O Federal Reserve (Fed) acelerou o ritmo de alta da taxa de juro e deu a largada para uma corrida onde não há vencedor. Ao contrário, dentro de alguns meses, o efeito do aumento coletivo do custo do dinheiro nas principais economias poderá trazer perdedores porque, mais cedo ou mais tarde, o ritmo da atividade cederá e não necessariamente com inflação menor.

E mais: na onda de quem pagará mais, nem todos conquistarão mais investidores porque os fundamentos das economias – sobretudo fiscais – vão pesar para valer.

O Fed elevou o juro em 0,75 ponto percentual, para o intervalo de 1,50% a 1,75%, ontem. As bolsas americanas comemoraram o aumento mais expressivo desde 1994. A valorização dos principais índices foi ancorada na expectativa de que a decisão mais conservadora agora significará intervenção mais branda no futuro.

“Não espero que movimentos deste tamanho sejam comuns", disse Jerome Powell, presidente do Fed, em entrevista após a divulgação da nova taxa de juro. Mesmo assim, deixou a porta aberta para outro ajuste da mesma magnitude na próxima reunião de política monetária, se os dados sobre inflação não apresentarem melhora.

Do outro lado do Atlântico, na manhã desta quinta-feira de feriado no Brasil, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) elevou sua taxa a 1,25%. Pela primeira vez desde 2009, a taxa referencial do BoE superou 1%, também um feito.

Seguindo a trilha de seus pares, o Banco Central da Suíça subiu sua taxa também nesta quinta-feira, pela primeira vez desde 2007. E tem espaço para mais ajuste. Muito mais. No BC suíço, o ajuste foi de 0,50 ponto, suficiente apenas para deslocar a taxa básica de -0,75% para -0,25%.

O Banco Central Europeu (BCE) já avisou que apertará a política monetária em julho com reprise em setembro. Portanto, acena, por antecipação, que mais duas altas de juros estão contratadas.

Apesar das críticas desferidas ao BCE, que estaria demorando para levantar armas contra a inflação, o banco tem em sua defesa a necessidade de rearranjar o mercado de títulos soberanos na zona do Euro. Eles têm sido negociados com tanta disparidade de preços, que levou o BCE a anunciar a criação de uma ferramenta para evitar discrepância e, por tabela, uma crise no financiamento ou rolagem de dívidas.

“Ainda que se preservem parte dos programas de alívio quantitativo, o movimento global de políticas de aperto monetário continuou a ganhar força, com o aumento expressivo no número de bancos centrais sinalizando preocupação com a inflação, em especial devido à guerra Rússia-Ucrânia, aos recentes choques de oferta e perspectiva de alta nas commodities”, afirma o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.

Em junho, no cômputo geral, entre 167 países, 62,28% mantiveram os juros; 33,53% elevaram e 4,19% cortaram. No ranking que lista 40 países, 47,50% mantiveram, enquanto 50% elevaram as taxas e 2,50% cortaram.

A mobilização dos bancos centrais das economias mais desenvolvidas é semelhante à do Banco Central do Brasil que arregaçou as mangas mais cedo contra a inflação e por um velho e bom motivo: a memória inflacionária no país é de longa data e, por aqui, a hiperinflação mostrou sua cara nas décadas de 1980 e 1990, abrindo crises sem precedentes.

Os mercados acionários sentem, nesta quinta, o impacto das decisões de política monetária. As bolsas caíram na Ásia e na Europa. Nos EUA, os índices futuros perdiam cerca de 2%. O comportamento das ações não deixa dúvida: cresce o temor (e o risco) de a economia global mergulhar em recessão.