O mar está revolto para as principais empresas de cruzeiro marítimo do mundo, que tiveram suas atividades paralisadas por conta do novo coronavírus.

Sem data para retomada das operações, a Norwegian, terceira maior operadora do setor, alertou que há “dúvida substancial” de que poderá continuar no negócio e admitiu a possibilidade de pedir concordata caso não consiga linha de crédito ou o financiamento de suas dívidas.

A empresa, listada na bolsa de Nova York, disse que a “Covid-19 teve, e espera-se que continue a ter, um impacto significativo em nossa condição financeira e operacional, o que afeta adversamente nossa capacidade de obter financiamento."

Em um comunicado à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), a Norwegian informou que as dificuldades enfrentadas para organizar fundos de emergência “levantaram dúvidas substanciais sobre a capacidade da empresa de continuar em funcionamento, uma vez que a empresa não possui liquidez suficiente para atender suas obrigações nos próximos 12 meses ”.

Na nota, a Norwegian assegura que honrou todos os seus compromissos e contratos de dívidas até 31 de março, mas que não seria capaz de manter o mesmo fôlego sem negociação com seus credores e reestruturação do negócio.

Por estar registrada nas Bermudas, a Norwegian ficou fora do pacote de estímulo desenhado pelo governo americano, que prevê um resgate de US$ 2,3 trilhões para a economia. Outras empresas do setor passam pela mesma situação.

Uma das saídas desenhadas pela empresa é buscar um investimento total de US$ 1,6 bilhão através de uma combinação de venda de ações e outros títulos.

O fundo de private equity L Catterton já se comprometeu em aportar US$ 400 milhões, caso a Norwegian levante US$ 1 bilhão com outras empresas de venture capital ou fundos. Segundo o acordo, a L Catterton teria o direito de apontar um membro para o conselho da companhia.

Outra manobra adotada pela companhia foi a redução da folha de pagamento. Cerca de 20% da força de trabalho da companhia foi colocada em licença não-remunerada até 31 de julho. Os profissionais que continuarem ativos terão suas jornadas de trabalho reduzidas, com salários proporcionais – também 20% menores.

Desde o começo do ano, os papéis da empresa de cruzeiros já se desvalorizaram 78,6%. Na terça-feira, 5 de maio, a queda foi de mais de 20%. A companhia vale agora US$ 2,4 bilhões.

A Norwegian teve receita recorde no ano passado, movimentando US$ 6,5 bilhões com sua frota composta por 17 navios. O lucro da companhia foi de US$ 257,2 milhões.

Todas no mesmo barco

A indústria de cruzeiros era estimada em US$ 45,6 bilhões, com 26 milhões de passageiros anuais, segundo levantamento da Cruise Market Watch. Ainda não há uma previsão da contração do mercado e do impacto financeiro das suspensões dessas atividades por conta da pandemia do coronavírus.

Tudo o que se sabe, porém, é que outras companhias do setor navegam nas mesmas tormentas da Norwegian. A Carnival Cruise Line, outra grande player, viu seus papéis se desvalorizarem 74,6% desde janeiro de 2020. Hoje, ela vale US$ 10,2 bilhões.

Para o analista James Hardiman, da agência de análise de investimentos Wedbush, a empresa tem feito um bom trabalho para minimizar o impacto da crise.

"Entre uma oferta pública de US$ 1,25 bilhão de ações ordinárias e oferta privada de notas totalizando até US$ 3 bilhões, acredito que a Carnival tenha liquidez para cumprir suas obrigações pelos próximos 12 meses, sem a necessidade e recorrer a financiamentos adicionais", escreveu Hardiman, em nota aos investidores.

Mesmo ciente de que o mercado não deva se normalizar ainda esse ano, o analista sustenta a recomendação neutra para a companhia.

Em janeiro deste ano, a Carnival Cruise contava com 104 navios e anunciou que lançaria ao mar quatro novas embarcações ainda 2020. Até 2025, o plano da companhia era estrear outros 16 navios.

A receita da empresa, no ano de 2019, foi de US$ 20,8 bilhões, sendo US$ 2,9 bilhões de lucro. A dívida de longo prazo da companhia estava em US$ 9,6 bilhões.

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