Quando o empreendedor Rodrigo Della Rocca vai explicar o seu negócio a alguém, ele primeiro pergunta se a pessoa ocupa a função de síndico em algum condomínio. Caso escute como resposta um “não, ainda bem”, ele abre um sorriso e devolve logo em seguida. “É esse ‘ainda bem’ que nós queremos resolver.”

Em junho do ano passado, Della Rocca e outros quatro amigos fundaram a CondoConta, uma fintech que se propõe a ser a conta digital PJ dos condomínios, com o objetivo de facilitar a vida de quem tem a ingrata missão de administrá-los e muitas vezes se sente confuso diante da burocracia de um banco tradicional.

De lá para cá, já são mais de mil condomínios como clientes, em um mercado de cerca de 500 mil em todo o Brasil. De olho nesse mar de oportunidades, a companhia acaba de receber um investimento de R$ 10 milhões da Igah Ventures. Este é o terceiro aporte recebido pela CondoConta em sete meses. Os dois primeiros foram feitos pela Redpoint eventures e somam R$ 12,6 milhões.

“Os condomínios estão à margem do sistema financeiro, pois os bancos não entendem que ele, embora seja um CNPJ, não é uma empresa”, afirma, ao NeoFeed, Della Rocca, hoje CEO da fintech, e que antes de empreender estava na Embracon, de administração de condomínios. “O síndico vai a uma agência para abrir a conta e o gerente pede coisas como a relação de sócios da empresa, algo que ele não tem.”

Ao atingir mil condomínios em 2021, a CondoConta antecipou uma meta que estava prevista para ser atingida só no fim do ano que vem. Em 12 meses, são R$ 150 milhões em transações, em um mercado de R$ 250 bilhões. Segundo Della Rocca, o número de condomínios e de volume transacionado têm dobrado a cada trimestre.

Foi essa velocidade que chamou a atenção da Igah Ventures. “Nós já estudávamos o setor há bastante tempo e nunca havíamos visto uma tração tão acentuada”, afirma, ao NeoFeed, Thiago Maluf, diretor da gestora, que investe em empresas como a corretora Avenue, Infracommerce e unico.

Com a nova injeção de recursos, a CondoConta quer impulsionar a expansão pelo Brasil. A empresa está em 25 estados, mas, por enquanto, tem se concentrado mais nas regiões Sudeste e Sul. "Estamos vendo um crescimento grande no Nordeste, em cidades como Salvador, Aracaju e Recife", diz Della Rocca.

Além disso, a companhia quer investir em tecnologias que automatizem ainda mais o trabalho de quem administra os condomínios. "No Brasil, há 15 mil empresas que administram condomínios, que, em geral, são pequenas ou médias empresas, com quase nada de automatização e que, por isso, sofrem para crescer", afirma o CEO da CondoConta.

A CondoConta quer também aumentar a concessão de crédito para financiar projetos nos condomínios. "Hoje, as três maiores demandas que temos para financiamento são: instalação de placas de energia solar; obras e reformas dentro do condomínio, como em academias de ginástica e salões de festa; e automatização de portaria, que representa 50% das despesas de um condomínio", diz Della Rocca.

Os fundadores da CondoConta (da esq. a dir): Igor Sempre Bom, Rafael Costa, Rodrigo Della Rocca, Atílio Borges e Marcelo Cruz (Foto: Andrieli Minatti)

Os condôminos, vale dizer, não terão uma conta corrente no aplicativo da CondoConta. Mas sim um cadastro para poder acompanhar como o condomínio está sendo gerido. Os pagamentos seguirão sendo feitos nos aplicativos de seus respectivos bancos, com boleto emitidos pela CondoConta. Nos últimos 12 meses, foram 100 mil emissões.

Além do financiamento, a CondoConta também oferece ao condomínio outros três produtos financeiros: aplicações de reservas de emergência, contratação de seguros obrigatórios (contra raios, incêndios e explosão) e a chamada receita garantida, por meio da qual a companhia assume as dívidas de condôminos inadimplentes.

Neste último, a CondoConta garante que o faturamento do condomínio se mantenha estável, pagando os valores daqueles que estão em falta, e os condôminos em atraso passam a dever para a CondoConta. A companhia percebeu que, depois que assume as dívidas, a taxa de inadimplência cai, em média, de 15% para 2%.

“Isso acontece, muitas vezes, porque o síndico não cobra, ou porque não tem tempo ou porque existe uma relação pessoal com os vizinhos. Quando nós cobramos, facilita, e o inadimplente pode parcelar o pagamento no cartão de crédito", afirma Della Rocca.

No mercado de condomínios, a CondoConta não será a primeira a oferecer uma conta digital. A Superlógica, empresa que desenvolve softwares de gestão para as administradoras e trabalha com 100 mil condomínios, tem o PJBank. Segundo a companhia, 60% dos clientes utilizam a solução.

Além de concorrer com os bancos tradicionais, de onde quer tirar seus próximos clientes, a CondoConta também compete com bancos digitais que contam com serviços para pessoa jurídica, como Linker e Cora.

"Mas achamos que a CondoConta se diferencia por fazer algo pensado para os condomínios e porque o Rodrigo tem um histórico longo no setor, conhecendo muito bem esse mercado", afirma Maluf, da Igah Ventures.

No setor financeiro, após uma primeira onda de fintechs que surgiram para se diferenciar com produtos básicos, como um cartão de crédito sem anuidade para pessoa física e a abertura de uma conta pelo aplicativo, tem sido mais comum surgirem instituições de nicho, que querem ser o banco de algum segmento específico.

A e-Frete, por exemplo, uma fintech especializada em pagamentos eletrônicos de frete, está se preparando para se tornar o banco dos caminhoneiros, com conta digital e oferta de crédito. Esse é o plano da NSTech, holding que comprou a fintech em setembro.

"São fintechs que estão oferecendo algo que o cliente até pode encontrar em outro lugar (como um banco tradicional), mas vai ter de bater perna para achar as melhores soluções", afirma Fabrício Winter, sócio da consultoria Boanerges & Cia. "Em vez disso, o cliente pode recorrer à fintech de nicho que oferece o pacote completo para o seu segmento."