Master franqueadora no Brasil de marcas como o Pizza Hut, a IMC lida com uma situação indigesta desde janeiro de 2021. Na época, discordâncias sobre metas não cumpridas na pandemia e a revisão de planos de expansão evoluíram para uma arbitragem aberta pela Yum! Brands, que controla a rede de fast food, por meio da KFC International Holdings.
Prestes a completar dois anos dessa disputa, a empresa brasileira está colocando um ponto final no imbróglio, ao anunciar o fim do processo de arbitragem movido pelo grupo americano. A virada de página nessa história envolve ainda a assinatura de um novo acordo entre as duas partes.
A IMC passa a ser a master franqueadora do KFC para as regiões Sul e Sudeste nos próximos 10 anos, com a previsão de abrir cerca de 400 lojas da rede nesse período, entre unidades próprias e franquias. Os novos termos substituem o contrato que valeria ainda por cinco anos e abrangia a operação em todo o País.
“Desde que cheguei ao grupo, minha proposta era achar uma solução para esse impasse. No fim das contas, uma arbitragem, ganhando ou perdendo, nunca é bom para ninguém”, diz Alexandre Santoro, CEO da IMC, ao NeoFeed. O executivo assumiu o posto em abril de 2021, com o grupo duramente impactado pela Covid-19.
A escolha do KFC como uma das marcas prioritárias no menu da IMC, ao lado do Pizza Hut e do Frango Assado, foi uma das medidas adotadas em sua gestão. Ele entende que o fim do litígio – que não prevê nenhuma multa - e a retomada do diálogo com a Yum! Brands abrem caminho para que o grupo volte a se concentrar na expansão dessa bandeira.
“Não temos nenhuma dúvida do potencial da marca KFC, mas tínhamos essa questão pela frente”, observa Santoro. “E o foco nessas geografias foi uma das maneiras que encontramos para destravar e resolver essa situação.”
Atualmente, o KFC tem 132 lojas no País – 62 próprias e 71 franquias - todas sob a gestão da IMC. Uma base de 118 unidades, ou seja, pouco mais de 89% do total, está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. No segundo trimestre, a receita da divisão que inclui a marca e também o Pizza Hut cresceu 91,1%, para R$ 142 milhões, sobre igual período de 2021.
Entre abril e junho, a receita líquida total do grupo foi de R$ 621,5 milhões, alta de 39,5% na mesma base de comparação. No trimestre, a empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 4,8 milhões, contra o lucro líquido de R$ 21,2 milhões, apurado um ano antes.
A partir da assinatura do acordo, as 14 lojas restantes do KFC que estão fora da nova área de cobertura da IMC seguirão, no curto prazo, contando com o suporte do grupo. Em um processo que, segundo Santoro, pode durar até um ano, a Yum! Brands irá definir quem passará a gerenciar essas unidades no País.
Na outra ponta, com o caminho livre de pendências, a IMC já começa a traçar os planos de expansão para a rede. Nesse trajeto, uma das vias já definidas pela empresa é a aposta em lojas de rua. Hoje, as unidades do KFC no Brasil estão distribuídas, em sua maioria, em shopping centers.
“Ter presença também com lojas de rua é importante para a construção e a evolução da marca, além da exploração de formatos como o drive thru”, explica Santoro. Em termos de geografias, ele diz que o maior foco ainda estará em São Paulo capital e no interior paulista.
Embora não revele um número exato, o executivo diz que, até o fim do ano, a IMC vai adicionar novas unidades a esse mapa de operações. Recentemente, a empresa inaugurou novas lojas da rede em cidades como Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Foz do Iguaçu (PR), Ribeirão Preto (SP) e Salvador (BA).
Além da expansão, outro projeto em curso envolve a instalação de totens de autoatendimento em todas as lojas da rede de restaurantes. Esse processo teve início em setembro desse ano, ganhou velocidade nesse mês de outubro e deve cobrir boa parte das unidades até o fim de 2022.
“Temos ainda uma série de iniciativas no digital em andamento, como os pedidos por WhatsApp e o desenvolvimento de um aplicativo próprio”, conta. “Essa estratégia vai evoluir para um CRM único e a possibilidade de fazer promoções e ativações dentro dessa base de dados.”
Os novos planos para o KFC são mais um capítulo de uma estratégia que ganhou corpo com a chegada de Santoro ao grupo. Entre outras medidas, a IMC também vem dando peso aos desinvestimentos para simplificar os negócios, reduzir as dívidas e dar mais fôlego à operação.
Nessa frente, os movimentos mais recentes envolveram os ativos que o grupo mantinha no Panamá. Em setembro, a IMC vendeu suas operações no aeroporto de Tocumén para a Inflight Holdings Cayman, por US$ 40 milhões. Um mês antes, se desfez da master franquia da Carl’s Jr., também no país, por US$ 2,1 milhões.
“Tivemos avanços em eficiência operacional e estamos numa situação mais confortável em termos de endividamento”, ressalta Santoro. “Ainda temos muito a entregar, mas já demos os primeiros passos e, o mais importante, é a sinalização de que estamos na direção certa.”
Pouco a pouco, os investidores também dão um sinal de que estão comprando esse cardápio de projetos. As ações da IMC encerraram o pregão dessa segunda-feira na B3 cotadas a R$ 2,43, alta de 5,56%. No ano, os papéis da companhia acumulam uma valorização de 1,64%. O grupo está avaliado em R$ 705 milhões.