No início de dezembro de 2020, quando abriu capital na B3, a Rede D’Or levantou R$ 11,39 bilhões e foi avaliada em R$ 112,5 bilhões, concretizando, assim, o terceiro maior IPO da história da bolsa de valores brasileira.
De lá para cá, o grupo vem lidando com o peso de sustentar o status conquistado junto aos investidores. Com o desafio adicional de equilibrar, em sua operação, o atendimento a pacientes da Covid-19 e de outras patologias.
“A companhia vem mostrando muita resiliência operacional e capacidade de adaptação e flexibilidade”, afirmou Paulo Moll, CEO da Rede D’Or, em conferência com analistas nesta terça-feira. “E conseguindo manter, mesmo diante de tantas oscilações, altas taxas de ocupação.”
Desde o início da pandemia, o grupo já atendeu mais de 1 milhão de pacientes sintomáticos da Covid-19, dos quais, 300 mil tiveram casos confirmados, que geraram mais de 40 mil internações nos hospitais da rede, com taxa de letalidade geral de 1,7%.
Embora não tenha revelado o número consolidado, a Rede D’Or informou na apresentação do balanço do trimestre que, desde o fim do março, quando contabilizava um total de 6.726 pacientes, o volume de pacientes da Covid-19 teve uma queda de 26% nas unidades do grupo.
O recuo não trouxe, no entanto, impactos na operação. “Temos observado a redução dos casos desde o início de abril”, disse Moll. “No entanto, ela tem sido compensada pela ocupação por outras patologias e cirurgias, o que traz um efeito positivo nos resultados.”
Alguns indicadores do primeiro trimestre também ilustram o cenário de maior equilíbrio entre as duas frentes, com a recuperação de procedimentos que haviam sido impactados durante os primeiros meses da Covid-19, mesmo diante da escalada dos casos do novo coronavírus até o fim de março.
É o caso das cirurgias de oncologia, que tiveram a terceira alta trimestral consecutiva e um crescimento de 12,2% na comparação com o primeiro trimestre de 2020. Já o número total de cirurgias no período foi de 74 mil, contra 67 mil, há um ano, e 32 mil, no segundo trimestre do ano passado, o volume mais baixo desde o avanço da Covid-19 no País.
Em outro dado divulgado, o tíquete médio no período, calculado a partir da receita e do número de pacientes-dia, registrou um crescimento de 16,6% entre janeiro e março. A companhia destacou que o indicador foi impactado pelo aumento do número de tratamentos de maior complexidade e de outras linhas de negócio, como diagnóstico e, novamente, a oncologia.
“O tíquete médio dos pacientes de Covid-19 é parecido com o de outras patologias, mas a rentabilidade é menor”, disse Moll. Ele ressaltou, porém, que os custos de suprimentos relacionados à pandemia tiveram altas expressivas, o que contribuiu para o aumento dos gastos no período. “Mas, conforme vemos uma redução no atendimento a esses casos, a tendência é ter ganhos de rentabilidade.”
Resultado saudável
Entre janeiro e março, a Rede D’Or reportou um lucro líquido de R$ 402,4 milhões, um desempenho 254,6% superior ao resultado registrado na última linha do balanço, um ano antes.
A receita líquida ficou em R$ 4,7 bilhões, alta de 43% sobre igual período em 2019. Já o ebitda foi de R$ 1,1 bilhão, o que representou um crescimento de 86% na mesma base de comparação. A taxa de ocupação de leitos no primeiro trimestre foi de 79,5%, contra 69,7%, há um ano.
Em relatório, a XP apontou que o resultado da rede foi “saudável como sempre” e veio acima das expectativas, sob o impulso de fatores como o aumento de 14% nos leitos operacionais, a taxa de ocupação mais alta e o tíquete médio mais elevado.
“O forte conjunto de indicadores reforça nossa visão positiva e, com isso, reiteramos nossa recomendação de compra com preço alvo de R$ 85 por ação”, escreveu o analista Vitor Pini, da XP.
Avaliada em R$ 145,5 bilhões, a Rede D’Or acumula uma valorização em suas ações de 11,6% em 2021, tomando como base o preço do fechamento do pregão da segunda-feira. Nesta terça-feira, os papéis da companhia estavam sendo negociados a R$ 75, com um recuo de 1,32%, por volta das 12h30.
Follow-on
Horas depois da conferência com analistas, o site Pipeline, do jornal Valor Econômico, trouxe a informação de que a Rede D’Or está preparando um follow-on, que seria anunciado ainda nesta semana, no valor de R$ 5 bilhões.
Segundo o portal, do volume a ser captado, cerca de R$ 3 bilhões serão em uma tranche secundária, com a venda de parte das ações do fundo Carlyle e de papéis da família Moll. Os R$ 2 bilhões restantes irão reforçar o caixa do grupo.
Em fato relevante divulgado após a publicação da reportagem, a Rede D’Or confirmou que a realização de uma oferta primária e secundária está em análise.
“Neste momento, no entanto, a realização da oferta ainda não foi deliberada pelos órgãos societários competentes e encontram-se pendentes de definição aspectos sobre a sua estrutura, inclusive volume, os quais serão objeto de deliberação pelo Conselho de Administração da companhia em reunião agenda para esta data”, informou a empresa.