O cenário de inflação alta e recessão global está concentrando os debates e painéis sobre as perspectivas a curto e médio prazo da economia do planeta no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que vai se estender até o fim desta semana na cidade suíça.

Apesar do clima pouco otimista, vários entre os 2.700 executivos, banqueiros e economistas presentes em Davos parecem convencidos de que se 2023 dificilmente apresentará uma reversão da tendência de queda da economia global registrada no ano passado, tampouco será marcado por recessão profunda como a de 2007/2008. Ou seja, será um ano perdido, mas longe de ser catastrófico.

Uma série de opiniões de executivos de grandes empresas globais presentes em Davos, colhida pelo site Business Insider, reforçou esse pessimismo moderado e até conformado do meio corporativo em relação a temas como recessão, inflação, mercado de trabalho e países que podem se firmar como alternativa a curto prazo.

"Provavelmente veremos uma recessão técnica, efetivamente com PIB negativo em partes do mundo, provavelmente na Europa, talvez nos EUA, mas não parece que isso será uma recessão severa", afirmou Andy Baldwin, sócio-gerente global da EY.

Paul Knopp, CEO da KPMG, aborda especificamente o cenário nos EUA. Segundo ele, a potencial recessão que pode ocorrer é em grande parte induzida pelo Fed, o banco central dos EUA. Por isso, pode ser muito curta e superficial.

“Vale a pena observar a rapidez com que o Fed vai agir, porque uma recessão induzida pelo banco central em teoria seria mais facilmente revertida do que uma recessão que é devido a coisas fundamentais, que estão erradas com a sociedade e a economia”, ressalta Knopp.

Outro tema abordado pelos executivos foi o mercado de trabalho num cenário de crescimento econômico baixo ou negativo. Fran Katsoudas, diretora de pessoal, política e de propósitos da Cisco, observa que parte das demissões em curso são mais para cortar custos, uma reacomodação após contratações acima da média durante a pandemia.

"Você tem outras demissões que são, na verdade, sobre a transformação de empresas. E acho que, nessa situação, é mais uma discussão de habilidades: como podemos garantir que temos o que precisamos, à medida que avançamos?", questiona Katsoudas.

Mais pessimista, Rima Qureshi, diretora de estratégia da Verizon, diz que o cenário atual é de incerteza.  “Independentemente de ser uma recessão, se estamos lidando com a inflação e quanto tempo ela dura, acho que haverá um longo período de incerteza, seja geopolítica, econômica e ambiental”, afirma Qureshi.

Exagero

A percepção de que a recessão ou crescimento baixo será o esperado na maioria dos países, em especial do Primeiro Mundo, foi confirmada por dois levantamentos divulgados na segunda-feira, 16 de janeiro, ajudando a azedar o clima no primeiro dia do Fórum.

Numa delas, dois terços dos economistas-chefes dos setores público e privado entrevistados pela organização da reunião anual em Davos afirmaram esperar uma recessão global este ano.

Outro levantamento, com 4.410 líderes empresariais entrevistados em outubro e novembro e divulgado em Davos pela PwC, mostra que 73% previram que o crescimento global diminuiria nos 12 meses seguintes.

Chamou mais atenção outro item da pesquisa da PwC, na qual dois em cada cinco líderes expressaram preocupação de que suas empresas não durem uma década.

O próprio presidente global da PwC, Bob Moritz, no entanto, observou que o nível de preocupação revelado na pesquisa “provavelmente foi exagerado”.

Tracy Francis, sócia sênior e líder global de branding, comunicação e marketing da McKinsey, adverte que o cenário de crise de energia e de inflação costuma influenciar o nível de otimismo. Por isso, “mesmo não sendo Pollyanna”, ela prefere enfatizar as tendências macroeconômicas positivas verificadas em alguns países.

“Olhamos para o que está acontecendo em países como Índia e Indonésia e estamos incentivando os clientes a pensar e, como eu disse, não nos convencermos de uma recessão."