Um problema incômodo acompanha os US$ 503 bilhões em investimentos privados nos Estados Unidos: a falta de mão-de-obra especializada para preencher as vagas que estão sendo criadas.
Isso tem acontecido desde a aprovação, em 2022, do pacote de leis do presidente Joe Biden de estímulo à indústria da transição energética e de alta tecnologia, além de obras públicas de infraestrutura.
O caso mais emblemático é o da fabricante de chips TSMC, de Taiwan, a maior indústria de semicondutores do mundo.
Ao apresentar recentemente seu relatório do segundo trimestre, o CEO Che Chia Wei anunciou que a TSMC vai adiar para 2025 o início da produção da sua primeira unidad de chips no estado do Arizona, prevista inicialmente para este ano, por causa da escassez de trabalhadores com “o conhecimento especializado necessário para a instalação de equipamentos de supercondutores”.
O projeto da TSMC, de US$ 40 bilhões, conta com subsídios do governo dos EUA e prevê a construção de uma segunda unidade em 2026.
O problema enfrentado pela versão americana do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de gestões petistas no Brasil é complexo porque envolve alguns fatores.
Um deles diz respeito ao déficit de formação de profissionais de alta tecnologia pelas universidades dos EUA, que se agravou com o aumento da demanda da indústria para produzir baterias, chips, painéis solares e supercondutores no pós-pandemia, para suprir a dependência das cadeias de suprimentos da Ásia.
O superciclo de investimentos com subsídios oferecidos pelo pacote de três leis de Biden - a Lei de Redução da Inflação, a Lei de Infraestrutura e a Lei CHIPS e Ciência -, teve um aumento de 70% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando US$ 153 bilhões, conforme revelam dados do PIB dos EUA, divulgado em julho.
Em comparação com o primeiro trimestre, o avanço em investimentos foi de 17%, mas a falta de trabalhadores especializados - que deve se estender pelo menos até a segunda metade da década - parece não ter sido levada em conta nesse planejamento.
Além da TSMC, a Associação da Indústria de Semicondutores alertou que não há trabalhadores suficientes para atender à demanda estimulada pela Lei CHIPS, que distribui US$ 50 bilhões em estímulos para construção de novas fábricas domésticas de semicondutores.
Desde a aprovação da lei, em agosto de 2022, mais de US$ 210 bilhões de investimentos privados em projetos foram anunciados em 20 estados americanos.
“Outras indústrias de tecnologia de alto crescimento e de importância estratégica para o futuro dos EUA e do mundo estão enfrentando uma lacuna de talentos semelhante”, advertiu a entidade, em relatório.
É o caso das indústrias de tecnologia verde e transição energética. Apenas nesta área são US$ 370 bilhões em estímulos previstos pela Lei de Redução da Inflação.
Duas empresas europeias anunciaram este mês que investirão US$ 2 bilhões no Texas para uma usina de produção de gás natural sintético.
Sem solução rápida
Até agora, o governo Biden alocou US$ 225 bilhões em financiamento de infraestrutura para cerca de 35 mil projetos nos EUA, que incluem não apenas incentivos para área de tecnologia como construção de estradas, portos, pontes e ampliação de redes 5G, entre outros.
A Federação Americana de Professores detectou o problema no ano passado, quando deu início a um projeto que prevê a elaboração de novos currículos e programas de estágios pagos, em parceria com escolas e empresas.
O objetivo é treinar alunos do ensino médio e de faculdades comunitárias em áreas técnicas.
Uma parceria com a fabricante de chips Micron gerou um programa de capacitação em Nova York.
A Casa Branca também começou a se mexer, discutindo a criação de cursos técnicos e estágios com sindicatos, empregadores e faculdades.
Outro fator, sazonal, é o aquecido mercado de trabalho do país desde o fim da pandemia.'
Com desemprego na faixa de apenas 3,5% e vários setores com dificuldade de preencher vagas, os americanos se dão ao luxo de escolher o emprego que paga salários melhores.
“Parte do que precisa acontecer é uma mudança na força de trabalho, com pessoas saindo de empregos mal pagos no setor de serviços para esses campos com salários mais altos”, afirmou Celeste Drake, consultora trabalhista da Casa Branca.