Como parte da iniciativa de tentar pôr ordem na casa após a revelação de “inconsistências contábeis” na casa dos R$ 20 bilhões, a Americanas anunciou nesta segunda-feira, dia 16 de janeiro, a contratação do Rothschild & Co para atuar como interlocutor na renegociação da dívida no Brasil e no mundo.

Até o momento, o executivo Sergio Rial, que ficou apenas nove dias no comando da varejista e renunciou ao cargo, vinha atuando como interlocutor do caso, além de assessor dos acionistas de referência - Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

Agentes de mercado colocavam algumas dúvidas sobre a participação de Rial. Além de ser presidente do conselho de administração do Santander Brasil, um dos bancos com alta exposição ao caso, ele também não contava com um mandato claro para atuar em nome da empresa.

A tarefa do Rothschild & Co não será simples. No pedido de tutela de urgência cautelar preparatória do processo de recuperação judicial, que a companhia apresentou na sexta-feira, dia 13 de janeiro, a Americanas alertou para o risco de vencimento antecipado e imediato de um montante de quase R$ 40 bilhões, por conta do descumprimento de covenants (compromissos nos contratos de financiamento para proteger os credores).

A tutela vai impedir que, no prazo de 30 dias concedido pela Justiça, os credores venham cobrar suas dívidas e afetar o patrimônio da companhia. O BTG Pactual já agiu para tentar bloquear R$ 1,2 bilhão em aplicações da empresa no banco.

O banco, por sinal, é um dos que podem ser mais machucados pelo caso. Relatório do Citi mostra que o BTG Pactual é a instituição financeira mais exposta a empréstimos da Americanas dentro do seu universo de cobertura. A exposição em relação ao total de empréstimos é de 1,6%. 

Em seguida, de acordo com o Citi, aparecem Santander (0,6%), Bradesco (0,5%), Itaú (0,3%) e Banco do Brasil (0,1%). Dependendo do nível de provisionamento a ser feito, o caso pode ter um impacto de 3% a 7% no lucro líquido de Bradesco, BTG e Santander em 2023.

A situação está derrubando as ações dos bancos no pregão de hoje. Por volta das 17h20, as units do BTG Pactual recuam 4,55%, a R$ 21,20. As ações preferenciais do Bradesco recuavam 3,20%, a R$ 14,51, enquanto a units do Santander caíam 3,58%, a R$ 28,83, e as ações preferenciais do Itaú tinham baixa de 1,35%, a R$ 25,50. 

Já as ações ordinárias do Banco do Brasil subiam 0,08%, a R$ 35,68. A Americanas, por sua vez, tinha queda de 37,46%, a R$ 1,97. 

Os riscos que o caso traz, junto com o fato de a Americanas ter recorrido à Justiça antes de abrir conversas e trazer propostas, está fazendo os bancos se mexerem. Em liminar apresentada no sábado, 14 de janeiro, contra a proteção concedida pelos varejistas, os advogados do BTG Pactual fizeram duras críticas à empresa e ao trio da 3G Capital, até então referências no mundo dos negócios brasileiro. 

A petição começa afirma que o caso representa a “maior fraude corporativa de que se tem notícia na história do país” e que o pedido da Americanas representa “o fraudador pedindo às barras da Justiça proteção ‘contra’ a sua própria fraude”

A peça também dispara contra Lemann Sicupira e Telles, afirmam que eles são “ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial ‘do bem’” e que eles foram ‘pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é uma das principais companhias do trio”. 

O escândalo foi revelado na quarta-feira, 11 de janeiro. A companhia detectou inconsistências em lançamentos redutores da conta de fornecedores realizados nos últimos anos. Foram operações de financiamento de compras nas quais ela é devedora perante instituições financeiras, mas que não estavam adequadamente refletidas nas demonstrações financeiras.

O caso levou à saída de Rial e de André Covre, diretor financeiro e de relações com investidores, nove dias após eles tomarem posse.