Ao longo de apenas um ano e quatro meses de operação, a nstech, holding que está criando uma plataforma de tecnologia logística de cargas rodoviárias da Niche Partners, braço do ecossistema da SK Tarpon, saiu do zero para se tornar uma empresa com 45 mil clientes, 3 mil funcionários e um faturamento que pode chegar a R$ 850 milhões em 2022 através de 19 aquisições.

A nstech, agora, se prepara para uma nova fase ao anunciar como CEO Juliana Tubino, uma tarimbada executiva com mais de duas décadas de experiência no setor de tecnologia para acelerar as operações internacionais da companhia e prepará-la para um possível IPO em 2023.

“Vou reforçar esse posicionamento de uma empresa de tecnologia”, disse Tubino, com exclusividade ao NeoFeed. “As pessoas falam de logística, eu penso em tecnologia para logística. Não me sinto mudando de setor.”

Tubino já era conselheira da nstech desde a sua fundação no fim de 2020. Ela deixa sua posição de Chief Revenue Officer na RD Station, empresa de marketing digital comprada pela Totvs, por R$ 1,8 bilhão em 2021, onde estava há quatro anos. Antes, havia atuado por mais de 20 anos na Microsoft em diversas posições no Brasil e no exterior.

Vasco Oliveira, fundador e CEO da nstech, passa agora a ocupar a função de chairman do conselho de administração, com um olhar mais voltado a M&As e estratégia. “Antes, ela era minha chefe. Agora, o papel se inverteu”, brinca Oliveira.

A nova CEO chega para criar uma cultura mais integrada em uma empresa que cresceu de forma acelerada por meio de aquisições, tem mais de 100 produtos e 28 sócios que vieram das empresas adquiridas, como Buonny, Praxio, BSoft, e-Frete, Trizy, entre tantas outras.

Todas elas operam de forma independente, mas com sistemas integrados, em sete setores verticais, que vão de softwares TMS (uma espécie de ERP para o setor de logística), passando por fintech, marketplace, mobilidade, mercado securitário, gerenciamento de risco até conteúdo e educação.

Uma das missões de Tubino será também usar sua experiência na área de tecnologia para criar uma cultura de dados. Afinal, a plataforma conta com 2 milhões de motoristas, monitora mais de 9 milhões de viagens anuais e passam pelo sistema da companhia mais de 100 milhões de fretes mensais. “Precisamos tirar o melhor proveito desse banco de dados gigantesco”, afirma Tubino.

“É uma ideia extremamente ousada consolidar todos os serviços em uma só plataforma”, afirma Mauro Schlüter, professor de logística do Mackenzie. “O sucesso só irá vir na medida em que a nstech propor produtos e serviços que sejam melhores e mais baratos. O transporte de carga trabalha com margens muito apertadas.”

Expansão internacional e IPO

Atualmente, a nstech está em quatro países da América Latina, além do Brasil, com equipe própria: México, Colômbia, Peru e Equador. E conta também com clientes em Angola e Bolívia. “No curto e no médio prazo, estamos focados na expansão na América Latina”, afirma Oliveira.

O plano de expansão, agora sob a batuta de Tubino, passa por entrar em mais países da região latino-americana, mas também por levar mais serviços àqueles que já estão em operação. “Eles estão 10 anos a 15 anos atrás do Brasil na questão de tecnologia”, diz Oliveira. Aquisições para acelerar essa expansão estão também no radar da nstech.

Mas a visão de longo prazo da companhia é ter uma presença global, não se restringindo à América Latina. “Temos claramente, dentro do nosso portfólio, produtos para ir para os Estados Unidos e Europa. Mas não fazemos isso agora por questão de foco”, afirma o fundador da nstech. “Mas chegaremos lá. Não sei apenas se será em três anos ou cinco anos.”

Antes de desembarcar nos Estados Unidos com uma operação própria, a nstech deve chegar ao território americano através da abertura de capital na bolsa de valores. Oliveira diz que a empresa está pronta para fazer um IPO em 2023 e que, apesar de o martelo não estar 100% batido, a maior chance é de que ocorra fora do Brasil.

De acordo com o fundador da nstech, a companhia já tem tamanho para realizar uma abertura de capital. Mas não fará agora não só porque o momento do mercado é ruim, mas também porque há ainda algumas lições de casa a fazer.

O fundador da nstech Vasco Oliveira é, agora, o chairman do Conselho de Administração

“O IPO pode ser mais uma ferramenta de M&A, usando a ação”, diz Oliveira. “E para dar liquidez para um eventual novo sócio”. Mas o empreendedor avisa: nenhum dos atuais sócios quer sair em uma abertura de capital.

Além da SK Tarpon, que controla a empresa, a Greenbridge, gestora de private equity fundada pelos suecos Ola Rollen e Melker Schorling, tem uma fatia de 27% na nstech.

A gestora sueca entrou na empresa em julho do ano passado, quando a Praxio, uma empresa de software para transportadores, foi comprada pela nstech. A Greenbridge era acionista desta companhia.

Na ocasião, a SK Tarpon fez um aumento de capital de R$ 500 milhões na qual a Greenbridge participou. Esse dinheiro está acabando e Oliveira diz que estuda mais uma rodada de “funding raising”, que pode acontecer antes do IPO.

Startup?

A nstech é uma novata, mas será que pode ser considerada uma startup?  “Aqui temos um frio na barriga de startup, no bom sentido”, diz Tubino. “Estamos comprando empresas de diversas portes que complementam a plataforma.”

No rol de aquisições que quase chega a duas dezenas, a companhia fundada por Oliveira adquiriu empresas dos mais variados portes – e, às vezes, concorrentes entre si.

Um exemplo de empresa madura que faz parte do portfólio da nstech é a Brasil Risk, uma das principais empresas brasileiras da área de gerenciamento de risco, fundada em 2006. Buonny e Opentech também atuam na mesma área da Brasil Risk. A diferença são os clientes, os setores ou o porte das empresas que atendem.

A Brasil Risk, por exemplo, atua prestando serviços para operações mais complexas de embarcadores e grandes transportadoras. Seus principais clientes estão na área de eletrônicos e bens de consumo.

A Opentech, por sua vez, tem sua força com o monitoramento de operações de empresas com produtos frigorificados e farmacêuticos. Já a Buonny opera com pequenas e médias transportadoras.

Por outro lado, a nstech se aventura a ter também empresas iniciantes, com cara e jeito de startup. É o caso da Trizy, empresa de logística controlada pela Cosan, da qual comprou uma fatia de 20% em janeiro deste ano. As soluções da Trizy são usadas por mais de 100 mil caminhoneiros no Brasil e 25 mil transportadoras

A e-Frete, uma fintech que tinha uma base de 80 mil caminhoneiros e 11,5 mil transportadores na época do negócio no ano passado, vai ajudar a nstech a criar um “banco do caminheiro”. A conta digital será lançada em breve em uma parceria com a Matera e deve trazer algumas novidades, que são guardadas a sete chaves.