.

Agora, pretende completar esse portfólio com serviços não financeiros para o cliente PJ. Seria uma espécie de marketplace com soluções de contabilidade, emissão de nota, serviços de RH.

O foco do banco está em empresas que faturam entre R$ 81 mil e R$ 4,8 milhões. A disputa, definitivamente, não será fácil. Além de bancos como Nubank, Inter, Neon, BTG Pactual e outros digitais, fintechs como Cora, Linker e Conta Simples estão avançando sobre esse tipo de cliente. Mas a estratégia desenhada pelo BS2, de cobrir todas as pontas, pode se mostrar um grande diferencial.