Entre uma pandemia, uma ameaça de terceira guerra mundial e uma empresa de streaming, é justamente a terceira que causou os maiores problemas para Bill Ackman, fundador e CEO da gestora Pershing Square Capital Management.

O bilionário vendei toda a sua participação na Netflix. E assumindo um prejuízo de cerca de US$ 400 milhões.

Famoso por ter feito previsões sobre a queda dos mercados com a ameaça da pandemia, ainda no começo de 2020, Ackman fez fortuna quando sua gestora fez hedges para proteger seus ativos, no valor de US$ 27 milhões. Em março daquele ano, ele lucrou US$ 2,6 bilhões com o tombo de 30% no mercado de capitais.

Parte do dinheiro foi utilizada para a compra de ações da Netflix. O hedge fund havia adquirido pouco mais de 3,1 milhões de ações da empresa cuja sede fica em Los Gatos, na Califórnia. A exposição girava em torno de US$ 1,1 bilhão. Na época, Ackman disse estar “satisfeito que o mercado nos apresentou essa oportunidade”.

Mas se Ackman aproveitou uma desvalorização das ações da Netflix para investir na empresa ainda em janeiro deste ano, ele não esperava que o filme de terror envolvendo o desempenho da companhia no mercado de capitais estava apenas começando.

Na quarta-feira, 20 de abril, a gigante do streaming terminou o dia com queda de 35,12% em suas ações, na maior queda diária da empresa desde 2004. A Netflix fechou o pregão avaliada em pouco mais de US$ 100 bilhões, um tombo de US$ 50 bilhões em seu valor de mercado.

Foi o necessário para Ackman aceitar a derrota e retirar o investimento. Segundo o investidor, a Pershing Square “perdeu a confiança na habilidade de prever um prospecto futuro para a companhia” e que “agiu prontamente” ao descobrir novas informações sobre o investimento e que não batiam com a tese original que fez a gestora investir na Netflix.

Ackman não revelou quais foram essas novas informações. O que se sabe é que, pela primeira vez em uma década, o serviço de streaming perdeu assinantes em relação ao trimestre anterior. Foram 200 mil assinaturas a menos.

Filme de terror

A Netflix terminou o mês de março com 221,6 milhões de assinantes em sua base. A menos que a companhia vire o jogo imediatamente, os números devem ser ainda piores na divulgação no próximo balanço. A projeção é de uma perda de 2 milhões de assinantes – em razão da suspensão dos serviços na Rússia por conta da guerra na Ucrânia.

A Netflix reportou também receita aquém da esperada pelo mercado, terminando o trimestre com pouco menos de US$ 7,8 bilhões. O lucro por ação de US$ 3,53 no período, por outro lado, foi acima da expectativa de US$ 2,89.

Para reverter os números, a companhia informou que vai criar um plano que será mais barato, mas com a exibição de anúncios. Em outro esforço, a companhia disse que vai impedir o compartilhamento de senhas entre os usuários do serviço. A Netflix estima que 100 milhões de lares usem senhas emprestadas.

“O compartilhamento provavelmente ajudou a impulsionar nosso crescimento, fazendo com que mais pessoas usem e aproveitem a Netflix”, diz um dos trechos de uma carta divulgada pela empresa para acionistas. “Mas os tempos mudaram. E quando o crescimento para, as atitudes tendem a mudar.”

Neste sentido, a companhia está estudando a adesão de uma taxa para permitir o compartilhamento das contas. A medida está sendo testada em mercados como Costa Rica, Chile e Peru e poderia gerar um ganho de US$ 1,6 bilhão por ano para a empresa, segundo uma análise do banco de investimento americano Cowen & Co.

Ainda que seja absoluta em termos de números de assinantes frente suas principais concorrentes no mercado, a Netflix tem visto a distância diminuir. A Disney, por exemplo, já soma mais de 179 milhões de assinantes (contando os serviços Hulu e ESPN).

A WarnerMedia, por sua vez, ganhou 3 milhões de assinantes no primeiro trimestre deste ano em seus serviços de assinatura HBO e HBO Max. A companhia tem cerca de 76,8 milhões de assinaturas ativas em todo o mundo.