Em novembro do ano passado, os analistas do BTG Pactual divulgaram um relatório em que diziam que ia levar tempo para a Stone recuperar a credibilidade, apesar de dizerem que eram “grandes fãs” da credenciadora que ficou conhecida por sua maquininha verde.

A decisão de Eduardo Pontes, um dos fundadores da empresa e seu CEO até 2017, que deixou o conselho de administração em março deste ano e decidiu converter sua participação em ações classe B, que dá direito a dez votos, em classe A, que tem apenas um voto, reduziu a confiança dos analistas do BTG Pactual na Stone.

A decisão de Pontes levou a Stone a enviar ao Banco Central do Brasil um requerimento técnico de mudança de controle. A conversão das classes de ações levará a uma redução da concentração de votos dos fundadores – nenhum acionista único terá mais de 50% do poder de voto da companhia.

Em relatório, Eduardo Rosman, Thiago Paura e Ricardo Buchpigue escreveram que, embora admitam que Pontes não administrava o navio há algum tempo (ele é presidente de uma empresa de pagamentos na Europa, a SaltPay, e recentemente deixou o conselho da Stone), “lutamos para não ver as notícias de hoje sob uma luz negativa.”

Antes de escrever o comentário, o trio de analistas do BTG colheu feedbacks com pessoas que tinham uma visão otimista e pessimista sobre a mudança de controle da Stone.

Aqueles que enxergam o copo meio cheio argumentam que Pontes já estava “fora da empresa” há muito tempo. E que, embora a mensagem não seja ótima, pode acelerar as discussões sobre um M&A.

Quem vê o copo meio vazio diz que esse movimento está transformando oficialmente a Stone em uma “corporação”, o que significa que Pontes e Street não querem mais “controlar” a empresa, o que não é um bom sinal.

Para o trio de analistas do BTG Pactual, a dinâmica do segmento de adquirência parece agora mais saudável, com praticamente “todo mundo ajustando os preços”. “Mas o anúncio de hoje nos deixa mais preocupados com o caso de investimento.”

De acordo com eles, a Stone tem um grande grupo de sócios que está na empresa porque acredita na sua recuperação, mas também porque quer fazer “parte do ‘grupo dos capitães’, formado por jovens bilionários cheios de espírito empreendedor.”

Com as ações da Stone caindo quase 90% desde o pico e a mensagem confusa de hoje, eles perguntam: “A equipe toda remará na mesma direção?”

Na visão dos analistas, a Stone precisa ser mais agressiva em aumentos salariais ou em remuneração baseada em ações, por conta do preço mais baixo dos papéis, o que levará a diluição.

“A companhia vem fazendo esforços contínuos nos últimos meses para aprimorar a governança e implementar importantes melhorias nos negócios. Trouxemos novos líderes experientes tanto para a administração quanto para o conselho de administração, aumentamos o percentual de conselheiros independentes de 40% em nosso IPO há quase quatro anos para 90% atualmente”, disse André Street, presidente do conselho de administração, em comunicado divulgado ao mercado.

Os problemas da Stone começaram em agosto do ano passado, quando anunciou ao mercado que problemas no negócio de crédito haviam gerado perdas de quase R$ 400 milhões no balanço do segundo trimestre de 2021.

Desde então, a companhia luta para recuperar a credibilidade do mercado e fez uma série de ajustes em sua governança – André Street, outro dos fundadores, voltou até a participar do dia a dia da empresa em meio à crise.

O CEO da Stone, Thiago Piau, chegou a confessar três erros da empresa no processo de dar crédito em uma reunião com analistas do Goldman Sachs, em setembro do ano passado.

O primeiro diz respeito à prática de dar adiantamentos em dinheiro de um a dois meses para cliente com garantia fraca. O segundo, escalar a operação de crédito em ritmo muito rápido durante a implementação de um novo sistema de recebíveis. E o terceiro, não renegociar com clientes que solicitaram a migração para outras adquirentes.

Apesar da mudança do controle, o BTG Pactual se manteve neutro em relação a Stone, avaliada em US$ 3 bilhões. O preço-alvo 12 meses é de US$ 16 . A ação fechou em queda de 3,19% na Nasdaq, em US$ 9,72. No ano, os papéis caem quase 50%. A companhia vai divulgar o balanço de seu primeiro trimestre amanha, 2 de junho, depois do fechamento do mercado.